Generosidade e dedicação são as palavras que inundam as homenagens à editora de Opinião do Correio, a Dad Squarisi. Pioneiros de Brasília, muitos deles amigos da jornalista, exaltaram sua destreza para ensinar e o carinho com que cultivava as amizades. Dad morreu nesta quinta-feira (10/8), aos 77 anos.
Amigo de Dad, o jornalista e escritor Maurício Melo Júnior, presidente do Instituto Cultural Casa de Autores, conta sobre a importância que ela teve para a cultura de Brasília. "A coluna dela era lida em vários jornais. Ela trouxe uma coisa que é fundamental para o ensino da língua portuguesa, que é o senso ético. Ela escrevia sobre as coisas mais áridas da língua portuguesa de uma maneira lírica. E mais do que ensinar e fazer-nos encantar pela língua portuguesa, ela levou isso para a escrita", resume.
"Tem uma grande história da Dad que não sei se ela nunca teve tempo ou nunca teve saúde para escrever. Quando a Dad veio do Líbano, o pai dela trouxe uma mala. E era a mala mais importante que eles traziam em toda a viagem. O pai dela cuidava daquela mala com um carinho imensurável. Quando ela teve idade para compreender essa mala, o pai resolveu abrir para ela. E, nela, havia quatro livros. E o pai disse para ela: 'Esta é a grande fortuna que qualquer ser humano pode carregar: o conhecimento'”, revela Maurício, que conheceu a escritora nos anos 1980 e conta que ela fã de Dorival Caymmi.
Outra grande amiga de Dad, coordenadora da Flipiri e da Feira do Livro de Brasília, Íris Borges, ressalta a generosidade da jornalista. “Nunca reteve para si o que sabia”, destaca. “O poder de síntese que ela tinha era magnífico. Essa ideia de menos é mais. Era uma professora para nós, tinha um vasto domínio da língua e era muito dedicada”, detalha. “É uma perda irreparável para nós e, no meu caso, perdi uma amiga.”
Pioneiros
José Carlos Coutinho, arquiteto e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), define Dad como uma pessoa capaz e cordial. “Só posso falar as palavras mais elogiosas, de maior admiração, de maior respeito pela sua capacidade profissional, pela sua seriedade e pela sua cordialidade”, afirma Coutinho, que é leitor do jornal e acompanhava a coluna Dicas de português, assinada por Dad. “Ela era uma pessoa admirável pelas suas posições firmes, e sempre transformava a lição de português em algo útil para vida cotidiana.” Também professor emérito da UnB, o pesquisador Aldo Paviani lamentou a morte e prestou homenagem a Dad.
Viúvo da professora Lucília Garcez, outra referência da língua portuguesa no país, o cineasta Vladimir Carvalho conviveu por mais de 40 anos com Dad Squarisi. "Dad deixa ensinamentos e um conhecimento que está à mão para ser sempre consultado. É um lugar comum, mas a perda dela deixa uma lacuna educacional e cultural que é impossível de ser suprida”, atesta o pioneiro. "Desde colegas de estudos na UnB, Dad e Lucília formaram praticamente uma irmandade. Ambas batalharam contra os problemas de saúde. E, anteriormente, se encontravam muito no plano dos clubes de leitura”, recorda-se Vladimir sobre a amizade entre as duas.
Saiba Mais
A morte de Dad Squarisi abre uma lacuna sem precedentes na vida de todos que tiveram o privilégio de conviver e partilhar um pouco da vida com ela, destaca a procuradora aposentada Abadia Alves, amiga de Dad há 30 anos. Emocionada, ela conta que pôde passar os últimos instantes de vida da amiga ao seu lado. "Ao lado de Dad, passei os melhores anos e vivi os mais intensos momentos, como nossas inúmeras viagens, nossas histórias e tantas lembranças de um convívio feliz e único. Até na partida ela foi elegante como sempre. Nestes últimos dias, se despedia de cada amigo que chegava, dizendo: 'Há momentos em que precisamos dar boas-vindas também à morte, com muita fé e resiliência'. Ela nos transmitia leveza, serenidade e sabedoria", lembra.
A economista Josie Melo Fontes lembra que foi num domingo quando voltavam de um almoço quando Dad lhe disse que no dia seguinte iria ao dentista e, a partir daí, soube da doença. Desde então, a amiga e vizinha compartilhou com ela todos os momentos em relação ao tratamento e afirma que nunca viu, ao longo dos últimos sete anos, Dad perder o equilíbrio. Minha amiga era a pessoa mais fina e elegante que conheci e tive o privilégio de conviver. Culta, ímpar, irretocável e de uma afabilidade sem igual. Sua partida me dói, mas tudo que vivi ao lado dela não pode se tornar menor neste momento de tanta dor", emociona-se.
A psicóloga Wanir Aida Braga também manteve uma amizade de 15 anos com Dad Squarisi e lamenta a perda da amiga que, para ela, soube aproveitar profundamente todas as oportunidades que a vida lhe deu. "Sou grata por ter aprendido tanto com a Dad, uma referência em sabedoria, inteligência e caridade, que não fazia diferença entre pessoas nem classes sociais. Soube aproveitar todas as oportunidades que a vida lhe ofertou, assim como enfrentou todos os desafios com maestria", destaca.
Médico e amigo
O médico hematologista Gustavo Bettarello tratou da Dad durante os últimos sete anos e conta que aprendeu muito com ela. “Por onde andava exalava alegria. Eu nunca a vi com uma cara triste, desanimada, sempre foi uma pessoa muito altiva, muito boa, e fazia bem para todo mundo estar ao lado dela. Toda vez que estava do lado dela, mesmo responsável pelo tratamento, sempre acabava aprendendo alguma coisa. Era inspirador. E ela estava pronta. Ela falou para mim: 'Dr. Gustavo, fiz tudo na minha vida, não tenho arrependimento. Por onde passei fiz amigos'. Ela falava que estava pronta, não temia a morte, não estava desesperada e estava tranquila."