Prejuízo para quem é roubado e lucro para o mercado clandestino de peças, o roubo de carros representa 81% das ocorrências de subtração de veículos, é o que aponta dados da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) obtidos pelo Correio, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Em todo o primeiro semestre de 2023 foram 647 veículos de todos os tipos, sendo 524 automóveis. O número de motocicletas subtraídas — em segundo lugar no ranking — teve queda de 92 para 78 unidades.
Nos primeiros seis meses do ano passado, a PCDF registrou 786 ocorrências. Queda de 17% no total de ocorrências na comparação com o mesmo período deste ano. Entretanto, o sentimento de perda para quem é roubado, esse, não diminui. Na última quarta-feira, o Fiat Punto branco do DJ Guilherme David, 26, entrou para a estatística deste segundo semestre. Ele teve o carro roubado por cinco suspeitos dentro de uma Hyundai Tucson preta.
Por volta das 2h30 ele jantou no bar de um amigo, em Ceilândia Norte, e saiu para tocar em uma festa em uma boate de Taguatinga Norte. O assessor dele estava na direção do carro e o artista no banco do passageiro. "Quando fomos atravessar uma rua para sair do estacionamento, entrou a Tucson e os cinco bandidos dentro do veículo ficaram me encarando. Eles desceram e um dos bandidos me deu espetada, na cabeça, com a ponta pistola, quando abri a porta", relata o morador de Taguatinga.
Acostumado a abastecer o carro com gasolina, Guilherme colocou álcool no tanque do carro nesse dia, e o veículo deu partida somente na quarta tentativa quando eles tentavam sair do assalto. "Voltamos a pé para o bar e fui registar o boletim de ocorrência na 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro). No dia seguinte, recuperei todos os meus equipamentos de trabalho, computador, microfone, bases de apoio, microfone e mesa controladora, que custam em torno de R$ 14 mil", detalha.
No dia seguinte, Guilherme conta que quatro suspeitos envolvidos no crime foram presos por participação no roubo, mas o homem que agrediu ele com uma arma está foragido. O DJ ainda teve a chave do carro quebrada e uma bolsa com 10 fios de equipamentos roubada, o que gerou um prejuízo de R$ 400, após o crime em Ceilândia. Na região, terceira com mais prisões no DF, 13 pessoas foram parar atrás das grades por roubo de veículo no primeiro semestre de 2023. Depois vem Santa Maria, com 14 presos, e, em primeiro, está Samambaia, que registrou 18 pessoas detidas.
Pontos de insegurança
Diretor da Divisão de Repressão a Roubos e Furtos de Veículos da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (DRFV/Corpatri), delegado Guilherme Sousa Melo, confirma que esse tipo de crime ocorre com maior frequência no centro de Brasília, em Taguatinga, Ceilândia e em Samambaia.
Segundo ele, há duas finalidades principais para o cometimento do delito: uso do veículo para outros crimes e a revenda de peças para custear o tráfico de drogas em outros países. O investigador garante que os criminosos costumam procurar a vítima sem definir o tipo do veículo pela urgência de conseguir dinheiro com a venda do automóvel.
Guilherme recomenda uma atenção redobrada às pessoas suspeitas ao redor, evitem ficar parados em lugares sem vigilância e mantenham atenção com colisões acidentais que podem mascarar algum tipo de golpe. "Quando sofrer alguma colisão, antes de descerem para conversar com a pessoa, ligue o celular em uma chamada ativa com alguém de confiança e mantenha escondido no bolso para ela saber o que está acontecendo", aconselha o delegado da Corpatri.
Na contramão de outras ocorrências, o roubo de caminhonetes tiveram aumento de 19%. No comparativo, foram 31 roubos no primeiro semestre do ano passado e 37 no mesmo intervalo de tempo deste ano. Segundo a Polícia Civil do DF, ainda, de janeiro a junho de 2023, dobrou a quantidade de roubo de caminhão. O número subiu de 3 para 6 casos.
Acompanhando a queda na quantidade de roubos de veículo, o número de presos em flagrante por esse tipo de crime também diminuiu. O número foi de 180 para 137 criminosos detidos no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2022, gerando uma redução de 23%. De janeiro a junho de 2021, o número era maior: 208 suspeitos atrás das grades.
Localização de veículos
Dados da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) mostram que, no primeiro semestre deste ano, houve mais de 3,3 mil furtos em veículos — objetos subtraídos dentro do automóveis —, o que significa uma diminuição de 17,3% em comparação com o mesmo período de 2022.
Por sua vez, quando se trata da localização de veículos furtados ou roubados no Distrito Federal, entre janeiro e julho de 2023, as forças de segurança registraram mais de 1,3 mil ocorrências. Em 2022, foram quase 3 mil casos dessa natureza, contra 3,2 mil em 2021, o que gerou redução de 8,2% de um período para o outro. Desde 2018, a SSP informa que houve mais de 22 mil veículos recuperados no DF.
Em 6 de junho deste ano, o professor de educação física Philipe Joás Gomes, 27 anos, virou uma das vítimas de furto de veículo. Ele estacionou o Vectra prata em frente a uma academia do Recanto das Emas e foi dar aula. Uma hora depois, saiu da unidade e não achou mais o carro, que era do pai dele. Vítima do crime, ele confirmou o furto três dias depois, quando o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) foi acionado para combater um incêndio em uma área de mata próxima às quadras 305/306, da região, a 700 metros da 27ª DP (Recanto das Emas), e localizou o carro dele.
"Pegaram algumas peças do carro, como pneu, roda e para-choques, provavelmente para vender, e deixaram a carcaça em um matagal perto da delegacia. Lá, tinha outros carros queimados também", lembra o morador da cidade. O personal conta que registrou boletim de ocorrência na unidade, mas a Polícia Civil não conseguiu identificar os suspeitos do furto. "Agora, tenho andado de ônibus e me planejo com muito mais antecedência de me locomover de um lugar para o outro para dar as aulas", complementa Philipe.
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