Participante do segundo painel do Debate Combate ao Feminicídio do Correio Braziliense, realizado nesta quinta feira (20/7), com o tema: "Rede de apoio contra a violência: educar para transformar", o juiz titular do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher do Núcleo Bandeirante, Ben Hur Visa, afirma que sem investimento em educação e pesquisa, é impossível fazer um enfrentamento contra o feminicídio no Distrito Federal.
"É imprescindível investir primeiramente em educação, o Estado precisa trazer essa discussão para o ambiente escolar e parar de enxugar gelo em relação à violência doméstica. Não adianta passar o pano se de fato não atingir um problema tão grave como esse que estamos enfrentando, que é a violência contra a mulher. Além disso, precisamos descobrir onde estamos falhando, como Estado e como sociedade", ressalta.
De acordo com o juiz, o número alto de morte de mulheres ou de violência doméstica ocorridos no Distrito Federal só terá diminuição a partir de uma política pública voltada para a conscientização e a educação "para que a sociedade possa evoluir e que mulher possa ser vista de outra maneira". E, também, "para que ela tenha o direito de andar como ela quiser", ressalta. De acordo com Ben Hur, a discriminação estrutural está enraizada na sociedade de maneira sutil.
"Se uma mulher é vítima de estupro, o primeiro questionamento feito é o motivo pelo qual ela estava vestida com roupas curtas, ou estava em local ermo em determinada hora, ou seja, quando há esse tipo de pergunta, você sutilmente atribui à mulher a culpa por ela ter sido estuprada", enfatiza.
Investir em pesquisa é outra política importante para atacarmos o machismo estrutural e mudarmos a forma como a mulher é vista pela sociedade e e a maneira como as pessoas colocam a mulher em situação de desigualdade, dando à ela a condição de subordinação, conforme explica o juiz.
"Precisamos investir na pesquisa, mapear o perfil do agressor, descobrir o motivo desses crimes e mudar a maneira como a sociedade enxerga a mulher, como se ela fosse 'coisa', objeto", afirma.
Segundo o magistrado, existem pesquisas que apontam que 60% das mulheres assassinadas têm entre 18 e 40 anos de idade e que 90% dos casos ocorreram dentro de casa. Diante disso, é necessário uma política séria de Estado e não só de governo. "Precisamos de mais proatividade e não ficarmos só nos debates" frisa.
Ben Hur disse ainda, durante o painel, que é importante o papel da imprensa na divulgação dos crimes de feminicídio, um elemento importante para alertar e conscientizar as mulheres na busca de ajuda quando sofrerem algum tipo de violência.
"Trazendo a notícia, a imprensa mostra para outras mulheres que ela pode ser mais uma vítima e isso encoraja essa mulher a buscar ajuda e, muitas vezes, efetivar a denuncia ", ressalta.
Além do juiz de direito Ben Hur Visa, participaram do segundo painel do Debate: Combate ao Feminicídio: Uma responsabilidade de todos, com o tema: Rede de apoio contra a violência: educar para transformar, a assessora internacional do Ministério das Mulheres, Rita Lima; a representante do Ministério da Mulher, Wânia Pasinato e a coordenadora do observatório POP da Universidade de Brasília (UnB), Marjorie Chaves.