Arquitetura moderna, estilo minimalista e prédio com sistemas que permitem maior sustentabilidade consistem em algumas das características, em Brasília, da representação diplomática da Noruega, um dos países mais desenvolvidos do mundo — conhecido por ser o berço de um dos povos mais antigos da história, os vikings. O espaço, instalado numa área de 25.000 m2, fica localizado no Setor de Embaixadas Sul e teve sua construção concluída em 1974, projetada pelos noruegueses John Engh e Jon Seip.
- Países nórdicos expõem interesses no Brasil
- Países menos corruptos abrem dados até de Imposto de Renda dos cidadãos
- Embaixada da Noruega comemora relações com o Brasil em evento nesta quarta
A embaixada chama a atenção, entre outros fatores, por ser considerada a segunda sediada no Brasil (depois da representação da Itália) a adotar o chamado sistema de "lixo zero", voltado para a gestão de resíduos que minimiza e previne o desperdício, facilita o reuso e ajuda a melhorar o meio ambiente.
O prédio é inspirado em edificações de estilo "moderno brutalista" — estética conhecida por ser mais crua e por dar maior realce a pilares de forma ordenada , sempre com muita madeira e concreto (como é comum naquele país).
Em 2017 a embaixada passou por uma grande reforma, na qual foi ampliada a partir de um projeto realizado pelo escritório de arquitetura CasaCinco. A nova estrutura manteve a madeira existente e parte da estrutura colocada em 1974. Uma das principais mudanças, entretanto, foi a inclusão, no complexo, de técnicas dentro da própria embaixada que permitem o manejo do lixo para reutilização.
Com esse mesmo objetivo, a área também dispõe de armazenamento da água da chuva para reutilização e de uma área onde são plantados os vegetais consumidos nas refeições do corpo diplomático norueguês. Do jardim, é possível ainda encontrar dois robôs eletrônicos que cortam a grama sem produzirem emissões de gás carbônico durante o uso.
Preciosidade e interligação
Todos os móveis, inclusive os lustres presentes na embaixada, vieram daquele país e foram escolhidos a dedo pelas autoridades norueguesas. Ao entrar na chancelaria é impossível não reparar, por exemplo, no banco inspirado em um trenó, usado como transporte na Noruega. A obra consiste numa preciosidade de autoria da famosa designer norueguesa Elin Louise Sveen.
Outra curiosidade que pouca gente sabe é que os prédios das embaixadas nórdicas — Suécia, Finlândia, Noruega e Dinamarca — são interligados entre si, o que facilita que um embaixador visite a residência oficial do outro. O complexo da Embaixada da Noruega foi dividido em quatro zonas, relacionadas à função e ao controle: zona 01 para acesso geral do público, zona 02 onde fica localizada a chancelaria, zona 03 para a área de representação e, por fim, a zona 04 onde fica instalada a residência do embaixador e o espaço de trabalho dos diplomatas.
No acesso geral, logo de início é possível notar a foto do rei e da rainha da Noruega emoldurada decorando a entrada. O soberano, Rei Haroldo V e sua esposa, a Rainha Sônia, ocupam o trono desde 17 de janeiro de 1991. O herdeiro é o filho deles, o príncipe Haakon. O jardim da representação diplomática, com bastante verde e cheio de árvores, recebeu há seis anos um toque brasileiro, como maneira de homenagear nosso país: é repleto de paredes de cobogós, que remetem a uma tradição da arquitetura brasiliense e, ao mesmo tempo, ajudam a descontrair o espaço.
Brasília e Oslo
O atual embaixador, Odd Magne Ruud, desembarcou em Brasília em 2021 e conta que é um entusiasta da construção. Ele considera a capital do Brasil bem parecida com Oslo, capital norueguesa. "Brasília me lembra Oslo. Gosto quando a natureza encontra a cidade e acho bonito cidades que permitem ambientes mais abertos, deixando o ar entrar nos edifícios. Em Brasília é possível encontrarmos isso de forma inesperada", relata o embaixador, que considera a Catedral Dom Bosco um dos seus lugares favoritos, no Planalto Central do país.
No complexo da embaixada, Magne Ruud afirmou que tem predileção por passar o tempo livre no jardim ou na sala, que dispõe de lareira. "O projeto de reforma incluiu o antigo no novo, dando um ar de maior modernidade aos espaços, deixando-os ainda mais abertos e funcionais", enfatiza.
O caráter acolhedor e inspirador do espaço não é apenas destacado por Ruud. Em 2021, ambientalistas plantaram uma árvore de jatobá na área da embaixada, de seis metros de altura. Autorizado pelas autoridades norueguesas, o gesto foi visto como uma forma de pedido de refúgio por parte da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) à Noruega para a espécie, ameaçada de extinção. E contou com o apoio de perto de 40 organizações internacionais.
São gestos representativos, bem como sistemas ambientais e formas mais simples, embora requintadas, que ressaltam, a partor da embaixada, tanto o país nórdico como a atuação do governo norueguês pela redução das emissões de carbono no mundo e as iniciativas envidadas pelos noruegueses por um planeta melhor.
Colaborou Hylda Cavalcanti