Investigação

Naime escreve carta na prisão e diz que ser alvo de narrativas falsas

O coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Eduardo Naime está detido desde 7 de fevereiro, por suspeita de ter sido omisso nos atos de 8 de janeiro

 No texto, o ex-chefe do Departamento de Operações (DOP) alega ser vítima de acusações falsas -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
No texto, o ex-chefe do Departamento de Operações (DOP) alega ser vítima de acusações falsas - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Pablo Giovanni
João Carlos Silva*
postado em 31/08/2023 17:09 / atualizado em 31/08/2023 17:41

O coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Jorge Eduardo Naime, preso sob suspeita de omissão nos atos de 8 de janeiro, escreveu uma nota desabafando. No texto, o ex-chefe do Departamento de Operações (DOP) alega que luta "contra narrativas e falsas afirmações, que tentam encobrir os verdadeiros responsáveis e assassinos de reputações".

No texto, Naime repassa o comando da Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal (ASOF) para um outro coronel. Na denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o subprocurador Carlos Frederico Santos detalha que o ex-chefe do DOP utilizou a estrutura da PMDF para transportar R$ 1 milhão em espécie, se beneficiando da condição de presidente da associação. A defesa de Naime nega as acusações.

O ex-DOP afirma ter mantido a associação “forte e atuante, participativa e, principalmente, aguerrida, na defesa de nossa instituição. O coronel reforçou um bordão que utiliza era para o bem da associação. “Espero que alguns, que não entendiam, hoje possam entender a minha frase mencionada em várias e acaloradas discussões, que infelizmente resumiam nossos contatos no grupo de WhatsApp”, declara.

É a primeira declaração de Naime após ter sido denunciado pela PGR pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e por infringir a Lei Orgânica e o Regimento Interno da PM. Ele está detido na Academia da Polícia Militar, em cela ao lado do major Flávio Silvestre Alencar.

Leia a nota completa

"Após seis anos à frente de nossa Associação, venho passar a Presidência ao nosso veterano Coronel Leonardo, Oficial do mais alto gabarito e a quem, ainda como Cadete, tive a honra de conhecer, quando 1º Tenente, pertencente ao efetivo da antiga Companhia de Polícia de Choque, vindo novamente a ouvir, de forma saudosa, na comunidade de Ceilândia, seu nome, que, como Administrador daquela região, sempre foi lembrado de forma positiva e empática por parte dos Líderes daquela comunidade. Ao Coronel Leonardo, desejo toda a sorte de bênçãos à frente da nossa Associação, com meus votos de que ele tenha muita sabedoria em sua gestão, me colocando à sua inteira disposição para auxiliá-lo em tal empreitada.

Recebi a Associação de Oficiais do Coronel Rosemildo, que precisou se afastar da Presidência após alguns meses, depois de ter substituído o Coronel Leão, o qual entregou a ASOF com uma grande organização administrativa e saldo em caixa, o que nos possibilitou dar os primeiros passos à frente da Associação. Mas ainda tínhamos um grande caminho a percorrer com o grandioso objetivo de transformar a ASOF em uma Associação reconhecida e forte na defesa dos Oficiais da Corporação e de todos os policiais militares do Distrito Federal. Com esse propósito, começamos a trabalhar de forma intensa para o reconhecimento interno da Associação, participando como patrocinadora de inúmeros eventos de interesse da Instituição. Assim, nesta jornada, patrocinamos formaturas do CFO, CAO, CHOAEM e CAE. Patrocinamos, ainda, eventos como o conhecido Campeonato de Saltos Coronel Rabelo. Estivemos presentes em festas e confraternizações de várias unidades, reforçando a união entre os policiais militares e, principalmente, fortalecendo seus comandos.

Partimos em busca da defesa pública dos interesses dos oficiais e da Instituição. Ficamos conhecidos por nossas notas públicas de apoio e de repúdio, que, muitas vezes, foram as únicas defesas de Oficiais, Praças e da própria Polícia Militar do Distrito Federal, o que trouxe à Associação reconhecimento por parte de toda a imprensa local e nacional, que passou a procurar a ASOF como fonte inicial e principal para diversos assuntos.

Tivemos uma participação ativa na discussão de nossa previdência, quando fomos duramente criticados por não desejar que a PMDF fosse utilizada como alavanca para a alteração da legislação, o que traria grandes prejuízos a todos nós, policiais militares do Distrito Federal. Com tais ações, fomos tornando a ASOF uma associação respeitada interna e externamente à Corporação.

Servimos, inclusive, como estimuladores para a criação de outras associações de militares, que também começaram a publicar notas de apoio e de repúdio, com informações não só a respeito da PMDF, mas também do CBMDF. Fomos pioneiros, ainda em 2018, quando entrevistamos todos os candidatos ao Governo do Distrito Federal, em um grande e concorrido evento, transmitido on-line. Entrevistas nas quais tratamos exclusivamente de planos e projetos dos candidatos a respeito da Segurança Pública do Distrito Federal, em especial em relação à PMDF e ao CBMDF.

Trabalhamos arduamente para ampliar e diversificar os serviços prestados aos Associados com um serviço jurídico gratuito e à disposição de todos os Associados durante as 24 horas do dia, além da assinatura de diversos outros convênios e parcerias. Passamos pela pandemia sendo a única Associação que oferecia, para todos os Associados – e seus dependentes – de forma subsidiada, teleatendimento para o tratamento da Covid-19. Além disso, no decorrer da pandemia e com o seu agravamento, estendemos o mesmo benefício a todos os policiais militares, inclusive aos nossos praças e veteranos, razão pela qual muitos foram salvos por tal iniciativa. Sempre zelamos para que todos os prestadores de serviço da ASOF, sejam pessoas físicas ou jurídicas, prestassem devidamente os seus serviços, em conformidade e no limite dos contratos firmados com nossa Associação. Neste ponto específico, solicitei aos meus advogados que requeressem, aos referidos prestadores, relatórios com o demonstrativo da efetiva restação de serviços, a serem disponibilizados à nova Diretoria, bem como a todos os Associados.

Ademais, passamos hoje a Associação com um montante de patrimônio, entre bens móveis, imóveis e investimento, na ordem de aproximadamente meio milhão de reais, tendo, inclusive, sido feita a aquisição de sede própria, que foi devidamente reformada, à altura do que merecem a ASOF e seus Associados.

Gostaria de estar lendo esta nota em um grande evento, recebendo nosso novo Presidente com toda a honra e a deferência que não só ele, mas também toda a sua equipe e, principalmente, nossos Associados merecem… Entretanto, por motivos conhecidos por todos, me encontro cerceado de minha liberdade, em uma luta ferrenha, empreendida desde fevereiro, contra narrativas e falsas afirmações, que tentam encobrir os verdadeiros responsáveis e assassinos de reputações.

Mantenham a nossa Associação forte e atuante, participativa e, principalmente, aguerrida, na defesa de nossa Instituição! Espero que alguns, que não entendiam, hoje possam entender a minha frase mencionada em várias e acaloradas discussões, que infelizmente resumiam nossos contatos no grupo de WhatsApp: “Polícia forte, Policial forte. Polícia fraca, Policial fraco”, independentemente de ser Oficial ou Praça."

*Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado

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