8 DE JANEIRO

Naime e Casimiro criticaram contenção de acampamento bolsonarista; leia

Mensagens obtidas em investigação da PGR mostra que a cúpula da PMDF, alvo de operação da PF, se alimentava de expectativas de golpe

Mensagens obtidas em investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR) revelam que a cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), alvo de operação da Polícia Federal nesta sexta-feira (18/8), esperava intervenção militar nas eleições, acreditavam em teorias conspiratórias e mostravam viés ideológico, com tendência para a direita.

Entre áudios editados que afirmam que o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes era “advogado de facção” e que as eleições já estariam “armadas” e figurinhas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que citavam uma “carta na manga”, a cúpula se alimentava de informações falsas e de expectativas por um golpe.

Uma das conversas citadas pelo órgão ocorreu em 2 de novembro de 2022 e mostra a insatisfação compartilhada pelo coronel Jorge Eduardo Naime e o major Marcelo Casimiro Vasconcelos com a movimentação do Exército em conter a expansão do acampamento em frente ao Quartel General do Exército em Brasília.

Casimiro informou a Naime que o fluxo de pessoas no acampamento estava aumentando e enviou vídeos do local. O major informou, ainda, que havia um carro de som “pedindo para os manifestantes não irem embora”. Em resposta, Naime disse para “deixar os melancia se virar”.

O termo melancia se refere a militares do Exército que, embora tenha a “casca verde” (farda), são “vermelhos”, ou seja, eram adeptos da esquerda. Casimiro concorda e em seguida Naime acrescenta: “eu não tinha feito nem o bloqueio na entrada, mas o geral mandou”, em referência ao comandante-geral da PMDF na época, Fábio Augusto Vieira.

Para a PGR, as conversas revelaram que o "alinhamento ideológico e de propósitos" entre os oficiais e "aqueles que pleiteavam uma intervenção das Forças Armadas” teriam influenciado as ações da força de segurança, que falhou ao impedir a invasão da Praça dos Três Poderes.

Confira abaixo outras mensagens captadas pela PGR:

Klepter Rosa encaminhou mensagem que falava sobre intervenção militar

Em 28 de outubro de 2022, dois dias antes do segundo turno das eleições presidenciais, o então subcomandante-geral da PMDF coronel Klepter Rosa, preso na operação desta sexta-feira (18/8), enviou, “sem qualquer contexto”, um vídeo que reproduz a tela do Whatsapp em que mensagens de voz são reproduzidas. O conteúdo das mensagens ofende Alexandre de Moraes e afirma que a intervenção militar será colocada em prática.

“Na hora que der o resultado das eleições que o Lula ganhou, vai ser colocado em prática o art. 142, viu? Vai ser restabelecida a ordem, se afasta Xandão, se afasta esses vagabundo tudinho e ladrão, safado, dessa quadrilha…”, diz uma parte da mensagem.

“Rapaz, vocês tem que entender o seguinte: o Bolsonaro, ele está preparado com o Exército, com as Forças Especi… As Forças Armadas, aí, para fazer a mesma coisa que aconteceu em 64. O povo vai pras rua, que ninguém vai aceitar o Lula ser... Ganhar a Presidência, porque não tem sentido, o povo vai pedir a intervenção e, aí, meu amigo, eles vão nos livrar do comunismo novamente”, diz outro trecho.

Horas depois, a mesma mensagem foi enviada pelo então comandante-geral Fábio Augusto Vieira ao coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos, comandante do 1º Comando de Policiamento Regional, que é responsável pela segurança das áreas da Esplanada e da Praça dos Três Poderes.

“Precisamos de uma intervenção federal, com a manutenção de Bolsonaro no poder”

Após a derrota de Bolsonaro, Casimiro e Fábio Augusto Vieira intensificaram a troca de mensagens com conteúdo golpista. Em 1º de novembro de 2022, Casimiro encaminhou uma mensagem que fala sobre a diferença entre o artigo 142, a intervenção militar e a intervenção federal. No fim, há uma convocação. “Precisamos de uma intervenção federal com a manutenção de Bolsonaro no poder!”.

No mesmo dia, Casimiro enviou a Fábio um vídeo em que Luciano Hang afirma que os ministros do STF e Lula serão presos e que “As Forças Armadas vai tomar conta e formar um Supremo Tribunal formado por juízes militares”. Em resposta, Fábio disse que “a cobra vai fumar, mesmo que não seja verdade”.

No mesmo dia, Casimiro compartilhou um vídeo que Bolsonaro caminha sorridente com uma legenda “a cara de quem tem as cartas na manga”.

“Não comprova, mas vai acirrar os ânimos”

Em 4 de novembro, Casimiro encaminhou a Fábio Vieira links, vídeos e imagens sobre fraudes nas urnas. Ele deixou claro que “pode não comprovar nada”, “mais (sic) vai acirrar os ânimos e vão ter que dar alguma explicação”.

Para a PGR, a atitude é grave. “Embora ciente de que a informação poderia ser falsa e sem aptidão para embasar alegações de fraude eleitoral, CASIMIRO tinha a expectativa de que a difusão de mensagens fraudulentas poderia insuflar os ânimos de parte da população, em momento de instabilidade institucional”, pontua o órgão no relatório.

“Única chance” seria “Bolsonaro com apoio das FA frear STF”

Outros dois denunciados e alvo da operação desta sexta (18/8), Flávio Silvestre de Alencar e Rafael Pereira Martins, integravam um grupo no Whatsapp chamado “Oficiais da PMDF”, no qual mensagens sobre fraudes em eleições e estratégias para impedir a posse do presidente eleito eram trocadas.

Flávio também compartilhava teorias conspiratórias sobre eleições em conversas individuais. “Ilusão acreditar em eleições limpas”, disse a um oficial identificado como Marcio Gomes BPChoque. Em resposta, o militar disse que a “única chance” seria o “Bolsonaro com o apoio das Forças Armadas frear os desmandos do STF e restabelecer a ordem, marcando novas eleições com voto auditável”.