Atos antidemocráticos

Coronel pediu viaturas como 'barreiras móveis' para evitar conflito no 8/1

Em documento enviado à CPMI, PM anexou uma ata sobre a reunião que tratou do protocolo de ações de segurança do 8 de janeiro. Nele, o coronel pediu seis viaturas ao Corpo de Bombeiros para servirem como barreiras, em caso de evolução das manifestações

O coronel Marcelo Casimiro, ex-comandante do 1° Comando de Policiamento Regional pediu, nas vésperas do 8 de janeiro, seis viaturas do Corpo de Bombeiros para servirem como “barreiras móveis” em caso de evolução das manifestações na Esplanada. O pedido não foi atendido.

Em documentos repassados à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) apresentou a ata de diálogos entre os órgãos que estavam presentes na confecção do Protocolo de Ações Integradas (PAI). Além do pedido dos caminhões, o oficial sugere que seja elaborado um novo esquema de segurança caso viesse a se confirmar as manifestações daquele final de semana — o que não ocorreu, apesar de um relatório da inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) e um aviso da Polícia Federal ao secretário-interino.

O documento cita que Casimiro pediu os caminhões, mas o chefe de operações do Corpo de Bombeiros (CBMDF) disse que não seria possível. “O TC Rangel informou que não seria possível a disponibilização por falta de tempo hábil para acionamento dos meios, mas que, de acordo com a necessidade do nível de segurança, poderá ser fornecido”, cita o trecho. Não há citação de qual viatura seria disponibilizada.

No encontro, o coronel que era responsável pelo batalhão da Esplanada — e estava de folga no 8 de janeiro — também cita que estava monitorando com a inteligência da PMDF sobre os atos, porém que não havia informações concretas com relação aos movimentos dos manifestantes. Nesse mesmo, no documento, o coronel cita que haviam áudios circulando nas redes sociais de possibilidades de invasão de prédios públicos, e solicitou reforço das portarias e da segurança dos prédios federais.

Blindado

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa (CLDF), o comandante-geral da PMDF, coronel Klepter Rosa, explicou que um blindado — chamado de Centurion — da corporação, que poderia também servir como barreira, apresentou uma “pane” durante os atos de 8 de janeiro, quando os policiais tentavam impedir a invasão de manifestantes aos prédios dos Três Poderes. O blindado foi entregue à corporação em 2013, após ser comprado pelo valor de R$ 1,6 milhão.

Ao responder uma pergunta do deputado distrital Gabriel Magno (PT-DF) sobre rumores de que o blindado estaria danificado, o coronel explicou que o carro estava em campo no 8 de janeiro, mas que em determinado momento, apresentou uma “pane”.

“O interventor solicitou que eu apresentasse para ele o oficial que estava comandando a tropa. Foi relatado à época essa questão da pane. O tenente chegou até a mostrar um áudio do motorista do Centurion avisando de que havia um problema no balão de ar”, disse.

“Realmente, é uma viatura antiga. Precisa de manutenção constante. Após esse fato, foi solicitado se houve, realmente, um conserto. Uma nota fiscal foi apresentada comprovando que o veículo apresentou dano. Por se tratar de um veículo muito pesado, com muitos anos de operação, ele apresenta panes de tempos em tempos. Inclusive, uma das nossas ações é começar um processo de novas contratações, para que não ocorra mais”, completou Rosa.

Em 2013, dois blindados foram comprados pelo governo do Distrito Federal por R$ 3,2 milhões — R$ 1,6 milhão cada. O objetivo da aquisição, à época, era ter uma ferramenta para auxiliar no controle de manifestações e em grandes eventos, como a Copa da Confederações e a Copa do Mundo.

Os carros são equipados com três câmeras (uma de 360 graus e infravermelho e duas para o controle do motorista), canhão de água, com alcance de 50 metros, limpa-trilhos, ar-condicionado, pintura antichamas, pneus reforçados e espaço para acomodar até 21 pessoas. 

Os "Centurion" são geralmente usados para controlar distúrbios civis, evitando contato físico dos policiais com manifestantes. Os blindados, à época, foram apelidados pelo batalhão de Choque como Centurion, que remete à ideia de uma força equivalente a 100 homens. Os carros têm carga de até 33 toneladas, motores com 440 cavalos de força e rodam até 50 km com pneus vazios.

A estreia do equipamento ocorreu no jogo entre Santos e Flamengo, no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, que marcou a despedida do atacante Neymar Jr. do time paulista. Quase 10 anos depois, o equipamento falhou ao não impedir os invasores nos prédios dos Três Poderes.

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