Em uma tarde nublada atípica de agosto, Andreia Crispim de Lima Silva, 50 anos, 25ª vítima de feminicídio deste ano no Distrito Federal, teve seu último adeus no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. O funeral, que contou com a presença de amigos e familiares da vítima, foi marcado por emoção e revolta. Ao Correio, o cunhado da catadora de materiais recicláveis morta pelo ex-companheiro revelou que o assassino fez aniversário no dia do crime, 24 de agosto, e tinha a intenção de matá-la.
Um dia antes do feminicídio, Clébio José dos Santos, 49, chegou a aconselhar Andreia para que ela saísse de vez do relacionamento. Ele afirma que ela queria, mas o ex insistia. "No fatídico dia, ele estava muito tomado por drogas, passou o dia usando e, à noite, foi para lá na intenção de matá-la. O Luis não foi para brigar, para discutir; ele foi com a intenção de matar", garantiu. "No dia do aniversário, ele deu fim a ela e teve o fim dele também", concluiu.
Eliene Alves, 46, era amiga de Andreia há mais de 25 anos. Para ela, o momento é muito difícil. "Todos estão muito tristes com esse acontecimento. Ela era muito batalhadora e muito guerreira. Trabalhou muito tempo dentro do lixão, mais de 30 anos", comentou. "Ele (Luis) foi muito covarde, porque a Andreia está muito machucada. É uma situação muito triste. Só Deus mesmo vai fazer a gente aceitar, porque passar a dor, nunca passa", desabafou a varredora, que conversou várias vezes com a amiga sobre violência doméstica. "Eu também fui vítima, e ela me dava tantos conselhos. Dizia para me separar do meu esposo, que ele era muito agressivo, e ela acabou morrendo pela mão de uma pessoa que acabou sendo ainda mais agressiva", lamentou.
Os pais de Andreia, Mateus Germano e Materdina de Lima, estavam muito abalados com a morte da filha e não quiseram conversar com a imprensa. O corpo da catadora foi enterrado por volta das 16h20 e, no momento do sepultamento, a irmã de Andreia, Adriana de Lima, se debruçou sobre o caixão e chorou copiosamente, sem aceitar a morte da catadora. "A gente não se metia muito na vida dela, mas sabíamos que o relacionamento era conturbado. Mesmo assim, não esperava que o Luis fosse fazer isso", ressaltou a filha de Andreia, Dayane Crispim, 31. "Se eu pudesse dar um recado para quem está em uma situação parecida, é que saia fora o quanto antes", alertou.
O caso
Andreia Crispim foi morta pelo ex-companheiro Luis Carlos Ferreira de Vasconcelos, 35, na noite de quinta-feira (24/8), próximo à Vila Olímpica, na Estrutural. Ele estava mantendo-a em cárcere privado. O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) foi acionado para socorrer a vítima e o homem, que também estava ferido. Andreia não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
De acordo com a Polícia Militar do DF (PMDF), ao chegar ao local, Luís estava armado com uma faca e enfrentou os agentes. Ele estava mantendo Andreia em cárcere. O agressor foi socorrido e levado para o Hospital de Base, mas também morreu.
De acordo com a ocorrência da Polícia Civil do DF (PCDF), o casal morava na residência e testemunhas informaram que os dois discutiam frequentemente. Os objetos e facas do acusado do crime foram apreendidos e uma perícia foi realizada no local. A Delegacia Especial de Atendimento à Mulher 1 (Deam 1) segue com as investigações do caso.
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