Empreendedorismo

CMW debate moda sustentável com grupos do Distrito Federal

Na última roda de conversa do Correio Talks, temas como tendências de mercado, educação e conscientização foram discutidos por quem faz parte do segmento no DF

Arthur de Souza
postado em 29/07/2023 06:00
Coordenadoras e gestoras de vários grupos e movimentos relacionados com moda que prezam pela sustentabilidade aproveitaram para contar um pouco de suas experiências  -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Coordenadoras e gestoras de vários grupos e movimentos relacionados com moda que prezam pela sustentabilidade aproveitaram para contar um pouco de suas experiências - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

No penúltimo dia de Capital Moto Week, o Correio Talks voltou ao palco do espaço Lady Bikers, desta vez, para falar sobre moda sustentável e consumo consciente. O bate-papo do Correio Braziliense — moderado pelas jornalistas Sibele Negromonte e Samanta Sallum — foi com a empreendedora social e diretora regional do G10 Favelas, Dila de Souza, a presidente da Cia do Lacre, Chica Rosa, a fundadora do brechó Bem QT Quis, Morgana Franco e a integrante da Rede em Poder Delas, Anna Alice.

Dila iniciou a conversa contando um pouco da história de sua marca, Raízes do Sol. "Na nossa instituição, já adotamos várias iniciativas. Uma delas foi a criação da marca, com o objetivo de dar sustentabilidade e dignidade às mulheres que perderam seus trabalhos. No Sol Nascente, a maioria das mulheres são diaristas e, com a pandemia, esse setor foi bastante prejudicado", lembrou. "A gente precisava dar andamento aos trabalhos, daí veio a ideia de criar algo com as sobras de materiais que tínhamos. Na época, era muito jeans e lona, que usamos para fazer tapete e para fabricar ecobags", detalhou.

Ela comentou que, no início, eram apenas as ecobags. Mas, com o passar do tempo, o grupo passou a criar calças, coletes, jaquetas, vestidos e saias. "É para todos os gostos. Tudo é transformado. Temos uma verdadeira oficina de artesanato", descreveu Dila. Entusiasmada, a empreeendedora disse que, aos poucos, a equipe percebeu que seria possível fazer produtos belíssimos por meio da reciclagem. "Começamos com bolsas e, quando menos esperávamos, estávamos fazendo desfiles para lojas famosas", revelou. "É muito gratificante saber que estamos servindo como inspiração para as gerações futuras, na questão do cuidado com o meio ambiente", complementou.

Apoio financeiro

Assim como Dila, Chica Rosa também teve sua ideia a partir de algo que, geralmente, é descartado como lixo. "Em 1997, andando pela Feira da Torre, via os lacres pelo chão e aquilo me incomodou demais. Nessa época, fazia parte da Pastoral da Criança de uma igreja no Riacho Fundo I e, certo dia, durante uma missa, alguém entrou e jogou um lacre. Logo depois, uma criança pela qual eu era responsável pisou e se machucou", recordou. "Saindo dali, prometi para mim mesma que, se Deus me permitisse fazer algo com lacre, eu faria de tudo. Naquele tempo ninguém acreditava, mas o Sebrae nos apoiou e, em 2001, conseguimos criar essa marca", acrescentou.

Segundo a presidente da Cia do Lacre, o principal objetivo da marca é cuidar do meio ambiente. "Transformamos o meio onde vivemos em moda. Estamos, hoje, com 47 mulheres trabalhando ativamente, mas já alcançamos mais de 8 mil famílias", calculou. Mulheres pelas quais Chica tem o maior orgulho de falar a respeito. "Fico emocionada com a capacidade que elas têm de se transformar econômica, social e familiarmente. O nosso objetivo é fazer com que se tornem donas de seus próprios negócios", cravou.

Também para ajudar as mulheres a se tornarem independentes, outra participante do evento, integrante do grupo Rede em Poder Delas, Anna Alice, destacou a relevância do trabalho realizado. O Rede em Poder Delas foi criado, em 2017 e tem o intuito de promover, cada participante com seu empreendimento, feirinhas onde possam vender seus produtos. "Nosso trabalho tomou uma proporção tão grande que, atualmente, temos cerca de 300 meninas dentro da rede. São vários tipos de empreendimentos, que vão desde brechós até artesãs", comentou. "Sou uma delas, inclusive. Faço brincos com cartões telefônicos. Então temos a questão de nos fortalecer [economicamente] e cuidar do meio ambiente, tudo ao mesmo tempo", afirmou.

Na outra ponta

Além de recriar, também há espaço na moda sustentável para a reutilização. E foi esse segmento que atraiu Morgana Franco, fundadora do brechó Bem QT Quis. "Hoje, temos um problema ambiental enorme no descarte de roupa. No Chile, existe um lixão onde muita roupa é jogada fora. Então, viemos para aumentar a 'vida útil' dessas peças e tentar diminuir esse excesso de lixo no mundo", explicou.

