O nível de estresse em peixes é intensificado em decorrência da maior temperatura da água. A conclusão é de uma pesquisa que contou com a contribuição da Universidade de Brasília (UnB). Para chegar a esse resultado, estudiosos analisaram a produção de cortisol em 33 espécies de peixe, a partir da revisão de relatórios feitos anteriormente.
O professor de pós-graduação na área de ecologia do Câmpus Planaltina da UnB Eduardo Bessa foi responsável por revisar 386 estudos que relataram as condições de estresse em tilápias, espécie de peixe africano cultivado no mundo inteiro. O biólogo averiguou o método para coletar hormônios dos peixes em todas as pesquisas prévias.
Com os 147 artigos aprovados por esse teste de qualidade, foram extraídos os dados a respeito de hormônios, temperatura da água, sexo e idade do peixe analisado.
O hormônio cortisol atua em processos orgânicos de curto e longo prazo, e tende a inibir comportamentos ligados a atrair parceiros reprodutivos, cuidar dos filhotes e construir abrigos. “Em paralelo, ele tende a aumentar comportamentos de defesa e vigilância”, ele indica. O esforço dos pesquisadores apurou que as espécies em ambiente com altas temperaturas apresentam uma maior taxa de circulação do hormônio.
Impacto ambiental
Além da compreensão acerca do comportamento animal, o estudo realizado também permite mostrar a avaria ambiental causada pela intensificação do efeito estufa, consequente do estilo de vida humano. “Estamos construindo para nós mesmos e todas as outras espécies que dividem o planeta conosco um futuro mais quente. Esse calor que já é realidade e tende a piorar, têm uma série de consequências, como deixar a todos mais estressados”, argumenta o cientista.
Eduardo reflete que a reversão do problema necessita de alternativas ao padrão de consumo. “Usar menos o carro, consumir de forma mais consciente, ingerir menos carne vermelha e reduzir as queimadas no DF”, exemplifica.
Impasse
Também foram consideradas na pesquisa 15 outras variáveis. Porém, o bio[ologo se deparou com uma falta de detalhamento nos documentos avaliados. “Então, uma das coisas que fizemos nesse trabalho foi propor uma padronização do que deve ser medido e informado em estudos desse tipo”, destaca o professor.
Essas lacunas dificultaram a análise da relação desses fatores em relação à produção hormonal. Para Bessa, essa falha “limitou os fatores que pudemos testar e torna difícil fazer comparações entre estudos. Foi por isso que uma das conclusões que apresentamos foi que é necessário incluir algumas variáveis ambientais, como salinidade e oxigênio dissolvido”.
Também participaram da pesquisa a Universite Montpellier, na França, o instituto francês de Ciências do Mar INRAE, e a fundação COISPA, da Itália.
*Estagiário sob supervisão de Malcia Afonso