Mulheres de várias regiões do Distrito Federal se reuniram nesta tarde (15), em frente à Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), para pedir o afastamento do deputado distrital Daniel Donizet (PL), após denúncias de assédio contra mulheres. Uma representação por quebra de decoro parlamentar para cassação de seu mandato e o afastamento do cargo foi protocolada na Casa por representantes do Instituto Libertar. Em nota, Donizet disse que não teve acesso à representação. O parlamentar disse que repudia "todo e qualquer ato de violência à mulher e tem a certeza que, ao final, tudo será esclarecido e comprovado que nunca praticou delito algum".
Em julho, denuncias foram apresentadas no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), sobre supostos atos de assédio sexual envolvendo Daniel Donizet. Cerca de 150 mulheres de Taguatinga, Gama, Ceilândia, Riacho Fundo II, Cruzeiro e Guará, se uniram na frente da CLDF e participaram da manifestação.
A presidente do Instituto Libertar, Maya Maria, destacou que "é preciso dar um basta na violência contra mulheres" e destacou o elevado número de feminicídios ocorridos no DF, um total de 23 casos registrados de janeiro até agora. Além disso, o grupo protocolou documento que pede o afastamento de Daniel Donizet.
“Não podemos tolerar um deputado assediador e agressor que foi reeleito pelo povo, sentado na Casa do povo depois de denúncias contra ele e seus assessores. Queremos agilidade e compromisso dos outros parlamentares, do governador do Distrito Federal, da vice-governadora e do presidente desta Casa de leis, o deputado distrital Wellington Luiz, para providências que afastem Donizet até que as investigações sejam concluídas”, ressaltou Maya.
"Mais união"
Moradora do Cruzeiro, Claudia Rocha, de 60 anos, vítima de violência, explicou que apoia o grupo porque acredita que a “união faz a força”, em momento de tanta vulnerabilidade em que as mulheres precisam se fortalecer e dar um basta na violência contra elas.
“Fui vítima de violência, senti na pele e sei o quanto uma mulher sofre cada vez que é agredida. Sei também o quanto é difícil encontrar apoio, simplesmente pelo fato de sermos mulheres, somos diminuídas até quando buscamos ajuda”, frisou.
Claudia contou também que o ato em frente à CLDF mostra que o povo elege, mas espera no mínimo receber respeito por parte dos eleitos. “Se não contamos com o respeito deles, quem vai nos respeitar?”, frisou.
Dayana Kelly, de 42 anos, vítima de violência doméstica por 14 anos, à frente do projeto “Juntas somos mais fortes”, ressaltou que o movimento mostra que a mulher tem voz. “Fui vítima por muitos anos, venci, hoje ajudo outras mulheres, para que não sejamos mais um número, precisamos levantar nossa voz para continuarmos vivas”, enfatizou.
O advogado José Moura, que representa vítimas assediadas por Daniel Donizet, afirmou que após denuncias envolvendo uma garota de programa e um assessor do distrital, várias mulheres estão fazendo ocorrências contra ele. Destas, conforme contou, ele faz a defesa de três vítimas do parlamentar.
"Os supostos crimes estão sendo apurados pelo Ministério Público e vamos aguardar as investigações. Um documento pedindo que sejam tomadas providências sobre o comportamento do deputado, foi protocolado na CLDF", lembrou.
Celeridade
Durante as manifestações, as deputadas Dayse Amarílio (PSB), Jane Klébia (MDB), Jaqueline Silva (MDB) e Paula Belmonte (Cidadania), conversaram com o grupo de mulheres e se comprometeram a cobrar agilidade ao caso.
“Vamos cobrar respostas, ver o que está na Procuradoria da Mulher da Câmara Legislativa e falar com o presidente desta Casa. Queremos celeridade na averiguação do inquérito e o que consta nos autos. Ainda nesta semana esperamos ter retorno, destacou a deputada Dayse Amarílio.
A deputada Jane Klébia procuradora da Mulher da CLDF, ressaltou o compromisso em defesa da mulher. “Essa é minha principal pauta, a procuradoria acompanha a apuração das denúncias, estamos em diálogo direto com a Presidência da Casa e nos colocamos à disposição de todas as mulheres para orientações e defesa de seus direitos e sua dignidade”, explicou.
Em nota, o Bloco PSOL-PSB informou que “as denúncias veiculadas pela imprensa são graves e precisam ser averiguadas. É intolerável que qualquer mulher seja submetida a assédio ou qualquer forma de violência”.
Outro lado
Em nota distribuída na noite desta terça-feira (15/8), o deputado Daniel Donizet negou as acusações de assédio sexual e atribuiu a representação apresentada pelo Instituto Libertar a uma articulação da oposição. Veja a íntegra do documento:
"O deputado Daniel Donizet informa que não teve acesso à representação enviada à Câmara Legislativa. Mas tem certeza que a referida representação é objeto de uma articulação da oposição que pretende alcançar, a qualquer custo, sua posição política.
Daniel Donizet esclarece que permanecerá firme em sua cadeira até o fim do seu mandato, fazendo jus à confiança e em respeito a todos os seus eleitores. Mais uma vez, afirma que repudia todo e qualquer ato de violência à mulher e tem a certeza que, ao final, tudo será esclarecido e comprovado que nunca praticou delito algum.
Sobre a notificação do PL, o deputado esclarece que já respondeu a notificação formal do PL com todos os esclarecimentos necessários.
Referente a ocorrência policial de ameça a um dos assessores do deputados, a assessoria do deputado vai pedir a devida apuração do caso."
Reportagem da jornalista Laezia Bezerra
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