Segurança pública

Com pouco efetivo da PM nas ruas do DF, a sensação de insegurança continua

Moradores e comerciantes ouvidos pelo Correio em cinco regiões relatam angústia ao sair de casa pela ausência de policiamento nas ruas. Em 10 anos, são menos 4 mil agentes na corporação. Manter FCDF é essencial, alerta especialista

Apesar da queda dos índices de criminalidade no Distrito Federal, provocada pela integração das forças de segurança, a sensação da população é de medo da criminalidade porque o efetivo policial, reduzido nos últimos anos, tem sido destacado para áreas mais críticas.

Moradores e comerciantes ouvidos pelo Correio em cinco regiões do Distrito Federal relatam angústia e medo ao sair de casa e lamentam redução de policiamento ostensivo nas ruas. Em 10 anos, a PMDF teve perda de pelo menos 4 mil agentes.

O temor de ser vítima de algum tipo de crime ou algo que coloque sua vida em risco provoca em cidadãos uma sensação de insegurança que se reflete na comunidade que o rodeia. De acordo com especialistas, no Distrito Federal, esse sentimento coletivo pode estar relacionado com a sensação de redução no policiamento nas ruas. O Correio percorreu cinco regiões onde a angústia e o medo são apontados pela população.

Para Leonardo Sant'Anna, especialista em segurança pública, enquanto não houver mais policiamento nas ruas a população vai continuar com o sentimento de vulnerabilidade. "Quando falamos em segurança pública relacionamos isso à presença do policial na rua, como a figura da antiga dupla Cosme e Damião, serviço que não dispomos atualmente. O DF precisa adotar ações de segurança inteligente para evitar que seja potencializada a sensação de medo na população", destaca ele.

Atualmente o efetivo da Policia Militar do Distrito Federal (PMDF) é de 10.423 policiais. Em 2013, a corporação contava com 14.378 militares — um contingente 27% maior. Para a presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), Ana Izabel de Alencar, a redução no efetivo das Polícias no Distrito Federal deixa a população em estado de alerta. "A falta do policial nas ruas provoca medo nas pessoas independentemente de horário. O DF precisa investir, com urgência, na força policial. Temos uma população de cerca de três milhões de habitantes, incluindo a população do Entorno que usa serviços essenciais em Brasília, como o de segurança. O Estado tem que renovar todo o efetivo policial, para oferecer segurança à população que se encontra vulnerável neste momento, porque a população só aumenta e o número de policiais diminui", ressalta a especialista, que, reforça a importância do Fundo Constitucional para o DF e como a retirada do recurso poderá impactar diretamente na vida de toda a população.

Giro por regiões

O Correio circulou pelas ruas de Águas Claras, Guará, Vicente Pires, Ceilândia e Taguatinga. Na primeira, foram 270 registros de crimes contra o patrimônio entre janeiro e junho deste ano. Chama a atenção o número de furtos em veículos: das 270 ocorrências, 199 são relacionadas a esse crime e 57 a pedestres. No Guará, foram 286 ocorrências, com 174 roubos a transeuntes e 92 furtos em veículos. Ceilândia contabilizou 1.797 boletins, sendo 1.302 roubos a pedestres e 292 furtos em veículos. Já em Taguatinga foram registradas 1.347 ocorrências, com 813 pedestres roubados e 419 furtos em carros. Das 172 ocorrências registradas em Vicente Pires, 92 são relacionadas a roubos a pedestres e 66 furtos em veículos.

A diarista Valdelice Pinheiro, 43 anos, moradora de Ceilândia, pega ônibus todos os dias por volta das 5h40 para ir ao trabalho, na Asa Sul. Com muita angustia, relatou a insegurança que sente, apesar da parada ficar em frente um posto policial da Polícia Militar. "Vivo com medo constantemente. Sempre que vou sair de casa presto atenção no movimento das ruas, ando assustada, olhando para os lados, nunca vejo uma viatura ou um policial nas ruas, mesmo com um ponto policial no centro de Ceilândia", afirma.

Gerente de uma loja de calçados na avenida comercial da QNN 2, Marcivon Barbosa de Brito também ressalta a insegurança no local. Ele conta que os clientes têm a sensação de medo estampada no rosto quando entram na loja. "Vivemos em alerta o tempo todo, esperando algo acontecer. Raramente passa uma viatura por estes lados, é uma sensação ruim e desagradável para todos nós, comerciantes e clientes. Sem o policiamento nas ruas, nos sentimos muito vulneráveis", lamenta o comerciário. "A policia poderia passar de vez em quando pelo menos para intimidar as pessoas que vem para o centro de Ceilândia com a intenção de cometer crimes", reforça Severino Neto do Nascimento, 59, que trabalha como feirante no centro de Ceilândia desde 2019.

Morador de Santa Maria, José Fábio, 59, trabalha em uma loja comercial há 13 anos. Gerente do estabelecimento, ele conta que são muitos os problemas enfrentados no local por falta de policiamento, principalmente nos finais de semana e em datas comemorativas, como o Natal, período em que o fluxo de pessoas nas ruas diminui e favorece a criminalidade. "Estamos inseguros todos os dias, mas nos finais de semana, o risco de sofrermos algum tipo de crime é ainda maior, com o fluxo de criminosos nas ruas. Outro problema que enfrentamos são as pessoas em situação de rua, que nos abordam o tempo todo e não vale a pena fazer ocorrência, porque não tem polícia para atender quando é necessário", destaca.

