Comércio

Esperança na economia local alimenta regiões mais carentes do DF

Com as menores rendas entre todas as regiões administrativas do Distrito Federal, Varjão, Fercal e Estrutural buscam gerar renda interna e depender menos do Plano Piloto. Empreendedores aliam proximidade com boas vendas

Capital da Esperança e da desesperança, o Distrito Federal tem realidades bem diferentes do que o restante do país costuma acompanhar pelas diversas plataformas que levam informação. Com a renda mais alta do país no Lago Sul, também conta com locais onde seus moradores precisam "cortar um dobrado" para conseguir o pão de cada dia para si e para seus familiares. Na última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (Pdad), divulgada em 2021 pelo Instituto de Pesquisa Aplicada do DF (IPE-DF), três regiões administrativas se destacaram negativamente: Estrutural, Fercal e Varjão.

Assim como acontece com a maioria dos moradores das demais RAs, a busca por trabalho é centralizada no Plano Piloto. Mas há quem veja nessas cidades formas de retirar seu sustento. São comércios e prestadores de serviços que, por ali mesmo, ajudam a movimentar a economia local e a manter o funcionamento de toda uma cadeia produtiva.

Acostumado a trabalhar perto de casa, Mariano Pereira, 42, diz que seu armarinho está com pouca movimentação, mas está com esperança de melhora no movimento após a reforma que irá realizar. "Como coloquei os produtos agora, o pessoal está conhecendo a loja, mas com o investimento que vou fazer, aqui vai dar uma impulsionada", prevê. O comerciante acredita que a Estrutural tem potência muito grande de comércio e, por consequência o desenvolvimento da região. "As pessoas veem que o comércio está fluindo e estão vindo para cá. Eu sempre estive no comércio da Estrutural, então conheço bem aqui", salienta.

No Varjão, por exemplo, cerca de 35% dos moradores tem no Plano Piloto sua atividade principal, enquanto 30% tem seus empregos na própria região. Esse dado se reflete no valor médio de renda das famílias. Em média, com o que a pesquisa chama de trabalho principal, o valor é de R$ 1.841,84, enquanto a renda familiar é estimada em R$ 2.907,20.

Por sua vez, tanto a Fercal quanto a Estrutural têm a maior parte de sua força de trabalho voltada para as próprias cidades: ambas com 43%, e tendo 19% e 20%, respectivamente, concentradas no Plano Piloto.

Na Fercal, o valor médio recebido pelo trabalho principal fica em R$ 1.567,23 e a média por indivíduo das famílias cai para R$ 892,70. Na Estrutural, o cenário de baixa renda piora: os ganhos com a atividade profissional é de R$ 1.385,31 e a média familiar de R$ 695,40.

Proprietário de uma loja de venda e manutenção de bicicletas, Jonther Caique, 34, avalia que, em seus 12 anos empreendendo no Varjão, o saldo é positivo. "Quando chegamos aqui, já era bom para o comércio, mas atualmente aqui na região deu uma melhorada para a área comercial", frisa. Morador da região, ele destaca a facilidade de morar perto do trabalho. "A galera (funcionários da loja) que trabalha aqui, todo mundo vem de a pé para a loja. Morar perto é bom tanto para a nossa vida (empresário) quanto a deles (funcionários)", afirma.

A atividade mais exercida no Varjão, por exemplo, segundo a Pdad, é a de serviços domésticos com 15,3% dos ocupados da região e seguido pelo comércio com 13,4%. Na Fercal, por sua vez, o trabalho no comércio vem à frente com 20% dos postos, com a indústria da região com 16,6%. Em último lugar, como região com a menor renda, a Estrutural também tem como principal atividade o comércio, com 18,3% da mão de obra voltada para ela, e 16,1% para a construção civil.

Desenvolvimento

Segundo o economista Francisco Rodrigues, algumas RA's não têm potencial para absorver toda a mão, com isso as pessoas precisam de deslocar as regiões centrais. "Estrutural, Varjão e Fercal eram invasões, no passado, e se tornaram regiões administrativas, ou seja, essa população que tem pouca escolaridade tende a ter menor renda", destaca. O especialista afirma que o comércio tem se desenvolvido ao longo dos anos, mas ainda é muito pouco. "As pessoas vão para as regiões principais, recebem seus salários e gastam em suas cidades. O gasto que ocorre nessas cidades é de grande relevância para o PIB do DF, para o comércio e o desenvolvimento dessas regiões", afirma.

Há quase duas décadas com sua barbearia na Fercal, Antônio Vitorino, 44, expõe que não há local melhor para trabalhar e morar no DF. "Sempre trabalhei com comércio, e o acesso aqui é tudo muito fácil, eu moro a 300 metros daqui, só não venho à pé, pois sou preguiçoso (risos)", salienta. O barbeiro diz que hoje já tem seus clientes fiéis e fica feliz pela região ter se desenvolvido na área comercial. "É muita gente trabalhando aqui e um vai ajudando o outro", frisa.

Francisco comenta sobre o futuro do comércio nessas regiões, no qual acredita que o comércio deve aumentar muito. "O território dessas cidades já está praticamente todo ocupado, a não ser que o GDF crie novas áreas de desenvolvimento, ou seja, criação de fábricas, pequenas indústrias e prestação de serviços nessas regiões", avalia. O economista espera que as próximas gerações, que estão crescendo nessas regiões, possam ter maior nível de escolaridade e melhor renda para suas famílias, assim tendo um maior desenvolvimento de suas cidades.

Gerente de um mini-mercado na Estrutural, Douglas Santos, 19, diz que o comércio vem crescendo bastante durante os últimos anos. "Antes, aqui era uma lanchonete e virou um mercado, há uns 4 anos, e agora estamos com obras em andamento para ampliar e transformar em supermercado", atesta. O morador de Santa Luzia explica que, na região, o único mercado aberto é o que ele trabalha. "As vendas e clientes foram aumentando e a necessidade de ampliar também, pois antes era uma entrada e três corredores pequenos", esclarece. Douglas anteriormente trabalhava no Guará e necessitava usar transporte público para ir ao serviço. "Agora eu trabalho perto de casa e em menos de 10 minutos chego. No total são sete pessoas que trabalham aqui, e todo mundo mora em Santa Luzia", revela.

Saiba Mais

Formação e crédito

De acordo com o GDF, a maior parte das pessoas desempregadas no Distrito Federal são mulheres. Por isso, uma série de programas voltados para oportunização de trabalho e para a formação delas têm sido desenvolvidos pela Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Renda (Sedet).

Outro público a estar no radar da pasta são os jovens de regiões carentes, como o Qualifica-DF, que também atende a adultos. "Essas ações oferecem cursos e treinamentos para capacitar a população em diversas áreas profissionais, com o objetivo de aumentar as chances de emprego e renda."

Por fim, a Sedet informa, em nota, que conta com programas de crédito para micro e pequenas empresas, como o Prospera DF. Entretanto, Varjão e Fercal não tiveram empreendedores contemplados, enquanto na Estrutural três empresários receberam cerca de R$ 123,5 mil.

*Estagiário sob a supervisão de Suzano Almeida

Ed Alves/CB/DA.Press - 04/07/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Pessoas que trabalham no Varjão. - Localidade de Baixa Renda. na foto, Jonther Caique.
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José Augusto Limão/Divulgação - Antônio Vitorino, barbeiro na Fercal fala sobre o comércio da região.