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Violência doméstica: juíza detalha ciclo das agressões às mulheres

Em entrevista no CB.Poder, a juíza Fabriziane Zapata, do TJDFT, fala sobre a fase da lua de mel no ciclo de violência doméstica. "A cada vez que essa mulher volta, a violência seguinte é mais grave que a anterior"

Fabriziane Zapata, juíza do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), é a entrevistada desta sexta-feira (11/8) do CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília. Em entrevista aos jornalistas Mariana Niederauer e Carlos Alexandre de Souza, a juíza, uma das coordenadoras do Núcleo Judiciário da Mulher (NJM), explica sobre o fenômeno da "espiral da violência", bem como opina sobre os avanços e desafios do combate ao feminicídio na atualidade. 

Há diversas frentes de atuação do NJM para o combate à violência doméstica que, segundo Fabriziane, são amplas e divididas em eixos. Entre eles, a juíza menciona o eixo comunitário, focado na prevenção, com o programa "Maria Penha Vai à Escola"; o eixo policial; e um eixo que atua dentro dos tribunais, com grupos reflexivos de homens e atuação nas redes locais de cada juizado. "A atuação é extremamente ampla para tentar dar conta desse problema que é tão complexo", diz. 

 

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O ciclo da violência, segundo a magistrada, é uma das teorias (a mais aceita) para explicar esse fenômeno da violência contra a mulher. A relação, muitas vezes aparentemente saudável, passa por um pico de tensão, onde se dá a violência. "Contrariamente ao que as pessoas pensam, esse homem agressor não é sempre violento. Ele não é sempre mau, não é sempre um monstro. Esse homem também tem os momentos em que ele é bom, que ele é agradável, é doce, faz coisas boas para essa mulher", esclarece.

Após o pico de violência, é comum que a relação passe pela denominada "fase da lua de mel", em que o agressor pede perdão, passa a ir à igreja, ou entra em um tratamento de álcool e drogas, por exemplo. O resultado, muitas vezes, é o perdão da vítima, por questões sociais, pessoais ou resultado de alguma forma de dependência. "O que a gente vê, pelas estatísticas, pesquisas e na prática, é que a cada vez que essa mulher volta, a violência seguinte é mais grave que a anterior. É uma espiral. E é essa espiral é que a gente precisa conter", explica.

"A partir do momento que ela se percebe na situação de violência e resolve procurar ajuda, seja por um registro policial, na delegacia, por uma unidade de saúde, ou porque ela foi em uma escola da filha e falou sobre, todos nós — e eu digo todos nós mesmo — precisamos atuar em rede para dar acolhimento e informação a essa mulher, para que ela tenha chances de sair desse ciclo antes que ela seja vítima de violência de novo", destaca a juíza.

Para Fabriziane, apesar de ver avanços no combate à violência de gênero, como as parcerias com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), os termos de cooperação técnica, dispositivos de monitoração eletrônica e a visibilidade dada pela imprensa no tema, ainda há grandes desafios para esse combate ser, de fato, eficiente. O ponto chave, segundo ela, são as ações de prevenção, em especial nas escolas. "O que a gente quer com a educação não é levar às escolas uma palestra no dia da mulher, mas que todos os conteúdos sejam trabalhados de forma transversal no ensino das meninas e meninos", completa.

*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel

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