MEMÓRIA

Crônica da Cidade: do primeiro ao último encontro

"Ler, reler, reconstruir e redescobrir caminhos na escrita. O domínio da língua portuguesa nos permite viver essas trajetórias, e esse foi apenas um dos importantes ensinamentos que Dad Squarisi nos deixou"

Meu primeiro encontro com Dad Squarisi ocorreu quando eu ainda era uma estudante de jornalismo. Ela generosamente aceitou receber a mim e à colega de curso que me acompanhava para uma entrevista na sala de editoria de Opinião. Tento puxar na memória o motivo da conversa e, pelo pouco que me recordo, creio que estávamos buscando descrever as origens e as principais características de um editorial.

Fiquei nervosa com a possibilidade de estar próxima daquela jornalista e professora que eu conhecia da tevê. Lembro-me de tê-la visto num jornal local, mostrando erros de português cometidos até mesmo em placas de sinalização de trânsito. Ainda hoje, quando me deparo com uma crase errada nas fachadas dos prédios ou à beira de estradas é dela que me lembro e sinto que não estou sozinha ao encarar o emprego da língua portuguesa de maneira tão criteriosa.

Mais tarde, quando voltei ao Correio como repórter, a amizade dela com Ana Sá, minha primeira editora no jornal, acabou nos aproximando também. Fui convocada para cobrir a emblemática palestra sobre como escrever uma redação nota mil — uma das centenas que Dad apresentou na carreira, durante uma feira de estudantes aqui em Brasília.

Iniciei a construção do texto sentada na plateia, digitando no celular. Os últimos ajustes foram feitos no computador da redação. Revisei incansavelmente, com medo por duas questões: a primeira era cometer um equívoco justamente no texto que deveria trazer dicas e orientações para que os estudantes se saíssem bem em provas que poderiam garantir a eles o acesso ao ensino superior. O segundo, como podem imaginar, era o temor de que Dad, ao ler a matéria, encontrasse algum erro.

A professora, porém, elogiou a escrita e disse à minha editora que não encontrou nem uma vírgula fora do lugar. Aliviada e lisonjeada com o reconhecimento, deixei escapar a minha preocupação e todo o cuidado que havia dispensado à construção do texto. Dad, ainda na linha com Ana Sá, lembrou imediatamente que eu deveria escrever com o mesmo rigor sempre, pois é o que o leitor merece. E estava, claro, coberta de razão.

Ler, reler, reconstruir e redescobrir caminhos na escrita. O domínio da língua portuguesa nos permite viver essas trajetórias, e esse foi apenas um dos importantes ensinamentos que Dad Squarisi nos deixou. Nosso último encontro ocorreu de maneira virtual, para a gravação do podcast em homenagem aos 63 anos de Brasília e do Correio. Ela me cumprimentou com ternura e entusiasmo. Tinha esse dom de nos fazer sentir especiais.