O ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres será ouvido hoje, às 10h, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa (CLDF). Torres ficou preso 117 dias. Preso em 14 de janeiro, foi solto em 11 de maio, por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Existia um clima de incerteza sobre o comparecimento ou não do ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), mas a defesa confirmou a presença dele na sessão da CPI de hoje, principalmente após a performance positiva de Torres no depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, do Congresso Nacional. Antes do tão aguardado depoimento, Torres deixou de ir à CPI da CLDF uma vez, em março. Na época, Moraes ressaltou que cabia ao próprio ex-secretário escolher se deveria ou não comparecer.
Para convencê-lo, os distritais chegaram a propor uma sessão secreta, para que fosse evitada a exposição dele, principalmente porque Torres se queixava a interlocutores de que não queria que as três filhas o vissem na condição de preso. O período também ficou marcado por Torres tentar se desvencilhar de Bolsonaro, trocando de advogado, que, à época, também era do próprio ex-presidente.
É esperado que os distritais aliados do governo federal questionem o ex-ministro da Justiça sobre a viagem dele aos Estados Unidos, em 6 de janeiro, às vésperas dos atos do dia 8, além da existência de um relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) que escancarou a possibilidade de invasão aos prédios dos Três Poderes no final de semana do ataque. Os parlamentares querem saber se Torres sabia ou não da existência do documento, conforme o Correio mostrou em março.
Questionamentos
A escolha de pessoas que ocuparam cargos na SSP levadas por Torres possivelmente será alvo de questionamentos por parte dos deputados. Entre os nomes, estão o ex-secretário-executivo Fernando de Sousa Oliveira e a ex-subsecretária de Inteligência, Marília Ferreira Alencar.
Em depoimento à CPI, Oliveira disse que Torres viajou aos EUA e que não foi apresentado a autoridades do governo do DF, como o governador Ibaneis Rocha (MDB). Marília disse que Torres foi avisado da existência de risco para o fim de semana de 8 de janeiro. Toda a equipe nomeada por Torres foi exonerada pelo ex-interventor federal Ricardo Cappelli.
"Está confirmada a presença do ex-ministro de Bolsonaro e ex-secretário do DF Anderson Torres. A Marília, ex-subsecretária, afirmou à CPI que Anderson sabia sobre potenciais riscos do evento de 8 de janeiro. Mesmo assim, o ex-ministro pediu férias e seguiu com sua viagem aos EUA. Na CLDF, exigirei a verdade", adiantou o presidente da comissão, Chico Vigilante (PT).
Outros pontos, como a minuta golpista encontrada na residência de Torres, no Jardim Botânico, durante uma operação da Polícia Federal, e a ida dele à Bahia poucos dias antes do segundo turno das eleições de 2022, serão abordados pelos distritais. A expectativa é que o depoimento seja bem extenso, mas isso não vai interferir quanto a obrigações que ele tem de cumprir, como estar em casa todos os dias a partir das 22h. Conforme exigido por Moraes, o ex-secretário usa tornozeleira eletrônica.