Em um áudio, um dos criminosos presos no Distrito Federal por vender maconha disfarçada de frascos de canabidiol negocia com um cliente, pedindo para ele comprar a droga logo cedo. "O bicho murrinheta (pão duro). Se eu mandei para tu (a droga) é porque está bom. Se estivesse ruim eu não iria mandar não. Aproveita, compra logo amanhã cedo. Isso aí é pra fazer uns 200 frascos", afirma o suspeito, na gravação.
Confira o áudio:
A maconha era vendida por uma suposta organização não governamental (ONG) em frascos de 25ml do falso canabidiol por R$ 400 no varejo. Erick não estima quantos reais o grupo criminoso faturou com o crime. Somente nessa negociação, o criminoso teria vendido R$ 80 mil de droga.
A ONG que usava venda de canabidiol para camuflar o tráfico de drogas não tinha autorização de funcionamento. Segundo o delegado-chefe da 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte), Erick Sallum, a Vara de Entorpecentes do DF negou um habeas corpus preventivo da suposta instituição.
O grupo criminoso foi alvo de uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), na manhã desta terça-feira (22/8), iniciada após denúncias anônimas. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão no Lago Norte e em São Sebastião, além de prisões em flagrante de chefes da associação e o bloqueio de contas bancárias para desarticular o grupo criminoso envolvido com o comércio ilegal de maconha.
Oferta em redes sociais
De acordo com a 9ª DP, as provas colhidas durante a investigação mostram que a associação de ajuda comunitária supostamente oferecia tratamentos terapêuticos com o uso de óleo de canabidiol. Os criminosos faziam as ofertas da droga abertamente em redes sociais, além de realizar atendimentos por um aplicativo de mensagens.
A plantação da maconha e o laboratório para produção da droga ficava na chácara de um dos líderes da organização criminosa. Segundo a polícia, o entorpecente era vendido sem qualquer controle ou supervisão médica, sendo que a associação não tinha nenhuma licença para manipulação de maconha, tampouco qualquer autorização para fabricação e distribuição de canabidiol. A suposta “terapia” era ofertada a altos custos.
Além de não ter licença, outro ponto levantado pela investigação mostra que a própria sede indicada no estatuto da ONG não existia, tratando-se de uma fachada para a revenda da maconha sob uma camuflagem de terapia. “O canabidiol é uma substância que possui efeitos terapêuticos cientificamente comprovados, inclusive já havendo chancela do Judiciário para seu uso. Contudo, não se pode confundir o canabidiol com o THC, bem como iniciarem-se plantações caseiras desautorizadas e exploração comercial lucrativa da substância. Isso não é terapia. É tráfico de drogas camuflado”, destaca o delegado-chefe da 9ª DP, Erick Sallum.
Segundo a PCDF, os dois chefes presos em flagrante tinham antecedentes por tráfico de drogas e viram na nova empreitada uma forma de manter a atividade sob um manto de “legalidade”. Um dos envolvidos chegou a tentar um habeas corpus preventivo, impedindo que a polícia entrasse na casa dele e tentando induzir o Judiciário ao erro, alegando o uso para tratamento pessoal. O pedido já havia sido negado pela 2ª Vara de Entorpecentes que percebeu a fraude.
Crimes e penas
Os investigados na operação Quantum Stealh foram indiciados pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. As penas somadas ultrapassam os 35 anos de reclusão. De acordo com a polícia, o tráfico de drogas é um crime hediondo com regime de progressão de pena rigoroso e regime inicial fechado.
A PCDF alerta a população de que a plantação caseira e a distribuição pública de qualquer derivado da maconha caracteriza tráfico de drogas. “As pessoas que realmente necessitam do canabidiol para tratamento terapêutico devem procurar órgãos autorizados após indicação médica e autorização judicial para posse da substância”, ressalta o delegado.
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