FCDF

Recesso da Câmara dos Deputados deixa FCDF em compasso de espera

Com o adiamento da votação do arcabouço fiscal, políticos do DF ganham mais um mês para articular e defender a importância da preservação do Fundo Constitucional do DF. Governadora em exercício, Celina Leão mantém otimismo

Apesar da frustração inicial da classe política do Distrito Federal com o adiamento da votação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 93/2023 — que institui o arcabouço fiscal e define o futuro do Fundo Constitucional do DF (FCDF) —, o recesso parlamentar pode ser uma oportunidade de intensificar as negociações no sentido de garantir de vez a preservação do FCDF. Para a governadora em exercício Celina Leão (PP), "o otimismo continua". As atividades no Congresso Nacional ficarão suspensas por um pouco mais de um mês. O desafio da bancada e do Governo do DF será aproveitar este período para seguir defendendo a preservação do FCDF e não deixar esfriar as negociações com o governo federal e a Câmara dos Deputados feitas até o momento.

Deputado federal pelo MDB-DF, Rafael Prudente disse ao Correio que o melhor seria que a votação ocorresse na sexta-feira. "O clima era favorável. Agora, vamos ficar nessa angústia e acompanhando de perto as tratativas, junto aos líderes da Câmara", ressaltou. "Vamos esperar esse recesso, para a gente ver quando será a reunião de líderes (após o período) e ponderar sobre o FCDF. Haverá uma discussão pelo fato de que não se pode costurar um texto novo agora. Por questões jurídicas, ou fica como veio do Senado ou fica com o texto da Câmara. Vamos analisar tudo isso", complementou Prudente.

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O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) também comentou sobre o adiamento da votação. "Enquanto não votam, fica do jeito que está e prevalece o texto atual. Espero que, quando o arcabouço for apreciado, se mantenha o texto do Senado", ressaltou o tucano.

O deputado Reginaldo Veras (PV-DF) declarou que vai continuar trabalhando no convencimento dos demais deputados quanto à importância do Fundo Constitucional do DF, mas tem medo de que o recesso parlamentar esfrie as negociações conquistadas até o momento. "Entendo que a situação é parte da queda de braço de Lula e (Arthur) Lira", opinou o parlamentar.

A deputada Erika Kokay (PT-DF) acredita que a bancada deve aproveitar cada momento até a votação. "Penso que devemos aproveitar esse período para continuar no mesmo movimento. Se nós votássemos hoje (sexta-feira), acredito que teríamos grandes chances de manter o texto do Senado, até porque várias lideranças nos pontuaram que havia esse acordo de manutenção do texto do Senado no que diz respeito ao Fundeb e ao Fundo Constitucional. A nossa expectativa era que toda essa articulação se consolidasse em uma grande vitória para o Brasil que seria a manutenção das condições atuais do FCDF. Isso não foi possível, então, nos cabe aproveitar o recesso e os primeiros dias de agosto para intensificar essa discussão com o colégio de líderes", comentou a parlamentar. "Acho que deveríamos reunir todos os parlamentares do DF aqui da Casa para que possamos estar presentes na primeira reunião do colégio de líderes da Câmara para reafirmar a necessidade da manutenção do texto do Senado", acrescentou Erika.

Análise

Cientista político especialista em Estado e governo, Valdir Pucci afirma que é sempre bom lembrar a importância do Fundo Constitucional. "Brasília é a capital da República e, por isso, tem algumas especificidades, diferentemente de outras cidades. Em especial, a alma da cidade, que é voltada para o serviço público. Além disso, Brasília atende todas as necessidades da República, pois abriga os Três Poderes, em todos os seus aspectos", destaca.

"Muitos podem dizer que os parlamentares não fazem uso do sistema de saúde ou de educação de Brasília. Mesmo assim, o FCDF é importante, justamente para manter esses serviços funcionando para a população do Distrito Federal, além de que os recursos podem ser utilizados para a preservação da República e do status da cidade de capital federal", observa o especialista.

Em relação ao cenário atual na Câmara dos Deputados, Pucci acredita que o fato de o relator, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), estar convicto da necessidade de fazer o corte no fundo, preocupa um pouco. "A Câmara pode manter o seu texto original, antes de ir para o Senado. O próprio Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa, ainda não fechou posição sobre essa questão, o que causa certa apreensão no cenário político do DF", alerta. "Por isso, Brasília ainda corre risco de perder parte do recurso. A não ser que haja um grande empenho dos parlamentares do DF. Somos uma bancada muito pequena, mas temos deputados influentes, que podem trabalhar, junto aos seus partidos, para que se tenha a manutenção do texto do Senado", pondera o cientista político.

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Cronologia

18 de abril

Governo federal entrega ao Congresso o Projeto de Lei que institui o arcabouço fiscal, sem alterações no Fundo Constitucional do DF.

23 de maio

Câmara aprova texto-base do projeto do arcabouço fiscal, já com as alterações feitas pelo relator Cláudio Cajado, entre elas, a inclusão do Fundo Constitucional do DF no teto de gastos.

21 de junho

Senado aprova relatório de Omar Aziz, que altera texto de Cajado e retira Fundo Constitucional do teto de gastos.

4 de julho

A votação da matéria é adiada, na Câmara dos Deputados, por conta de pautas que tramitam em regime de urgência — é o caso do Projeto de Lei 2384/23, que altera o funcionamento do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) — e, por este motivo, trancam a pauta até serem apreciadas.

7 de julho

Após longas articulações, fica decidido que a votação do arcabouço fiscal — que inclui o Fundo Constitucional — acontecerá somente após o recesso parlamentar,

em agosto.

(artigo) É preciso preservar o FCDF, por Murilo Viana — economista especialista em contas públicas

 

A importância do Fundo Constitucional para o DF é indiscutível. O Distrito Federal é um ente federativo diferenciado. Há toda uma complexidade envolvendo a região onde fica localizada a capital do país. Ser a sede dos Três Poderes é apenas uma das funções do DF. A taxa de crescimento populacional é significativa para a necessidade de um recurso federal que ajude a financiar as áreas da saúde, educação e segurança pública. Brasília é a terceira maior cidade do Brasil, segundo o último Censo. A questão do Entorno também é importante, pois é uma região atrelada e assistida pelo Governo do Distrito Federal (GDF).Moradores da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal (RIDE) e Entorno usufruem da infraestrutura de serviços públicos oferecidos pelo DF. É uma região populosa e indissociável do Distrito Federal.

A relação das pessoas com o espaço não leva sempre em conta a divisão política e federativa. As pessoas que precisam de serviços de saúde, por exemplo, não vão atrás de determinar onde começa sua região e onde começa a próxima unidade federativa. Muitas cidades que rodeiam Brasília são carentes de infraestrutura social, o que faz com que o DF atraia pessoas de outras regiões não só para buscar melhores condições por aqui, como também para utilizar os serviços públicos oferecidos pela capital do país. O DF não pode nunca ser olhado de forma isolada. É uma integração com um bloco populacional muito maior. Por tudo isso, é imprescindível manter o Fundo Constitucional do DF.

O adiamento na votação do projeto que determina o que acontecerá com o FCDF tem um lado positivo e um negativo. As mudanças feitas no Senado — uma delas a retirada do fundo do teto de gastos — foram classificadas por alguns deputados como alterações mais políticas do que técnicas. Além disso, havia muitas pautas econômicas na agenda da Câmara dos Deputados na última semana. Votar tudo em alta velocidade poderia ser prejudicial no caso daqueles que ainda não entendem a importância do Fundo Constitucional. Agora, falta um mês para novas deliberações serem feitas. A conferir.