Os moradores da capital do país estão enfrentando um trânsito mais intenso e que tem exigido mais paciência ao volante nos últimos meses. Tem sido a qualquer hora do dia, mas principalmente, nos horários de pico e nos acessos ao Plano Piloto no início da manhã ou na volta para casa no final da tarde.
Um dos motivos dos engarrafamentos quilométricos e do trânsito caótico, segundo o Departamento de Estradas e Rodagem (DER-DF), são as diversas obras que ocorrem ao mesmo tempo no Distrito Federal. De acordo com a autarquia, estão em curso a reforma na Avenida Hélio Prates, troca de pavimento na Estrada Parque Ceilândia/Estrutural e na Estrada Parque Contorno, além da construção de viaduto na Estrada Parque Núcleo Bandeirante, que leva ao Riacho Fundo.
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O vidraceiro Osair da Silva, 55 anos, que passa constantemente pela Via Estrutural e reconhece que as obras são importantes, mas fazê-las de uma vez só, prejudica a mobilidade. "Eu tenho gastado duas horas e meia de Brazlândia ao Plano Piloto e o mesmo tempo para voltar. Ao todo eu perco cinco horas do meu dia dentro do carro e isso é muito cansativo e improdutivo", conta.
Trafegando diariamente de ônibus pela EPTG, Elaine Cristina, 20, reclama da lentidão no trânsito, que ficou maior nos últimos meses. "Aqui não é possível ver outra coisa a não ser o engarrafamento. Ontem estava tudo literalmente parado, os veículos não saiam do lugar", salienta. Trabalhando em Vicente Pires há oito meses, a operadora de caixa reside no Recanto das Emas e lembra que se atrasou diversas vezes em virtude do engarrafamento. "Meu horário de entrada é às 9h, mas tenho que acordar às 5h20 e sair de casa às 6h. Isso para conseguir chegar a tempo no trabalho", destaca.
O cozinheiro Everaldo Cândido, 38, mora em Águas Lindas de Goiás e passa sempre pela Via Estrutural, ele relata que a situação do trânsito no local anda complicada por conta das obras, e que tem gastado em média duas horas para ir ao trabalho e duas horas para voltar. "Depender dessa via em obras para ir e voltar ao trabalho é complicado demais. Na minha opinião, a solução seria fazer a obra durante a madrugada para poder adiantar o serviço e entregar logo esse projeto", ressalta.
Para a diarista Elisa Maria de Brito, 43, o engarrafamento é algo que atrasa muito sua ida e volta do trabalho, mesmo indo de bicicleta. "Aqui todo dia tem um engarrafamento muito pesado, isso dificulta tanto a locomoção dos veículos e travessia entre as vias", explica. A diarista afirma que os perigos na Estrutural são enormes para os pedestres e para os ciclistas nos horários de pico. "Fui atravessar na faixa de pedestre e um carro parou, mas outro que estava na outra via não parou e quase me atropelou. Isso aconteceu em pleno congestionamento", lembra.
Na Estrada-Parque Taguatinga (EPTG), o congestionamento começa cedo, às 6h. É o que constata o motorista de ônibus Francisco Ferreira, 46. Segundo ele, a quantidade de veículos aumenta das 7h30 às 9h. "Ultimamente o trânsito está muito devagar, principalmente em horários de pico", diz.
As diversas obras que ocorrem em outras vias do DF acabam por intensificar o fluxo de veículos justamente na EPTG. "À tarde é mais cruel, o trânsito é maior, principalmente de quinta a sexta-feira, quando mais pessoas utilizam carros para irem ao trabalho."
Fiscalização
Doutora em transportes pela Universidade de Brasília (UnB), Adriana Modesto explica que as obras são necessárias, mas é importante que a administração pública tenha previsibilidade de eventuais transtornos e adote rígida fiscalização na execução das obras. "Quando a população reconhece e identifica os potenciais benefícios decorrentes de uma obra, com programação definida e executada dentro do prazo previsto, ela poderá tolerar mudanças em sua rotina de deslocamentos", afirma a especialista. De acordo com Adriana, quando há protelamento do término da execução das obras viárias ou as melhorias não são percebidas conforme prospectado, "pode-se tornar demasiado penoso à população", acrescenta.
Outro ponto destacado pela doutora em transporte é a tomada de decisão quanto à simultaneidade na realização das obras em áreas com convergência de fluxos, uma vez que essas podem ter como consequência o comprometimento da fluidez no tráfego, bem além do efetivamente esperado em circunstâncias da execução de obras vultosas.
Em nota, o Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal sugeriu que a população procure rotas alternativas e programe horários alternativos também. E que todas essas obras, quando concluídas, irão melhorar significativamente o fluxo em todas essas regiões do DF.
A Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) informa que tem trabalhado constantemente em políticas públicas para a melhoria da mobilidade e do transporte público da capital e que foram inseridos nas ruas os ônibus com portas dos dois lados para atender a população com corredor exclusivo e com viagens mais rápidas. A medida permitiu a utilização das paradas de ônibus do corredor central da EPTG, que passaram a operar com embarque e desembarque de passageiros.
O doutor em transportes pela UnB Artur Morais adverte que a criação ou alargamentos das vias não é a solução para o elevado congestionamento no DF. "Quanto mais vias você coloca à disposição dos veículos, mais carros irão circular por ali. O que irá fazer a melhora na mobilidade é o investimento em ciclovias e no transporte público", ressalta. Para o especialista, atualmente as autoridades priorizam melhorar o tráfego dos carros e não priorizam o transporte público.
Colaboraram os estagiários José Augusto Limão e João Carlos Silva
sob a supervisão de José Carlos Vieira
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