Dados do último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde (SES) mostram que, de janeiro a 19 de agosto de 2023, foram notificados 33.857 casos suspeitos de dengue no Distrito Federal, dos quais 25.741 eram prováveis. Não houve registro de mortes em decorrência da doença. Foi observada, nesse período, uma redução de 61% no número de casos possíveis de dengue em residentes na capital se comparado ao mesmo período de 2022, quando foram registrados 61.608, sendo que oito pessoas perderam a vida. Especialmente pelo seu poder letal, a doença preocupa.
Para otimizar o trabalho dos agentes de saúde na prevenção ao Aedes aegypti, um aplicativo chamado SisVetor foi desenvolvido pela Universidade de Brasília (UnB) com financiamento do Ministério da Saúde. O objetivo da iniciativa é controlar a disseminação do mosquito transmissor da dengue, por meio da troca de informações. A ferramenta otimiza a apuração de dados e é capaz de funcionar mesmo em locais onde não há internet. De acordo com a pesquisa, o tempo de ação dos agentes de saúde passa de duas semanas para 24 horas. As informações coletadas em campo são inseridas na plataforma, que pode ser acessada tanto pelo agente quanto pelos gestores.
O software SisVetor integra o Projeto ArboControl, que se propõe a investigar o controle do vetor Aedes aegypti e das chamadas arboviroses dengue, zika e chikungunya. O projeto é coordenado por Jonas Brant, professor do Departamento de Saúde Coletiva e coordenador do projeto e da Sala de Situação da UnB. Para o docente, do ponto de vista científico, foi mostrado que é possível coletar dados em tempo real de maneira eficiente. "Com o software é possível tomar decisões assertivas com base em evidências, assim planejando melhor as atividades de campo", conta. Ainda de acordo com Brant, o projeto tem uma importância muito grande no combate à dengue. Isso porque o enfrentamento da doença precisa começar na raiz do problema. "Os casos de dengue ocorrem porque a gente tem muitos Aedes aegypti picando uma pessoa e picando outras pessoas e, assim, levando o vírus de uma pessoa para outra. A melhor maneira de reduzir o número de casos é controlar a população desse mosquito", aponta.
Os resultados favoráveis são fruto dos testes feitos desde 2019 em Manaus (AM) e Sete Lagoas (MG). A etapa experimental terminou. O projeto segue em fase de negociação com o Ministério da Saúde para tentar seguir e ampliar o projeto para outras unidades da federação, inclusive o Distrito Federal.
Outros métodos
Enquanto o SisVetor não chega, um outro método de combate ao mosquito que transmite dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana será implementado pela Secretaria de Saúde (SES-DF). A técnica consiste na liberação de mosquitos Aedes aegypti contaminados com bactérias Wolbachia — um micro-organismo que reduz o potencial para a transmissão das doenças.
O diretor da Vigilância Ambiental do órgão, Jadir Costa, ressalta que essa bactéria já foi testada e não oferece risco aos seres humanos e a outros animais. "Ela é naturalmente encontrada em insetos. Então, é um método que vem para agregar junto a outras metodologias que visam controlar e diminuir as transmissões de doenças como a dengue", aponta. Jadir garante que o método é eficaz e auto-sustentável. "As novas gerações com bactérias Wolbachia irão cruzar entre eles e vão gerar novos mosquitos com esse micro-organismo e que não irão transmitir a doença", completa.
Luta antiga
A luta da ciência contra o Aedes aegypti é de longa data no Distrito Federal. Em 2019, professores do Núcleo de Medicina Tropical da UnB desenvolveram um método que apontou uma redução de 80% na quantidade de mosquitos da dengue em São Sebastião. A estratégia para combater os focos de Aedes aegypti consistiu na utilização de um recipiente de plástico, que se parece com um vaso de planta, cheio d'água e com pó de larvicida na borda. As fêmeas, responsáveis pela transmissão de outras doenças, como zika e chikungunya, pousam no pote e esbarraram no pó. Depois, espalham nos ovos o produto fatal para as larvas.
A região de São Sebastião foi a escolhida, à época, pelo alto número de casos de dengue. O professor da UnB e participante da pesquisa Marcos T. Obara conta que, depois do sucesso da empreitada, os dados dos anos 2021 a 2023 vêm sendo analisados para posteriormente serem divulgados. Segundo ele, a perspectiva é de que sejam anunciados ainda este ano, e quem sabe, o seja efetivamente difundido em todo o DF.
Contaminação
O professor de física e morador da Vicente Pires Rômulo Rocha, de 35 anos, conta que já pegou dengue quatro vezes e acredita ter sido picado na região onde mora. "É uma dor muito forte no corpo, atrás do olhos, calafrios e diarreia constante. Toda vez que pego penso que vou morrer, porque a sensação é terrível", relata. Já o vendedor Antônio César, 60, pegou chikungunya em janeiro deste ano e relata que, além das fortes dores, sentiu inchaço nos pés que o deixou sem andar por cerca de cinco dias. "Mesmo depois de meses, ainda sinto dores embaixo dos meus pés, o que me prejudica no trabalho", conta. César se assustou com os severos sintomas da doença e temeu morrer quando se deparou com as limitações de locomoção.
De acordo com a SES, ao longo deste ano, quase 1,5 milhão de imóveis já foram inspecionados no DF e 329 mil depósitos precisaram ser tratados ou eliminados, desde vasilhas, calhas e caixas d'água. O órgão aponta que diversas estratégias têm possibilitado que o DF tenha mantido baixos índices de casos de dengue. Um exemplo é o fumacê, o carro que percorre as ruas despejando um inseticida de dosagem baixa, que pode atingir letalmente o inseto transmissor de arboviroses.
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