De Athos Bulcão a Oscar Niemeyer, Brasília é um cenário à parte. Em celebração ao Dia do Patrimônio Histórico e Cultural, comemorado em 17 de agosto, o Palácio do Itamaraty criou o projeto Dia de Portas Abertas, para que o público, tanto da capital federal quanto de outros lugares, pudesse conhecer os acessos e espaços do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF), do Palácio do Planalto e do próprio Itamaraty. O dia de visitação aconteceu neste sábado (19/8).
A iniciativa com o lema "conhecer para preservar" tem como principal intuito criar uma relação da sociedade com os bens culturais do Distrito Federal, em especial após os ataques de 8 de janeiro, que trouxeram à luz, ainda mais, a importância desse tema. Coordenadora-geral de Patrimônio Histórico do Itamaraty, Yukie Watanabe, acredita que eventos como esse são essenciais. E, mais do que isso, simbolizam um novo começo nessa busca por conhecimento. "Queríamos mostrar, também, como funcionam os edifícios e o uso de cada um deles. Isso para que os órgãos se tornem mais conhecidos pelos visitantes", revelou Yukie. O percurso possibilitou acesso a áreas restritas, como os gabinetes do ministro e da secretária-geral.
A programação contou com áudio-guia e informações disponíveis via QR Code. As visitações ocorreram das 9h às 17h, cada uma com duração de 30 a 35 minutos. Apaixonado por cada detalhe do espaço, Kevin Eduardo dos Santos, 24 anos, formou-se em história recentemente. Para ele, entender um pouco os marcos do começo de Brasília é um privilégio. "Moro em Ceilândia, um local distante da parte central. Por isso, a gente precisa se aproximar daqui. Vi a divulgação do evento e me senti na obrigação, como historiador, de saber um pouco mais sobre a capital do país. É um verdadeiro museu a céu aberto", acrescentou o jovem, que admirou as obras, visitou o salão de reuniões e apreciou o jardim desenhado por Burle Marx. Um tour que Kevin e outros 1,4 mil visitantes jamais vão esquecer.
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Emoção
No Congresso Nacional, mais de 992 pessoas marcaram presença no local. De acordo com Ronaldo Martins, coordenador de visitação institucional do Senado, a ideia de que os quatro Palácios abrissem as portas no mesmo dia nasceu para valorizar o patrimônio público de Brasília. "O 8 de janeiro foi muito marcante para todos os órgãos. Houve muitas depredações. O entendimento é de que aquilo foi um ataque à democracia", completa.
Diretamente de São Paulo, o casal Natália Alves, 27, e Estêvão Andrade, 33, pisavam em solo brasiliense pela primeira vez. A magnitude dos prédios, a arquitetura e os edifícios impressionaram ambos. Na visitação, o deslumbre foi o mesmo. "Estou bastante impactado e até mesmo emocionado com tamanha dimensão", destaca o representante comercial.
A gestora pública também descreve a emoção em estar no Congresso Nacional. "Eu sempre quis estar aqui, no coração do setor público brasileiro. É um lugar muito imponente, bonito e organizado, ainda mais relembrando tudo o que aconteceu no começo do ano", finaliza Natália. Esse vínculo, de certa forma, se torna fundamental para que as novas gerações saibam de onde vieram.
Para Nissara Schedler, 34, funcionária pública em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, esse estereótipo de que os órgãos são inacessíveis precisa acabar. Afinal, a história que existe ali também é do povo. "Independentemente de opinião política, isso é um palco muito importante para o brasileiro. A gente tem uma imagem de um lugar que não conseguimos entrar ou chegar perto. Achei muito bacana a visita, tudo organizado e gratuito", ressalta.
Memória
O STF, um dos órgãos mais atingidos pelos ataques à democracia no começo do ano, teve cadeiras, móveis, objetos e peças extremamente comprometidas. O custo para cobrir os prejuízos, até agora, está em R$ 11,4 milhões, segundo a assessoria de imprensa da Corte. No entanto, ainda existem alguns itens que precisam de reparos. Outros, porém, ilustram os acessos do local. Ainda que quebrados, estão expostos para lembrar que a democracia venceu.
O médico Pablo Gonçalves, 38, veio de Caxias, no Maranhão, para acompanhar a tour nas dependências do STF e ficou surpreso. Na televisão, imaginava que o cenário fosse diferente, talvez maior. "Muito lindo, bonito. Acompanhei a depredação de casa. Depois de ver tudo reformado, não tenho palavras", finalizou.
Leandro Grass, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), acredita que continuar investindo em trabalhos como esse pode ajudar a ditar o futuro do Brasil. "Temos programas feitos em escolas, com crianças e adolescentes. Não somente em relação aos palácios, mas aos patrimônios em outros locais, como Planaltina e Ceilândia", revela. Leandro destaca que 80% dos bens depredados foram recuperados, "motivo de muito orgulho".
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