Viver a realidade dos filmes de ficção científica às vezes é só uma questão de tempo. A criatividade que move cineastas e roteiristas provavelmente é a mesma que aflora na mente dos gênios da ciência e da computação. Para equilibrar a balança, o conhecimento de quem mantém os pés no chão — mesmo quando com a cabeça está nas nuvens e numa esfera quase inalcançável de consciência — é essencial. Sociólogos, antropólogos e psicólogos têm muito a dizer e a observar sobre as mudanças que experimentamos com os avanços tecnológicos.
Foi o sociólogo da minha vida que me alertou, inclusive, que uma evolução não necessariamente pode vir para o bem. A banda americana de grunge Pearl Jam ironizou e escancarou essa face underground da palavra em Do the evolution (Faça a evolução, em tradução livre). Com ironia, eles cantaram, em uma das faixas do álbum Yield, de 1998: "Eu estou à frente / Eu sou o cara / Eu sou o primeiro mamífero a usar calças".
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A mudança, a transformação, são o que definem a palavra. Nem sempre se muda para melhor. Mas essa é também a beleza de ser humano: tomar consciência dos atos e moldá-los para se encaixar nos contratos sociais que promovam relações de respeito e a empatia. O resto é bônus que nos levará a viver com mais conforto no nosso dia a dia e a sermos mais longevos, para acompanharmos as evoluções daqueles que amamos.
Toda essa introdução para chegar ao debate do momento: a inteligência artificial. Não, este texto não foi escrito com a ajuda de robôs. E espero que a evolução nunca chegue a este ponto. A capacidade de processar um volume inimaginável de dados certamente poderá ajudar o jornalismo e diversas outras profissões. Mas é necessário seguir respeitando limites éticos, que também precisarão evoluir ao lado da tecnologia.
Precisamos ainda reencontrar a humanidade que há em nós. Ou aprender a desenvolvê-la. Recentemente levantou-se a possibilidade do uso da OpenIA, como é a classificada o tipo de inteligência artificial por trás do já famoso ChatGPT, para ajudar médicos a darem más notícias a seus pacientes com mais empatia. O robô nada mais fez do que simplificar a linguagem usada e garantir conexão com o interlocutor. Quantos de nós já não estivemos num consultório e nos sentimos tratados com condescendência?
Por aqui, temos iniciado uma cruzada em busca de um médico de família que possa nos acompanhar com olhar holístico. Tem sido um desafio, mas também uma lição. A primeira delas é a de que, em qualquer profissão ou lugar que se ocupe, é sempre importante se colocar no lugar do outro e ouvir com dedicação e de forma atenta. Essa habilidade robô nenhum é capaz de copiar.