De viadutos a prédios residenciais, em diversas regiões do Distrito Federal, é possível observar que reformas e edificações não param na cidade, que ainda mantém a característica de "uma Brasília em construção". Há quem reclame de transtornos que algumas dessas intervenções — especialmente as que afetam o trânsito — causam, mas é pela ótica do aquecimento da economia local, com a geração de emprego e renda, que trabalhadores, empresas e especialistas observam, de forma positiva, o cenário atual de retomada das obras espalhadas pela capital federal.
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De acordo com a engenheira civil, mestre e doutora em geotecnia e coordenadora das engenharias do Ceub, Maruska Bueno, é um cenário de muito êxito. "Quanto mais obra tivermos, mais emprego direto e indireto serão gerados no DF", celebra a especialista. Ela explica que os empregos diretos são aqueles que têm uma relação imediata com o processo executivo da obra, como os operários, o engenheiro, todos que estão envolvidos com a execução do serviço; já os indiretos são aqueles gerados por meio das compras feitas para realizar a obra. "Então, as empresas que vendem os produtos — cimento, areia, etc. — estarão empregadas indiretamente nesse processo construtivo", detalha.
A engenheira esclarece que a construção civil movimenta recursos financeiros em grande escala que se revertem em renda tanto no processo executivo quanto no pós-obra, ou seja, no uso daquela edificação ou daquela obra que foi executada. "Em uma rodovia, por exemplo, imagina a quantidade de profissionais que não se envolvem naquela obra e, posteriormente, imagine as possibilidades que essa rodovia não vai gerar na ligação entre as cidades para o transporte de grãos, entre outros insumos. Então, é fato e notório que as obras públicas ajudam imensamente a aquecer o mercado como um todo", aponta Maruska.
Atividade essencial
De 2021 até julho deste ano, de acordo com o Governo do Distrito Federal (GDF), 2.595 postos diretos e 7.300 indiretos foram criados por conta dos serviços públicos, como a construção do Túnel Rei Pelé, em Taguatinga, e de viadutos em Sobradinho e no Sudoeste, por exemplo. Ao Correio, a Secretaria de Obras disse que, no período de 2021 a julho de 2023, foram investidos cerca de R$ 1,3 bilhão na realização de 23 obras. Daquelas que são de responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF), no mesmo período, foram 56 obras de médio e grande porte pelo DF, sendo que 16 ainda estão em andamento. Para 2024, de acordo com o órgão, estão previstas obras como: a restauração da DF-345, a duplicação da DF-451, melhorias de segurança na DF-128 e passarelas em rodovias do sistema rodoviário do Distrito Federal.
Mas não é só no setor público que existem obras em andamento. Segundo dados do Ministério do Trabalho, por meio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), pouco mais de 70 mil pessoas estavam empregadas formalmente na construção civil na capital do país, até junho de 2023 — o número segue uma crescente desde o início do ano. No DF, o setor gerou, somente no sexto mês do ano, um saldo positivo de 637 postos de trabalhos formais — ou seja, vagas que se mantiveram entre admissões e desligamentos no período. Na indústria, por exemplo, esse saldo foi de apenas 23.
Segundo Eduardo Aroeira, sócio-diretor de uma construtora privada, são estimados cerca de 2 mil empregos diretos e indiretos durante as obras de um empreendimento da companhia, no Setor Noroeste, e quase 1,1 mil novos postos de trabalho em outra obra da empresa, em Águas Claras.
Adalberto Valadão Júnior, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-DF), afirma que o setor representa mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria do DF. "Ele movimenta toda uma cadeia complexa e ampla, como a de materiais, mobiliário, decoração, transporte e etc.", explica. Ele ressalta que o setor imobiliário, em especial, teve um bom momento durante a pandemia. "O setor foi considerado atividade essencial, de forma que pôde trabalhar sem interrupções. O mercado cresceu, pois, passando mais tempo em casa, as pessoas acabaram ressignificando o imóvel, buscando mais espaço, mais conforto, o que acabou aquecendo as vendas", observa. "Hoje, as atividades ainda estão aquecidas, muitas obras públicas foram retomadas e novas se iniciaram", pontua.
O presidente do Sinduscon-DF vai além dos números sobre as vagas formais e diretas e assinala a importância social do setor. "Considerando toda a cadeia, esse número torna-se ainda mais relevante. Mais do que isso, o setor da construção emprega a camada mais vulnerável da população, aqueles com baixa qualificação e que, também por conta disso, dificilmente teriam oportunidade em outras áreas", observa.
Estabilidade
O maranhense Genildo Pereira, 40 anos, veio do Nordeste, há pouco mais de dois anos, em busca de uma oportunidade após vivenciar uma realidade de bicos e dificuldades. "Assim que cheguei, vim entregar meu currículo, e disseram para eu fazer logo o teste. Desde então, estou trabalhando como armador, que é a minha área", comenta. Segundo o trabalhador, foi graças ao novo emprego que ele conseguiu se estabilizar e, dois meses após iniciar como armador na obra do viaduto do Riacho Fundo, conseguiu trazer a esposa e a filha do Maranhão.
Assim como Genildo, o encarregado Diego da Silva, 34, também viu nas obras uma oportunidade para melhorar a situação financeira. O morador de Águas Lindas conta que estava parado há cerca de três meses. "Junto à minha esposa, até tínhamos uma venda de roupas, mas não era o suficiente para tudo. Estava devagar", desabafa ele, que está trabalhando há sete meses no serviço de recapeamento do Pistão Sul.
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