Apesar das inovações e modernizações na culinária, o alimento caseiro nunca sai de moda. Quando comemos algo feito em casa, o cheiro, o sabor e o gostinho proporcionam uma sensação diferente. Na alimentação humana, natureza e cultura se encontram por ser uma necessidade vital. Saber o que, quando e com quem comer, são aspectos que fazem parte de um sistema que implica no domínio de significados ao ato alimentar.
Esse caminho da alimentação, repleto de alternativas, inclui o incentivo à agricultura familiar, com variedades imperdíveis que nos levam a comer bem e manter a educação alimentar. Dados da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) mostram que existem 9.798 agricultores familiares cadastrados no DF. Desse total, 4.011 são mulheres e 5.787, homens, dedicados à produção de hortaliças, grãos, frutas, flores, carnes, frangos e ovos, dentre outros.
Jéssica Gonçalves Pereira, 25 anos, faz parte do núcleo de produtores familiares do DF. Ela mora com os pais em uma chácara no Núcleo Rural Betinho de Brazlândia, há oito anos. A família mudou-se de Águas Lindas de Goiás para o local. Desde que chegaram, em 2016, começaram a plantar morangos, que atualmente somam 23 mil pés em 1,5 hectare de terra.
Com a venda da fruta, a família arrecada R$ 60 por ano. Duas vezes por semana, a família entrega de 150 a 200 caixas de morango na região de Goiás, onde a fruta é melhor avaliada. O que começou como um sonho para a família — que buscava viver em um ambiente de roça, com tranquilidade, ao ar livre, plantar e colher seu próprio sustento — se transformou em empreendimento e tem dado frutificado.
O pai, seu Abides Gonçalves, 59, e a mãe, Maria das Graças, 54, têm quatro filhas, mas apenas Jéssica, a mais nova e gêmea de Jenifer, herdou a paixão pela agricultura e o desejo de ser produtora. É ela quem comanda o plantio.
A jovem trabalhava em uma padaria e lembra que, um dia, observando a vitrine de doces que ela fazia para o estabelecimento, pensou na plantação de morangos da chácara. Naquele instante uma ideia surgiu: "Vou fazer todos esses doces para vender, vou empreender", pensou. Então, pediu demissão do emprego e começou a fazer os doces com a fruta.
As encomendas foram surgindo e o feitio, crescendo. Ela vende bolos, tortas, cucas, geleia, bombons, bolo no pote, cremes, sorvetes, sucos e a famosa coxinha de morango, que é um sucesso em toda a região de Brazlândia. Por semana, a família arrecada R$ 3 mil com a venda da fruta e R$ 1,2 mil com os derivados.
Além de vender diariamente a fruta e os doces, é durante a tradicional Festa do Morango que a família divulga os produtos e aumenta o faturamento. Jéssica conta que as três irmãs preferiram o convívio da cidade, mas, em dias de plantio, colheita e preparo dos alimentos, a família é chamada e todos comparecem.
"Eu convoco minhas irmãs, os cunhados, meus pais que já estão aqui e um diarista que pagamos para ajudar. Ninguém fica de fora, são 10 pessoas ao todo, que colocam a mão na massa", lembra Jéssica.
Com a certeza de quem sabe o valor do que oferece, a doceira afirma que tem bastante disposição para ver o sonho crescer cada vez mais. "O resultado é 100% de alguém que ousou e chegou exatamente aonde queria. Investi tudo e não penso em parar, vou plantar mais 35 a 40 mil pés de morangos até o final de 2024", ressalta, realizada.
Maria do Socorro Marques Miranda, presidente da Associação dos Produtores Rurais Novo Horizonte — Betinho, destaca a importância da alimentação inversa para os produtores da região. "São 110 agricultores que investiram no cultivo de morangos. O alimento produzido por eles é o melhor, porque o agricultor se dedica 100% no cultivo, é um plantio saudável que ele também usufrui", assinala.
Hortaliças
Há cerca de 75 km de Brazlândia, no Assentamento 15 de Agosto em São Sebastião, vivem dona Maria da Conceição, Souza Rosa, 63, e seu marido, Laurindo Ribeiro Rosa, 67. São produtores familiares desde 2013. Ela destaca que foi trabalhando com plantio e produzindo o próprio alimento que o casal criou sete filhos, sendo quatro biológicos e três adotivos.
No assentamento, depois que os filhos cresceram e foram morar em outras regiões, eles cultivam mandioca, batata doce, cana de açúcar, quiabo, cheiro verde e ervas medicinais, que servem tanto para o próprio sustento, como para vender. A família arrecada cerca de R$ 2 mil por mês e R$ 20 mil por ano, com os produtos e seus derivados, como a farinha, o melado e a tapioca.
"Me sinto realizada com a terra que nos possibilitou criar sete filhos. Hoje tudo que plantamos e colhemos nos alimenta e é nossa fonte de renda. Com o cultivo, sabemos exatamente o que estamos comendo, pois são produtos de boa qualidade e orgânicos, que fazem bem para nossa saúde e para a de nossos clientes", relata.
De acordo com Roseli Garcia Medeiros da Cunha Oliveira, engenheira Agrônoma da Emater-DF, um dos principais objetivos da empresa é estimular a valorização da alimentação proveniente de cultivos. "Nosso trabalho consiste em orientar os produtores na preparação de comidas saudáveis, pois desta forma a pessoa estará comendo alimentos de qualidade e seguros, proporcionando um aumento da imunidade que colabora muito para uma boa saúde", destaca.
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