Na época de estiagem, acende-se o sinal vermelho para os focos de incêndio, que podem atingir e até devastar unidades de preservação ambiental, com a destruição da flora e a morte de animais. De acordo com o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), este ano, foram contabilizados 34 focos de incêndio e cerca de 30 hectares de área foram queimados. Entre as soluções para frear essas ocorrências está a execução de aceiros negros ao redor de parques ecológicos — técnica na qual o fogo é aliado e não inimigo.
O método consiste em uma queima de vegetação controlada, feita ateando-se fogo nas bordas de uma unidade de conservação, sacrificando esse trecho da vegetação, que poderia incendiar, alastrando as
chamas para toda a área ecológica.
Na tarde desta terça-feira (4/7), a ação foi feita no entorno do Parque Ecológico Águas Emendadas, às margens da BR-020, em Planaltina. O trabalho será concluído hoje com um total de 25km de vegetação. A superintendente das unidades de conservação do Ibram, Marcela Versiani, aponta que, por se tratar de uma área na beira da pista, atitudes como o descarte de guimbas de cigarro ou, até mesmo, o ato de bater as cinzas enquanto fuma, produzindo faíscas, podem gerar um foco de incêndio e causar perdas irreparáveis. Segundo Marcela, esse período é propício para abrir aceiros. "Precisa ser feito no início da seca, porque depois de ficar seco demais, podemos perder o controle do fogo. Então, é necessária uma condição climática ideal. O aceiro sempre é feito no início de julho, somente em locais mais distantes, para não causar problema em áreas urbanas e semiurbanas", informa Marcela.
O agente de conservação e brigadista Erisom Vieira explica como se faz um aceiro com segurança. "Primeiro, sempre observamos antes a direção dos ventos e a temperatura do dia, porque tudo isso influencia no controle do fogo. Sempre começamos a queimar contra os ventos, para que o fogo 'vá de ré', como chamamos. Assim, queima devagar e conseguimos manter o controle",detalha.
Quando se queima uma determinada área, ateia-se fogo em dois lados opostos. Com isso, ambos se encontram no meio, para que a propagação seja lenta e não tenha muita velocidade. "Usamos um instrumento chamado de pinga-fogo, onde colocamos combustível misturado com óleo dísel e aqui, em Águas Emendadas, vamos usar três deles", explica.
Erisom completa que os agentes do Ibram só vão embora quando o fogo está totalmente extinto. "Estão nessa ação 14 brigadistas e três chefes para auxiliar no manejo. Além disso, um caminhão pipa está de prontidão para caso haja descontrole do fogo", diz.
Prevenção
A execução de aceiros faz parte do Plano de Prevenção e Combate de Incêndios Florestais (PPCIF). Trata-se de uma parceria composta por diversos órgãos do poder público local e federal, entre eles, Secretária de Meio Ambiente (Sema), que coordena o plano; Ibram; Secretária de Saúde (SES-DF); Fundação Jardim Botânico; Jardim Zoológico de Brasília; Defesa Civil; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A representante do PPCIF, Carol Chubart, da Sema, destaca a importância das iniciativas preventivas. "Trabalhamos com o fogo ao nosso favor como uma ferramenta de prevenção ambiental", afirma.
Segundo Carol, além do aceiro, o plano se preocupa em educar os moradores de regiões rurais, para que tomem cuidado nesta época do ano. "A preservação pode ser feita por meio de cursos de instrução sobre incêndio florestal, onde se ensina, por exemplo, a não colocar fogo em lixo ou em qualquer outra coisa, por conta da estiagem", explana.
As ações de prevenção terminam no final deste mês. Depois, tem início o combate aos focos que possam vir a surgir. Conforme o Ibram, o próximo aceiro negro programado será na unidade de conservação da Área de Proteção Ambiental (APA) das Bacias do Gama e Cabeça de Veado, entre 10 e 12 de julho. Essa APA inclui: Inclui: Tororó (unidade de conservação do Ibram); Jardim Botânico de Brasília; Reserva Biológica do IBGE; Fazenda Água Limpa (unidade de conservação da UnB); área da Base Aérea; região da Marinha (que tem uma área grande de cerrado).
Seca
Segundo a meteorologista Andrea Ramos, o DF segue em alerta amarelo por conta da baixa umidade, que varia varia entre 20% e 30%. A especialista chama atenção para os cuidados que devem ser tomados durante a estiagem. “É importante a hidratação, com a ingestão de bastante líquido, e a proteção solar constante, principalmente na parte da tarde, onde ocorrem as maiores temperaturas e as
menores taxas de umidade”, ressalta.