Projetado pelo arquiteto Lucio Costa e inaugurado em 1961, o Conic (no Setor de Diversões Sul) foi concebido como um complexo urbanístico inovador, abrigando uma variedade de estabelecimentos comerciais, galerias de arte, teatros, cafés e áreas de lazer. A arquitetura única, caracterizada por pilotis, evidenciava a proposta modernista que permeava a concepção de Brasília. No entanto, ao longo das décadas, o espaço foi gradualmente perdendo o brilho e a importância cultural, e o que deveria ser um lugar vibrante, moderno e diverso, hoje encontra-se em estado de abandono.
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A falta de manutenção adequada, a ausência de políticas de revitalização e a pressão imobiliária foram fatores determinantes para o declínio do local. Pouco movimento, lojas fechadas, pichações, sujeira e insegurança tornaram-se características predominantes, afastando os moradores e visitantes e contribuindo para a marginalização da área.
Estrutura de tapume
A queixa recorrente dos comerciantes é sobre uma estrutura de tapume, colocada no centro do edifício há cerca de cinco anos, que dificulta a circulação do público.
João Paulo, 36, comerciante, conta que o movimento praticamente cessou depois que puseram a vedação, já que delimita a passagem e atrapalha a visão dos clientes. "Há pessoas que acham que está tudo fechado nesse corredor de trás. Essa parte da praça já perdeu a importância cultural e até a comercial, que é a mais importante", destaca.
Menos clientes
José Pereira, 58, dono de loja de discos, lamenta a perda de clientes. "Por aqui passava muita gente, mas hoje todas as lojas do fundo ficam escondidas", ressalta. O comerciante explica que os clientes têm medo de frequentar o espaço. A seu ver, não há expectativa de melhora para o conhecido setor comercial e cultural que já foi tão frequentado.
Quem enfrentou momentos bons e ruins no Conic foi Reinaldo Freitas, 65, que relembra o início da própria loja de discos há 30 anos. "Quando inaugurei, o espaço estava abandonado como está hoje, mas o setor teve um prefeito que realizou um bom trabalho e fez o Conic ser um local de encontro de tribos", recorda.
Ele lembra que o Setor de Diversões Sul era um shopping a céu aberto para encontro de diversos grupos culturais. "Era prazeroso vir ao local e percorrer as lojas de discos, de skates, os restaurantes, afinal o espaço tinha de tudo. Todo mundo passava aqui, as famílias chegavam de manhã e só iam embora à noite", revela.
Pior momento
Para a comerciante Ieda Braga, 57, o local vive hoje seu pior momento dos últimos 30 anos. "Nesse corredor antes existiam oito óticas, fora as outras lojas. Agora só eu fiquei e uns poucos comerciantes. Particularmente, não gostaria de sair, mas está muito difícil continuar", lamenta. Ela reforça que é preciso união por parte de todos que possuem estabelecimentos no espaço e da prefeitura para conseguir uma melhoria."Hoje, isso aqui é uma vergonha", diz.
Segundo a prefeitura do Conic, há um projeto que vem sendo executado desde 2003 com o objetivo de reabilitar o espaço. "Fizemos a iluminação da plataforma, reforma da Praça Zumbi dos Palmares, reforma da Praça dos Aposentados, instalamos painéis de led que são os maiores da América Latina, recuperamos a galeria aberta e estamos tocando muitos outros projetos até o final do ano", salienta a prefeita, Flávia Portela.
Para Flávia, o grande problema dos lojistas é a obra de revitalização que está cercada por tapumes. "Trata-se de uma obra grande e, sem dúvida, o trabalho está atrasado. Mas infelizmente a prefeitura não tem mais o poder que tinha antes", frisou. De acordo com a prefeita, atualmente, o responsável por fiscalizar a obra é o DF Legal.
O DF Legal, por sua vez, informa que foi realizada vistoria no local em abril, quando ficou constatado que o que existe é um "cercamento de lote particular dentro dos limites determinados por lei". O órgão informou que, por não haver obras no local, não é da sua alçada realizar qualquer intervenção e que o caso precisa ser tratado por meio de "convenção condominial".
Acorda, Conic!
Recentemente têm surgido iniciativas para resgatar o brilho perdido do Conic. Visando trazer mais diversão e vibração ao Setor de Diversões Sul, o Instituto de Arte e Sustentabilidade Vulica Brasil, em parceria com o Fundo de Apoio à Cultura do DF realizou o "Acorda, Conic!".
O projeto promoveu workshops para debater um espaço mais inclusivo, sustentável, multicultural e aconchegante para os diversos públicos.
Para a produtora cultural e diretora do Instituto Vulica Brasil, Nastya Golest, o Setor de Diversões Sul desempenha papel essencial na vida cultural da cidade. "O Conic enfrentou desafios e perdeu parte de sua vitalidade. O projeto Acorda, Conic! surge como uma iniciativa para requalificar esse importante espaço, envolvendo a comunidade e profissionais criativos, no sentido de resgatar sua autenticidade", informa.
Os workshops, conduzidos por Lourenço Gimenes da FGMF Lab e Daniel Mangabeira do Bloco Arquitetos, reuniram mais de 30 entusiastas empenhados na criação de projetos de urbanismo e arte para o Conic.
Os participantes discutiram temas como a criação de espaços de encontro e permanência, melhorias na iluminação, acessibilidade, introdução de vegetação, conexão entre blocos, instalação de sanitários e lixeiras, separação adequada de resíduos, implementação de rooftops (plantas sob telhados) com áreas de lazer, melhorias nos acessos, promoção de arte, eventos, exposições e gastronomia, entre outros. Ao final, foram desenvolvidos nove projetos artístico-urbanísticos.
Praça dos aposentados
Em relação aos próximos passos, atualmente o Acorda, Conic! está concentrado no desenvolvimento do projeto para a Praça dos Aposentados, assim como na concepção dos murais que serão pintados nas fachadas internas. O projeto da praça encontra-se na fase de elaboração do desenho arquitetônico, levando em consideração os resultados das entrevistas realizadas com os lojistas e a comunidade externa.
Com um olhar técnico sobre a importância de revitalizações em espaços urbanos tombados, Raphaela Marques,33, detalha sobre sua experiência no Acorda, Conic.
"A oportunidade de interferir em um complexo tão grande, relevante e central, é única: proporciona olhares diferentes sobre as solicitações trazidas por cada grupo que vivencia o local de inúmeras formas", diz.
* Estagiários sob a supervisão de Hylda Cavalcanti