Economia

Microempreendedores individuais contam como superaram a crise da pandemia

O Correio ouviu histórias de microempreendedores que conseguiram manter seus negócios em operação no período da pandemia de covid-19 e chegaram a 2023 com sucesso

Enquanto a maioria das pessoas trabalhava de casa, em 2020, devido à pandemia de covid-19, milhares de microempreendedores individuais (MEIs) registrados pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Distrito Federal (Sebrae-DF), no primeiro semestre daquele ano, como chaveiros, sapateiros e relojoeiros, entre outros, continuaram atuando nas ruas para garantir a sobrevivência. O Correio ouviu histórias de pequenos comerciantes que atravessaram aquele período e, com determinação, chegaram ao segundo semestre de 2023 bem-sucedidos.

Definido pelos clientes como "guerreiro", o reparador de calçados Antônio Camurça, 63 anos, conta que passou por dificuldades em março de 2020, quando o governo do Distrito Federal determinou o fechamento do comércio, para conter o avanço do novo coronavírus.

Um dos 100 sapateiros registrados como MEI no DF, segundo o Sebrae, o dono da Sapataria Camurça, na Comercial da 112 Sul, passou dois meses sem trabalhar, ficando apenas em São Sebastião, onde mora. Ele recorreu à poupança para pagar as contas e se alimentar. "Do meio do ano passado para cá, deu uma melhorada nos atendimentos, que voltaram ao normal. Trabalho o dia inteiro e não falta serviço ao longo da semana, como ocorria na pandemia", afirma Antônio.

Há 30 anos com a loja na comercial, ele tem clientes da Asa Norte, Asa Sul, Jardim Botânico, Lago Norte e Lago Sul, que o ajudaram a aumentar em 70% as restaurações de calçados. Porém, enfrentou o problema da elevação nos preços dos insumos. "Eu usava um litro de cola e pagava em torno de R$ 23. Atualmente, gasto R$ 30. Consequentemente, cobro um pouco mais, porém, posso dizer que superei a pandemia", emociona-se.

Cliente de longa data de Antônio, a aposentada Maria Amália Silveira, 78, mudou-se, em 2005, do Bloco D da 112 Sul — a 50 metros da sapataria — para a Octogonal, e foi uma das pessoas que não deixaram de usar os serviços de restauração de Antônio. "Continuo vindo aqui até hoje pelo bom atendimento, porque ele entrega (o serviço) sempre no mesmo dia, e para esclarecer qualquer dúvida a gente entra em contato com ele por telefone", diz.

Maria lembra que o sapateiro prezava pelo distanciamento social, limpeza das mãos com álcool e higiene dos produtos. "É um guerreiro. A minha preferência é ele, com quem criei um vínculo de amizade de muitos anos. Não levo minhas coisas para arrumar em outro lugar", garante  Maria.

Movimento

Outros lojistas até viram o movimento melhorar na pandemia, como aconteceu com o casal Jeiferson Diniz Freitas, 28, e Thalita Samay, 23, que, desde 2012, conserta chaves de carro, de porta, carimbos e relógios em uma tenda na Comercial da 113 Sul. "Como os comerciantes fechavam as lojas, os donos dos comércios queriam trocar segredo de portas para garantir a segurança. Foi um serviço praticamente essencial, tanto que até os moradores da região ficavam mais tempo em casa e pediam para trocar as fechaduras", lembra Thalita.

A dupla sempre teve cautela para evitar contaminação e segue com os hábitos de higiene. Os dois usavam pantufas para entrar na casa dos clientes. "A gente sempre teve esse cuidado para garantir a clientela. Hoje em dia, conseguimos pagar as contas, continuamos com a divulgação nas redes sociais e no boca a boca", assinala Jeiferson.

Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press -
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -

Segundo ele, o telefone tocava diariamente na loja do casal, enquanto os dois deixavam apenas a porta de entrada e saída aberta para fazer o atendimento em domicílio. "A gente não ficava aberto para evitar receber os clientes aqui. Mas se a pessoa chegasse para fazer a cópia de uma chave, ela ficava longe para manter o distanciamento social e entregar o produto higienizado. Até hoje, usamos álcool etílico 70% para manter tudo limpo", conta o chaveiro.

Thalita e Jeiferson fazem parte do grupo de 744 comerciantes que engloba chaveiros, relojoeiros varejistas e reparadores de relógios do DF, de acordo com o Sebrae. De segunda-feira a sábado, os dois recebiam um pedido frequente dos clientes por novas chaves, pois era comum ter pessoas que borrifavam álcool para limpá-las, o que danifica o objeto e dificulta a abertura da porta. "Quando a pessoa espirrava álcool na chave, colocava no mecanismo da fechadura, oxidava e enferrujava. Muita gente fez isso e foi uma das causas que melhorou nosso movimento", relata a comerciante.

Dona da lanchonete Empório Silvia Pinheiro, a cozinheira Silvia Pinheiro, 46, revela que enfrentou dificuldades para se manter na pandemia. Com a ajuda de três auxiliares, ela foi vendedora de salgados, pizza e hambúrguer em frente a uma escola, na Candangolândia, onde mora. O aumento da renda com comércio ambulante exigiu a mudança para um quiosque na Comercial da 113 Sul, em meados de 2020. Em julho de 2021, Sílvia foi diagnosticada com covid-19 e o marido, que é motoboy, sofreu um acidente. Os percalços, no entanto, não a impediram de manter o negócio junto dos filhos.

Segundo ela, que é uma das 6,6 mil cozinheiras registradas pelo Sebrae, no DF, o que estava difícil de suportar era o custo dos insumos, que estavam caros. "Sobre clientela, eu não tinha dificuldade em conseguir porque havia público para buscar marmita, que é o que mais vendo aqui. Antes, custava R$ 15. Agora, sai por R$ 18,20 uma marmita com comida de qualidade. A melhora é significativa, porque eu vendia 40 marmitas por dia na pandemia, e, agora, são 120. Na hora do almoço, em uma hora, a comida acaba", comemora Silvia.

MEIs no DF

1º semestre

2020: 184,8 mil

2021: 218,6 mil

2022: 246,5 mil

2023: 259,8 mil

* Fonte: Sebrae-DF

Por ano

2020 - 200,3 mil

2021 - 232,3 mil

2022 - 256 mil

* Fonte: Sebrae-DF

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