Não é preciso ser especialista em fotografia para conhecer e se impressionar com os retratos de Sebastião Salgado, cuja essência evoca denúncia social e resgata a dignidade humana. O trabalho do fotógrafo, que já percorreu o mundo, pousa, agora, em Brasília, com a exposição Trabalhadores, no SesiLab. Na seleção, há 150 fotografias com uma visão ampla e impactante do universo do trabalho em diferentes localidades.
Após um intervalo de mais de 20 anos desde a primeira montagem no Brasil, a mostra entra em cartaz a partir deste sábado (26/8) e poderá ser visitada até 28 de janeiro de 2024. A escolha do tema da exposição, segundo Claudia Ramalho, gerente-executiva de Cultura do Sesi, se deu em conformidade com a decisão sobre o primeiro tema anual — que conecta atividades e convida o público a refletir — do espaço: o mundo do trabalho.
Desenvolvida a partir de viagens realizadas entre 1986 e 1992, Trabalhadores retrata um período em que o trabalho manual foi o eixo central da vivência de mulheres e homens. A exposição apresenta o resultado das buscas do fotógrafo em representar os processos manuais de produção ainda existentes, antes que desaparecessem completamente.
No SesiLab, Sebastião Salgado será o primeiro artista a expor na galeria de exposições temporárias. A curadoria e o design da mostra são de Lélia Wanick Salgado. Neste final de semana, a partir das 15h, haverá um conjunto de atividades acopladas ao objetivo da exposição. Neste sábado (26/8), Juliano Salgado, filho de Sebastião Salgado, estará presente para a exibição do documentário O sal da Terra e depois irá bater um papo com o público.
História de uma era
Em um painel, na entrada da exposição, há um relato de Lélia que destaca o quanto a natureza do trabalho tem mudado, como resultado da acumulação de realizações intelectuais, técnicas e científicas. "São os seres humanos os principais autores desta transformação: refletindo sobre o trabalho, não mais se contentam em apenas trabalhar como na era da Revolução Industrial, mas mudam a relação física do homem com as máquinas, as ferramentas e, enfim, com os produtos", pontuou a curadora.
Entre os registros de Trabalhadores, estão reunidas fotografias que mostram a ancestral pesca de atum na Sicília; a aventura de garimpeiros de Serra Pelada e o cotidiano de trabalhadores nas plantações de cana no Brasil; os combatentes de incêndios em poços de petróleo no Kwait e as famílias indianas envolvidas na construção de barragens para irrigação.
Arquiteto e coordenador-geral das exposições de Sebastião Salgado no Brasil, Álvaro Razuk explicou que muitas relações precárias de trabalho, expostas na mostra, ainda perduram. "Muitas fotos continuam atuais, dado a persistência da precarização. Com frequência, assistimos as notícias de trabalhos análogos à escravidão no Brasil", ressaltou.
Apesar das legendas não explicitarem que, em muitas dessas relações, há exploração, é possível inferir tal informação pela forma como os personagens são retratados, quase sempre exaustos ou em vulnerabilidade. O coordenador-geral das exposições contou que a exposição tem uma sequência narrativa, estruturada em seis espaços, da mesma forma como o livro Trabalhadores foi dividido. Cada seção de quadros é iniciada por um texto explicativo, responsável por contextualizar o público em relação ao local, a época e ao tipo de trabalho mostrados nas imagens.
Admiração
Para o editor de vídeo Mayson Rezende, 28 anos, o mais encantador nas obras de Sebastião Salgado é, certamente, a maneira como o fotógrafo mostra personalidade em suas imagens. "É como se a gente tivesse fotometrando com ele, ficamos imersos em cada foto. Acho incrível como ele se envolve com as histórias de cada personagem também", comentou, referindo-se ao recurso de colocar o objeto (ou o personagem) em primeiro plano, característica das imagens de Sebastião.
A fotógrafa Luana Lleras, 37, teve contato com o trabalho do fotógrafo na faculdade e, de cara, já ficou fascinada. "As pessoas, nas obras dele, são sempre muito expressivas e bem humanizadas". Outra admiração diz respeito à mudança de profissão. "Acho fantástico ele ter começado a fotografar perto dos 30 anos, depois de sair da economia e tornar-se um profissional desta arte. Me identifico", detalhou. "Combinei de ir com vários grupos de amigos, afinal, é uma sensação incrível poder ver cada detalhe das obras. Como fã, eu não poderia perder essa oportunidade", concluiu.
Interatividade
Até julho deste ano, 167 mil visitantes já passaram pelo SESI Lab, desde a abertura, em dezembro, segundo Claudia Ramalho. Em 2024, o tema anual bioeconomia. "Nosso objetivo é inspirar as pessoas a pensarem em possibilidades de futuro", disse.
Programação
Trabalhadores, de Sebastião Salgado
Quando: 26 de agosto de 2023 a 28 de janeiro de 2024
Horário: 9h às 18h
Local: Sesi Lab, próximo a Rodoviária do Plano Piloto
Observação: nos dois primeiros dias, a entrada será gratuita para todos. Depois, R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia; gratuito somente para crianças de até 10 anos, pessoas com deficiência, público em situação de vulnerabilidade social, trabalhadores da indústria do Sistema Indústria, professores e alunos da rede SESI e SENAI e da rede pública de ensino e membros associados do Conselho Internacional de Museus (ICOM).
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