De acordo com a empreendedora, o mercado foge da linearidade tradicional — produção, venda e descarte. "O brechó retorna essa roupa para o mercado, evitando que ela vire lixo. Também temos parcerias com instituições de caridade, para doar as roupas que não são vendidas", ressaltou.

Questionada sobre o preconceito existente com esse segmento, Morgana disse que, no início, a empresa sentiu bastante. "A gente já esteve dentro de um shopping e as pessoas ficavam perguntando o que um brechó estava fazendo naquele ambiente", lamentou. "Mas isso foi melhorando muito, com o tempo. O mercado de brechó, em Brasília, tem crescido bastante e as pessoas têm refletido a respeito, mudado a concepção. Hoje, nosso público é formado por mulheres com idades que variam dos 20 aos 60 anos, tanto consumidoras quanto fornecedoras", observou.

Tudo o que é bom dura pouco

O clima de despedida começou a tomar conta do Capital Moto Week. Depois de 10 dias de evento, o festival será encerrado hoje. O Correio conversou com pessoas que estiveram no Parque de Exposições da Granja do Torto, para saber quais foram as impressões obtidas. O empresário Geraldo Pelegrini, 68 anos, que esteve pela oitava vez no CMW contou que ficou "impressionado com tudo".

 28/07/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Capital Moto Week Motociclista Claudio de Mendonça, Carrasco e Jorge Abrãao
Alemão Tatu, Carrasco e Carneirinho fazem parte dos Abutre's e esperam estar em Brasília novamente no ano que vem (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Segundo o morador do Lago Sul, que participou do festival desde o primeiro dia, o momento de despedida é triste, mas faz parte da imersão. "Tivemos shows muito bons, então, valeu a pena. Fica a saudade e a vontade de repetir tudo no próximo ano. Fazemos, aqui, amigos que só vemos por aqui. Então, o lugar já está marcado e já ficamos esperando o ano que vem, porque sabemos que tem mais", ressaltou Pelegrini.

Um dos grupos mais tradicionais do país, os Abutre's também marcaram presença no festival. Claudio de Mendonça, 61, mais conhecido como Alemão Tatu, veio com os amigos de São Paulo e destacou que a experiência foi "maravilhosa". Junto com ele, estava Jorge Abraão, 69, carinhosamente apelidado de Carneirinho Biker.

O motoclubista contou que vem para o CMW desde a primeira edição do evento. "É uma experiência única, porque viajamos o mundo inteiro. Eu paro, no máximo, quatro semanas por ano em casa. O resto do tempo é todo viajando, indo a festivais", revelou. "A nossa maior expectativa é para vir ao CMW. É o melhor evento, tanto para o nosso faturamento como expositores como quanto para a curtição", apontou Abraão. "Vai deixar saudade. Aqui, encontramos gente de todos os lugares e fizemos amizades que ficam para toda a vida", complementou.

Dever cumprido

Mas não é só o público que vai sentir falta das motos percorrendo o parque. Quem construiu o evento também está contando os dias para a próxima edição. Pedro Affonso Franco, organizador do Capital Moto Week, destacou a experiência dos 20 anos de festival. "O público do CMW, como sempre, não decepcionou. A gente encerra essa 20ª edição muito satisfeito e com o sentimento de dever cumprido. Alcançamos a marca de 800 mil pessoas circulando durante estes 10 dias, vindos de todos os estados brasileiros e de diversos países", detalhou.

De acordo com ele, a partir de agora, o foco passa para o próximo ano. "Vamos observar os pontos positivos, além daqueles que podemos melhorar para a próxima edição. A ideia é sempre trazer o melhor para o nosso público e isso demanda uma constante avaliação de todos os aspectos do festival, para que a gente consiga entregar um evento que surpreenda, ano após ano", salientou.

Tradição

Só que ainda não acabou. Hoje acontece o tradicional passeio do Capital Moto Week. De acordo com Pedro Affonso, a expectativa é que mais de 40 mil motos saiam dos portões do complexo e passem pelos principais pontos turísticos de Brasília. "Chegando nessa etapa final, já ficamos com saudade de tudo que vivemos, mas ainda temos o nosso passeio motociclístico, considerado o maior do mundo. São cerca de 40 mil motos, que formam um comboio com 13 km de extensão", calculou.

A concentração acontece às 15h30, na rua principal da Cidade da Moto, e o comboio sai do Parque de Exposições da Granja às 16h para um percurso de 53 km, que passa por locais como a Esplanada dos Ministérios e a Ponte JK. "É o momento em que o público turista que vem ao CMW consegue conhecer a cidade sob duas rodas, mas também de os moradores acolherem esses motociclistas", concluiu o organizador. (AS)

 

 


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