Em Vicente Pires, Sandra Maria da Silva, moradora da quadra 323 há 18 anos, ressaltou à reportagem que andar pelas ruas da região não lhe traz tranquilidade alguma. Muito pelo contrário, ela está sempre atenta desde que o esposo foi assaltado, em 2021, entrando em uma igreja próxima a sua residência. "Não temos um policiamento efetivo em nenhum lugar da cidade. Raramente vejo um policial nas ruas. Os assaltos e roubos acontecem a qualquer hora, até na porta de uma igreja", lamenta.

Em uma padaria na mesma avenida, em Vicente Pires, trabalha Deyse Souza, 27, e Elson Neto de Souza, 21. Os dois funcionários saem do trabalho por volta das 22h30 todos os dias e vão até a parada pegar o ônibus. A moradora de Taguatinga destaca o medo e a aflição. "A caminhada até a parada de ônibus é pavorosa. As ruas são desertas, sem policiamento e sem iluminação, e isso me causa uma aflição horrível todas as noites", reclama.

No Guará, a sensação não é diferente. Italo Ramon da Silva, 32, trabalha em um quiosque no Conj. I da Quadra 28, há 10 anos e diz que perdeu a conta do número de assaltos e roubos ocorridos no local. "Não dá pra contabilizar as vezes em que fomos assaltados e o tamanho do prejuízo. Esse tipo de crime acontece diariamente e, às vezes, é cometido pela mesma pessoa. Quando acionamos a polícia, demora muito recebermos um retorno; quando a polícia chega, o fato ocorreu faz tempo", desabafa.

Enedina Caldas, moradora de Águas Claras, teme sair na rua à noite. Moradora da Rua 3 Norte há três anos, ela afirma nunca ter visto policiais nas ruas. "Me sentia mais tranquila quando os policias andavam pelas regiões, tinha a sensação de estar segura com a presença deles. Agora, sinto medo de sair do bloco ou deixar o carro do lado de fora nem que seja por um instante", ressalta.

Redução nos crimes

Apesar da redução no efetivo e das queixas de insegurança da população em algumas regiões mais críticas, os números da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) apontam uma redução considerável nos crimes contra o patrimônio nos últimos três anos. Esses delitos englobam os roubos contra pedestres, de veículos, de transporte coletivo, em comércios, em residências e furtos em veículos. No primeiro semestre de 2023, a capital registrou 11.625 ocorrências do tipo. No mesmo período do ano passado, o número foi de 14.253, uma queda de mais de 18% (veja Números).

De acordo com a SSP/DF, o Distrito Federal se mantém em constante queda nos principais índices criminais devido à integração do trabalho, à utilização de tecnologia e inteligência policial e à constante melhoria dos processos de gestão e relacionamento com a sociedade civil. Os levantamentos são utilizados na elaboração de estratégias para o policiamento militar ostensivo.

A pasta informa, ainda, que a PMDF tem implementado ações de reforço à segurança nas regiões de Brasília, como o direcionamento do efetivo policial em áreas consideradas críticas, intensificação do patrulhamento ostensivo e realização de operações específicas de combate à criminalidade. Já a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) tem realizado diversas operações com o objetivo de coibir crimes praticados por grupos criminosos em todo o DF.

A SSP-DF destaca a importância de a população fazer o registro de ocorrências para subsidiar a elaboração de estudos e manchas criminais que indicam dias, horários e locais de maior incidência de cada crime, entre outras informações relevantes para o processo de investigação.

Saiba Mais

 

Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 11/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Insegurança no Guará com a falta de policiamento no local. Ítalo Ramon da Silva(quiosque QE28).
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 11/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Insegurança na Ceilândia com a falta de policiamento no local.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Severino Neto é feirante em Ceilândia desde 2019
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 11/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Insegurança na Ceilândia com a falta de policiamento no local.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Para Deyse Souza, caminhar até a parada de ônibus é uma tortura
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 11/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Insegurança na Ceilândia com a falta de policiamento no local.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Elson Neto toma condução de volta para casa às 22h30
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 11/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Insegurança em Taguatinga com a falta de policiamento no local.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 11/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Insegurança na Ceilândia com a falta de policiamento no local.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 11/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Insegurança na Ceilândia com a falta de policiamento no local.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - A diarista Valdelice Pinheiro pega ônibus às 5h40 em Ceilândia
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - No Guará, Ítalo Ramon perdeu as contas dos assaltos ocorridos
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Sandra Maria (E) perdeu o marido em um assalto na porta da igreja
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 11/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Insegurança na Ceilândia com a falta de policiamento no local. Valdelice Pinheiro.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 11/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Insegurança em Vicente Pires com a falta de policiamento no local.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 11/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Insegurança na Ceilândia com a falta de policiamento no local.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 11/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Insegurança na Ceilândia com a falta de policiamento no local.