A família das plantas conhecidas como sempre-vivas e chuveirinhos, abundantes no bioma do Cerrado, ganharam uma nova classificação, a partir de uma pesquisa liderada por Caroline Andrino, professora e pesquisadora do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília (UnB). Foram nove anos de trabalho, cujo resultado consta no artigo Eriocaulaceae: A new classification system based on morphological evolution and molecular evidence, publicado na revista cientifica internacional Taxon, em 17 de abril, quando, no Brasil, é comemorado o Dia Nacional da Botânica.
Caroline conta que tudo começou em sua graduação, em 2008, quando teve problemas para entender e pesquisar sobre as sempre-vivas. "Enfrentei muitas dificuldades na identificação das espécies e nas diferentes características que encontrava nessas plantas. Desde o início, a necessidade dessa nova classificação era evidente para mim." relembra.
A antiga classificação da família dos chuveirinhos e das sempre-vivas era de 1903 e agrupava muitas espécies sob um único gênero, o Paepalanthus. No entanto, desde então, o número de espécies desse gênero praticamente dobrou, revelando uma grande variação morfológica.
Os avanços tecnológicos em análise de DNA proporcionaram novas informações sobre o parentesco dessas plantas, que não eram possíveis de serem descobertas naquela época. Constatou-se que a classificação anterior não refletia a evolução do grupo. Com isso, foi proposto pela pequisa científica a criação de novos gêneros e a redefinição dos existentes para refletir de forma mais precisa a diversidade e a evolução das espécies dentro da família.
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Caroline explica que foram coletados dados morfológicos e genéticos de várias espécies para entender as relações evolutivas entre elas, analisar para comparar as sequências de DNA, e reconstruir a árvore genealógica. Com o estudo, o grupo, que tinha dez gêneros, ficou com 18. "Paepalanthus continua existindo, mas com uma delimitação mais restrita, e reconhecido por características específicas" , explica a cientista.
"Mudar o nome dessas plantas significa um avanço no entendimento científico sobre elas. Antes, tínhamos um grande grupo sob o nome Paepalanthus, que, na verdade, não possuía uma evolução comum, nem mesmo uma forma precisa de identificação. Com isso, várias e várias espécies nesse grande grupo acabavam por ser negligenciadas nos estudos" , enfatiza Caroline. "A falta de precisão e atualização na antiga classificação dificultou a identificação correta das espécies, confundindo cientistas e botânicos que trabalhavam com essas plantas. A ausência de critérios bem definidos para distinguir as espécies limitou o progresso da pesquisa e resultou em algumas espécies sendo negligenciadas e pouco estudadas", completa a pesquisadora.
Homenagens
Os novos nomes fazem referência às morfologias das plantas e também homenageiam importantes personalidades da cultura e da ciência brasileiras. O gênero Coracoralina, por exemplo, foi batizado em honra à poetisa Cora Coralina, nascida em Goiás — estado rico na diversidade do novo gênero, onde suas espécies são conhecidas por chuveirinho.
O gênero Giuliettia, por sua vez, homenageia a botânica Ana Maria Giulietti Harley, que iniciou sua carreira estudando a Eriocaulaceae (sempre-viva), orientando quatro gerações de especialistas da família e dezenas de botânicos no Brasil. O novo gênero Gnomus faz referência ao tamanho das plantas incluídas nesse grupo, que nunca ultrapassam 20 centímetros de altura, sendo que algumas espécies estão entre as menores de toda a família, com apenas um centímetro.
Os próximos passos do trabalho envolvem descrições de espécies ainda desconhecidas pela ciência, além de análises focadas na conservação dessas plantas, porque muitas estão ameaçadas de extinção. A família é também um grupo estratégico para estudo de vegetações abertas, como o Cerrado, entre outros.
O estudo contou com a participação de Fabiane Costa, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM); Marcelo Simon, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cenargen); Rafaela Missagia, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); e Paulo Sano, da Universidade de São Paulo (USP).
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