A água que o brasiliense ingere, ainda não está totalmente tratada. Atualmente, 92,31% da população do DF é atendida com coleta e tratamento de esgoto, mas o processo remove 95% das substâncias impróprias. Quando descartados de maneira inadequada e sem o devido tratamento, os resíduos humanos contaminam a água dos rios que abastecem as casas e geram prejuízos à saúde da população.
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O esgoto doméstico é uma mistura complexa formada por substâncias descartadas. É composto, principalmente, por materiais orgânicos, gorduras, resíduos sólidos, areia, e nutrientes como fósforo e nitrogênio. Heron Sena, professor da Secretaria de Educação do DF (SEEDF) e integrante de movimentos ambientalistas de Sobradinho, explica que entre os resíduos conduzidos pela rede de esgoto, os coliformes fecais são os que causam maiores riscos à saúde das pessoas.
As bactérias coliformes estão presentes em fezes humanas e animais e indicam a presença de microrganismos patogênicos na água, o que polui e contamina os rios. “Nós temos uma quantidade enorme de rios no país poluídos. Sem contar que, o tratamento dessa água, depois de poluída, se torna caríssimo”, conta Heron.
A geógrafa Giovanna Souza, graduada pela UnB, esclarece que a rede de tratamento devolve a água ao ambiente. Assim, a contaminação pode retornar pelo consumo, causando prejuízos a longo prazo à saúde da população. A ingestão de água contaminada com coliformes pode provocar danos à saúde e a transmissão de doenças como febre, diarreias infecciosas, amebíase, teníase, ascaridíase, entre outras.
Tratamento
Órgão responsável por realizar os procedimentos, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB), em nota, explica que o processo de tratamento acontece nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). Segundo a companhia, o saneamento básico é composto por quatro eixos de atuação: sistema de abastecimento de água, sistema de esgotamento sanitário, coleta e disposição de resíduos sólidos e coleta e destinação de águas pluviais.
O tratamento inicia com a remoção de resíduos sólidos e areia na etapa denominada de tratamento preliminar, onde grande parte da matéria orgânica é removida e direcionada à sistemas de digestão de lodos, onde ocorre a degradação dessas substâncias com o auxílio de bactérias específicas.
Na fase líquida, são utilizados reatores biológicos para decompor a matéria orgânica não removida integralmente na etapa anterior, além da remoção de nitrogênio e fósforo. Após o tratamento biológico, os esgotos podem ser submetidos a um processo final, em que os orgânicos tratados são transformados em adubo e utilizados em solos agrícolas para a recuperação de áreas degradadas.
Redução de riscos
O sanitarista Sérgio Koide, professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UnB, destaca que mesmo com o devido tratamento, rios que recebem os esgotos e lagos próximos das áreas de lançamento permanecem poluídos. “A adequada coleta e o tratamento de esgotos diminui o potencial de poluição, mas não resolve completamente”, explica.
"Isso porque os poluentes em baixas concentrações, como compostos orgânicos com flúor, substâncias radioativas como o gadolínio, e micro-organismos como vírus não são completamente removidos pelas estações de tratamento convencionais", completa.
A água da Caesb, segundo Sérgio Koide, é bem segura. No entanto antes de chegar à torneira, passa pela caixa d’água domiciliar, que muitas vezes ficam longo tempo sem lavar ou mal fechadas, contaminando a água. "Assim, um filtro domiciliar sempre é mais uma barreira de proteção", indica.
O lançamento de resíduos nos rios, de acordo com o sanitarista, pode gerar uma redução drástica da quantidade de oxigênio dissolvido, causando a morte de peixes e outros animais. A falta de saneamento também torna os lagos inadequados para atividades recreativas, além de aumentar a propagação de mosquitos.
Desafios para a capital
O crescimento populacional acelerado do DF, segundo informações obtidas pela CAESB, resulta em uma intensa ocupação do solo e impõe a necessidade de expansão de serviços públicos, como os de saneamento. A expectativa é que cerca de R$ 2,8 bilhões sejam investidos em saneamento básico até 2027. O planejamento para a capital federal é promover a modernização das unidades operacionais, implementar tecnologias avançadas para o tratamento de água e esgotamento sanitário, e executar um programa de combate às perdas de água e de eficiência energética.
*Estagiárias sob a supervisão de Márcia Machado
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