Silêncio é a palavra que resume o depoimento de Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). A falta de respostas foi tamanha que frustrou até mesmo o relator, Deputado Hermeto (MDB), que desistiu de fazer perguntas.
Frente à recusa de Cid em responder até mesmo questões básicas sobre sua participação no governo Bolsonaro e sobre o 8 de janeiro, o auditório do Plenário da Casa ouviu um discurso em tom de lamentação por parte do relator.
Após relembrar sua carreira dentro da Polícia Militar (PMDF), Hermeto criticou a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), a qual disse ainda ser influenciada por um clima de eleições. "Não somos igual à outra Comissão, em que um fala uma coisa, outro diz outra, etc. Abrimos caminho para uma CPI séria. Queremos fazer um relatório conciso", criticou.
O relator, visivelmente frustrado com a postura de Cid, expressou sua insatisfação com a situação e disse que o ex-ajudante de ordens perdeu a chance de expor seu lado sobre as questões-tema da CPI. "Não vou intercalar o senhor com perguntas. Era uma chance que o senhor tinha de falar e se defender", disse.
Silêncio ensurdecedor
A postura de Mauro Cid não apenas surpreendeu os membros da Comissão, mas também gerou discussões acaloradas. Em determinado momento, o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT) , criticou essa escolha. "É um direito permanecer em silêncio, mas isso já fala muito", cravou.
Apesar da frustração gerada pelo silêncio de Cid, o tom geral da fala dos membros da comissão foi de que a postura é uma afronta à transparência e ao dever de prestar esclarecimentos à sociedade sobre uma suposta tentativa de golpe de estado.
Mauro Cid segue prestando esclarecimentos à CPI dos Atos Antidemocráticos. Ele já depôs à CPMI do Congresso Nacional, onde também permaneceu calado.
O tenente-coronel é investigado pela Polícia Federal (PF) em escândalos como o das joias sauditas, falsificação dos cartões de vacinação e o plano golpista para anular o resultado das eleições de 2022. Cid está preso desde 3 de maio, no Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília.
*Estagiário sob supervisão de Nahima Maciel
Reportagem de Carlos Silva