Era noite quando Pedro Campos, 26 anos, preparava-se para mais uma missão: colocar Maitê, de um ano e três meses, para dormir. Em um dia, a tarefa fica por conta dele, noutro, por conta da mãe — e assim funciona com o restante das demandas: dar banho, alimentar, brincar, levar para a escola e para as consultas. Agora, por exemplo, o publicitário tem se aprimorado em fazer penteados no cabelo da pequena. Além de apreciar cada momento com a filha, ele reconhece que sua responsabilidade é equivalente a da mãe. "Se percebemos que há atividades feitas apenas por minha esposa, busco aprender para cumprir a minha parte", afirma.
E os cuidados devem começar desde a gestação. No Hospital Regional de Samambaia (HRSam), dos 300 partos ao mês, em média, 91% das gestantes estavam acompanhadas, conforme informações da Secretaria de Saúde do DF. Compartilhar com a parceira ou o parceiro a decisão de ter ou não filhos, qual a melhor hora para tê-los e prezar pelo cuidado físico e emocional que se dá à criança são práticas associadas à paternidade ativa.
Segundo a Cartilha para pais: como exercer uma paternidade ativa, do Ministério da Saúde, trata-se de uma maneira única de olhar, de falar e de cuidar. A publicação traz ainda orientações sobre processo de planejamento reprodutivo, pré-natal, parto, pós-parto da parceira e cuidados no desenvolvimento da criança.
Benefícios a todos
Luisa Magalhães, psicóloga clínica e especialista em abordagem sistêmica, explica que a presença de um pai participativo e atento às necessidades da família contribui em peso para o desenvolvimento das crianças, principalmente no que se refere à autoestima, à formação do apego seguro e à promoção do bem-estar emocional. Além disso, impacta positivamente o desempenho escolar dos filhos.
Mas os benefícios não se restringem à prole. O exercício da paternidade ativa influencia nas perspectivas individuais de cada membro do lar. "Há mudanças de prioridades e interesses, nas concepções de sucesso e metas para o futuro, assim como no desenvolvimento de masculinidades saudáveis. Quando comprometidos com a parentalidade, os homens tendem a vivenciar maior satisfação pessoal, principalmente nas áreas profissional, familiar e social", detalha.
Embora existam avanços no engajamento paterno, a especialista pontua que ainda há muito o que ser feito. Entre as intervenções necessárias, ela cita: campanhas de educação em saúde a respeito do tema; aumento da licença-paternidade por instituições públicas e privadas; e disponibilização de grupos, promovidos por profissionais da saúde, que possam acolher esse pais e esclarecer dúvidas sobre o exercício da paternidade ativa.
Tempo de qualidade
Para o consultor de investimentos Guilherme Ferreira, 35, a paternidade trouxe a sensação de extrema responsabilidade. "Vejo que não posso mais correr riscos, tanto financeiros quanto físicos", argumenta. Em sua rotina com a família, o pai de Bernardo, de 2 anos, e de Augusto, de 11 meses, se dedica a passar todas as manhãs com os pequenos. Os três praticam natação juntos e, à noite, o casal reveza os cuidados com as crianças.
Com tantas demandas do trabalho, ele avalia que encontrar tempo de qualidade para estar com os filhos é o maior desafio para os pais que visam exercer, com plenitude, a paternidade. Em concordância, Pedro Campos destaca que o pouco tempo de licença-paternidade, por exemplo, atrapalha os primeiros momentos de criação de vínculo com o bebê. O publicitário pontua, por outro lado, que, culturalmente, facilita-se muito a vida do homem que não cumpre seu papel enquanto pai. "Um erro", conclui.
Pai Nota 10
No centro obstétrico e na maternidade do HRSam, pais ativos nos primeiros cuidados com o bebê recebem da equipe o certificado Pai Nota 10, entregue antes da alta. Para conquistá-lo, é preciso colocar a mão na massa: trocar as fraldas, auxiliar a puérpera na amamentação, segurar o bebê para a mãe descansar, estar atento às orientações dos enfermeiros e ser colaborativo.
"Na maternidade, há folhetos explicativos com orientações para os genitores. O apoio que o parceiro fornece à puérpera é muito importante, contribuindo para uma rápida recuperação e, consequentemente, para a sua alta", informou a SES. Além disso, a pasta acrescentou que as mulheres são sempre estimuladas pela equipe de enfermagem a chamarem alguém de confiança para acompanhá-las. Porém, em muitas situações, os companheiros precisam trabalhar ou têm que ficar com os outros filhos em casa.
Ao identificar pacientes mais carentes ou mais reservadas, a equipe aciona um psicólogo ou o serviço social para acompanhá-la. "Lembrando que cada caso é individual e que a maioria delas está acompanhada dos parceiros", destacou o órgão.
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