Investigação

Premeditado e a sangue frio: o que falta saber sobre o assassinato de PM

Suspeito de matar o PM aposentado Jacob Vieira teria cometido o crime, segundo a Polícia Civil, por dívida com Jacob. Bruno, considerado o principal suspeito, acreditava que, em caso de morte do padrasto, assumiria o comando dos negócios

Darcianne Diogo
postado em 27/07/2023 06:00
As investigações apontam que enteado teria premeditado e planejado o homicídio  -  (crédito: Redes sociais)
As investigações apontam que enteado teria premeditado e planejado o homicídio - (crédito: Redes sociais)

Um crime cometido de maneira fria e com requintes de crueldade ganha um novo capítulo e caminha para sua elucidação com a prisão de Bruno Oliveira Ramos, 38 anos. O vigilante é o principal suspeito de premeditar, planejar e assassinar o policial militar aposentado Jacob Vieira, 62, e jogar o corpo dentro de uma cisterna, na chácara de sua propriedade, na Cidade Ocidental (GO). As investigações chegaram a um segundo suspeito: Mateus Nascimento, 26, o sócio de Bruno. Ele é considerado foragido. Para os investigadores, não há dúvidas de que a motivação tenha sido por dinheiro e a morte foi premeditada.

O quebra-cabeça sobre a autoria do crime começou a ser fechado ainda no período de buscas por Jacob. O policial da reserva desapareceu na tarde de 10 de julho, ao sair de casa, em Santa Maria (DF). Imagens do circuito de segurança de uma rua registraram Jacob entrando em um Ford Ka branco, que tinha a placa clonada. O motorista do veículo não foi identificado.

Em um depoimento informal prestado na Delegacia da Cidade Ocidental, Mateus alegou ter se encontrado com Jacob no dia 10, na BR-040, para entregar a ele uma quantia de R$ 15 mil referente aos juros de um empréstimo. Mateus conhecia Jacob havia cerca de três meses. A relação entre os dois era de amizade e o contato foi intermediado por Bruno, filho de uma ex-mulher do policial. O que chamou a atenção da polícia foi o alto valor transferido por Jacob a Mateus, R$ 600 mil. A quantia era elevada para um negócio feito por pessoas que se conheciam há tão pouco tempo. A polícia investiga em quais circunstâncias esse depósito foi feito. Além dos R$ 600 mil, Jacob teria emprestado mais R$ 150 mil a Bruno e Mateus.

Transporte público

Jacob era um homem de negócios. Sócio de uma cooperativa de transportes, ele faturava uma alta quantia por mês com os serviços prestados por meio de licitações na prefeitura da Cidade Ocidental. Conforme o Correio antecipou, Bruno articulou um plano de mobilidade urbana que previa a concessão de 20 micro-ônibus para rodar no município. Para isso, Bruno pediu R$ 600 mil emprestado a Jacob. Não se sabe, no entanto, se esse é o mesmo dinheiro transferido para a conta bancária de Mateus.

O montante também seria usado por Bruno para encerrar a parceria com Jacob e alavancar o próprio negócio no ramo empresarial, além de juntar recursos para tentar, pela segunda vez, uma vaga como vereador na cidade, no ano que vem. As informações foram relatadas por conhecidos da vítima e do autor. "O que chegou para nós é que, em uma das conversas com um pessoal, no período do desaparecimento, perguntaram se, caso o Jacob estivesse morto, quem iria assumir os negócios. Prontamente, Bruno teria dito que assumiria", detalhou o delegado-adjunto da 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria), Renato Martins.

Dinâmica

Jacob desapareceu em um dia que havia duas vistorias agendadas para uma licitação de transporte escolar, em Planaltina de Goiás e na Cidade Ocidental. Ele não chegou a nenhum dos locais. Dias depois do sumiço, a polícia passou a tratar o caso como homicídio. Uma denúncia anônima feita em 17 de julho detalhou que Jacob estaria morto dentro de uma cisterna na chácara pertencente a Bruno.

Na tarde de 18 de julho, após buscas no imóvel, bombeiros de Goiás encontraram o corpo de Jacob dentro de um poço de quase 20 metros de profundidade. O cadáver estava envolto a fitas adesivas e preso a pedras de concreto. O objetivo dos assassinos, segundo as investigações, era evitar que o corpo boiasse no poço. "O ato de execução inicial foi praticado em Santa Maria. A partir daí, as investigações seguem para saber o que aconteceu. No local da chácara não há elementos e provas que o assassinato tenha ocorrido ali. Temos a desconfiança de que local foi apenas para a desova", afirmou o delegado.

O laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) apontou que Jacob sofreu esganadura e levou dois tiros na cabeça. Os médicos legistas não souberam precisar a data da morte devido ao estado de decomposição do corpo, mas acreditam que o homem tenha sido executado ainda em 10 de julho. As investigações seguem para saber de qual arma saíram os disparos. Jacob saiu armado no dia em que desapareceu, mas a pistola não foi localizada.

Mandados e buscas

Na terça-feira, a PCDF cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de Bruno e Mateus. Bruno reside em um imóvel no Setor de Mansões Suleste, na Cidade Ocidental. Vizinhos contaram à reportagem que não imaginavam que o ex-candidato a vereador estivesse por trás do assassinato de Jacob. "É difícil acreditar, porque aqui na comunidade ele até entregava cestas básicas, mas sabíamos que ele mexia com agiotagem", disse um homem que preferiu não se identificar. Bruno ficou escondido em Caldas Novas (GO) e se entregou à delegacia na manhã de ontem.

Já Mateus, tem três endereços, sendo um deles no Jardim Ingá, em Luziânia. Os policiais foram ao imóvel e descobriram que o investigado havia se mudado e retirado todos os móveis da residência depois do crime. Por meio de mensagens enviadas ao Correio pelo Whatsapp, Mateus nega o crime.

Pelos vizinhos, Mateus é tido como uma pessoa perigosa e intimidadora. "Nas eleições de 2020, ele ficava mostrando a arma de dentro da caminhonete", disse uma pessoa à reportagem. No condomínio onde um familiar de Mateus mora também era comum ele andar armado e mostrar o revólver na frente de crianças. Mateus acumula passagens por estelionato, dano e desacato. Ele e Bruno são investigados pelos crimes de homicídio qualificado por motivo torpe e pela forma de execução e ocultação de cadáver. Mateus tem um Ford Ka branco, veículo do mesmo modelo do que foi gravado nas imagens de 10 de julho, com Jacob como passageiro.

Bruno está preso temporariamente por 30 dias, mas pode ter a prisão prolongada pela Justiça. Ele deve ser conduzido ao Complexo Penitenciário da Papuda hoje.

O que falta saber?

Quem conduzia o carro que buscou Jacob em casa?

Qual a participação de cada um dos suspeitos?

Há mais pessoas envolvidas no crime?

Qual a verdadeira motivação do homicídio?

 

  • Sócio do principal suspeito, Mateus pegou dinheiro emprestado com a vítima
    Sócio do principal suspeito, Mateus pegou dinheiro emprestado com a vítima Foto: Material cedido ao Correio
  • O motivo da morte de Jacob seria uma empresa de transporte no Entorno
    O motivo da morte de Jacob seria uma empresa de transporte no Entorno Foto: Arquivo pessoal
  • Delegado Renato Martins, adjunto da 33ª DP
    Delegado Renato Martins, adjunto da 33ª DP Foto: Darcianne Diogo/CB/D.A Press
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