Brasília tem representante na mostra competitiva de documentários do Festival de Cinema de Gramado (RS) deste ano, entre 11 e 19 de agosto. Dirigido e roteirizado por Thiago Foresti, o longa Da porta pra fora conta as histórias de três entregadores de aplicativo desde os primeiros dias, após a decretação do lockdown, em março de 2020, em decorrência da pandemia de covid-19. As gravações foram até outubro de 2021.
A produção é um retrato da forma como o governo brasileiro e as empresas de aplicativo trataram os trabalhadores da categoria durante a maior crise sanitária das últimas décadas. A mostra de documentários do prestigiado festival teve 175 inscritos, dos quais foram selecionados apenas cinco, entre eles a produção brasiliense. Foresti conta que a ideia do filme veio logo no início do isolamento, quando morava em uma quitinete na 716 Norte. "Tudo estava parado. O que eu ouvia eram os motoboys circulando pela cidade. Foi quando decidi contar a história deles", relata.
Ele abordou alguns desses trabalhadores, falando da intenção de produzir o filme. Thiago chegou a entrar em um grupo de WhatsApp dos motoboys, pedindo vídeos do cotidiano deles, até que escolheu três deles, Marcos, Sorriso e Keliane, personagens centrais da obra. No filme, que tem duração de 84 minutos, não há falas de especialistas e nem de porta-voz, tudo é contado pelos próprios motoboys.
Os entregadores foram equipados com câmeras gopro e 360º, que, junto aos celulares dos próprios motoboys, foram responsáveis pela gravação de detalhes do dia a dia deles. Também há registros de manifestações que ocorreram em pleno período pandêmico, como as de apoio ao ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e a que foi promovida pelos próprios motoboys, que reivindicavam melhores condições de trabalho.
"O trabalho dos motoboys passou a ser um serviço essencial naquela época e eles passaram a ser considerados heróis, mas esse reconhecimento ficou apenas nas palavras", ressalta o cineasta.
Foresti, na realidade, é formado em jornalismo desde 2005, mas o interesse pelo cinema foi crescendo ao longo do tempo. O Da porta pra fora não é a primeira vez do diretor no festival. Em 2019, o seu curta-metragem Invasão espacial também foi exibido no festival gaúcho e foi vencedor do Kikito de melhor edição. Os filmes Escola sem sentido (2019) e Manual da pós-verdade (2022) também levam a assinatura de Thiago Foresti.
Cotidiano
Uma das entregadoras que protagonizam o documentário Da porta pra fora é Keliane Alves Pereira, 31, que atualmente trabalha em uma distribuidora de gás e canta na noite. "Foi meio vergonhoso mostrar o meu cotidiano, fazendo comida e comendo sentada no chão", recorda entre risos.
Antes da pandemia, ela trabalhava como rodoviária e cantora, duas ocupações que teve que abandonar com a chegada da pandemia. Como tinha acabado de financiar uma moto nova, viu na função de entregadora a oportunidade de ganhar dinheiro durante o isolamento. Keliane trabalhava no aplicativo de encomendas Loggi, que, à época, era o que remunerava melhor, segundo ela. "Tinha dias que eu andava pelos quatro hemisférios do Distrito Federal. Saía de casa às 4h da manhã e ia primeiro para o Gama, depois São Sebastião, Planaltina e acabava em Brazlândia. Escolhia Brazlândia ou Gama para ir sempre por último por conta da distância menor para onde eu moro, em Ceilândia", relata.
Foi durante as gravações do documentário, ainda em 2020, que Keliane sofreu um acidente de trânsito, que a impossibilitou de trabalhar por duas semanas. Uma Fiorino colidiu com a sua moto no Gama, impacto que causou inchaço em uma das pernas. "Fui levada para o Hospital do Gama, mas não tinha médico. Depois fui parar no Hospital de Santa Maria e saí de lá por volta das 23h. O acidente foi às 18h", rememora.
Keliane lembra que o aplicativo chegou a ligar para ela após ter informado do acidente. "Eles não estavam preocupados comigo. Só me pediram para dar um jeito de entregar o pacote ao destino. Tive que pedir para um colega fazer isso por mim e buscar minha moto", conta. Mas as dificuldades não acabaram depois que foi liberada do hospital. "Como tive que passar esse tempo parada, atrasei todas as minhas contas, estava em processo de separação da minha ex-esposa, tive que pedir ajuda para minha mãe e acabei tendo que vender a moto".
Após a recuperação, Keliane voltou a trabalhar nos aplicativos nos quais era cadastrada. "O problema é que, quando você passa muitos dias sem fazer entrega, o aplicativo manda bem menos entregas para fazer, o que diminui muito o dinheiro que ganho", revela. Foi aí que voltou a cantar forró em bares, aniversários e outros eventos, e conseguiu o emprego na distribuidora de gás.
No documentário, que acaba com a cena de Keliane cantando, também participa Alessandro da Conceição, 30 anos, mais conhecido como Sorriso. "Sou um cara carismático", explica o motoboy. Ele começou no ofício de entregador há sete anos e hoje o trabalho é a principal fonte de renda dele. "Participar do documentário foi muito bom. "Conseguimos mostrar a realidade nua e crua do que passamos nas ruas, e também o medo que assombrava toda a população. Víamos a realidade do coronavírus nos outros países e o medo já assombrava a todos aqui. Foi uma experiência em que eu vivi uma mistura de sentimentos muito fortes", confessa Sorriso.
O motoboy também conta que a seleção da obra para a mostra do festival foi inesperada. "É muito concorrido o Festival de Gramado. Por outro lado, o documentário ficou muito bom. Eu me emocionei muito com o filme", diz. Agora, a próxima missão é ir ao festival para prestigiar a exibição do longa. A fim de arrecadar dinheiro para o custeio da viagem das estrelas do filme ao Sul, os interessados em ajudar podem acessar o site vakinha.com.br e procurar pelo id 3870159.
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Imagens dos protagonistas do documentário Da porta pra fora, de Thiago Foresti: cotidiano dos motoboys Foto: Fotos: Augusto Dauster/Divulgação -
Imagens dos protagonistas do documentário Da Porta pra Fora, de Thiago Foresti, representante de Brasília na mostra competitiva do Festival de Gramado desse ano. Foto: Augusto Dauster/Divulgação
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Imagens dos protagonistas do documentário Da Porta pra Fora, de Thiago Foresti, representante de Brasília na mostra competitiva do Festival de Gramado desse ano. Foto: Augusto Dauster/Divulgação
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Imagens dos protagonistas do documentário Da Porta pra Fora, de Thiago Foresti, representante de Brasília na mostra competitiva do Festival de Gramado desse ano. Foto: Augusto Dauster/Divulgação
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Imagens dos protagonistas do documentário Da Porta pra Fora, de Thiago Foresti, representante de Brasília na mostra competitiva do Festival de Gramado desse ano. Foto: Augusto Dauster/Divulgação
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Imagens dos protagonistas do documentário Da Porta pra Fora, de Thiago Foresti, representante de Brasília na mostra competitiva do Festival de Gramado desse ano. Foto: Augusto Dauster/Divulgação
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Imagens dos protagonistas do documentário Da Porta pra Fora, de Thiago Foresti, representante de Brasília na mostra competitiva do Festival de Gramado desse ano. Foto: Augusto Dauster/Divulgação
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Imagens dos protagonistas do documentário Da Porta pra Fora, de Thiago Foresti, representante de Brasília na mostra competitiva do Festival de Gramado desse ano. Foto: Augusto Dauster/Divulgação
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Imagens dos protagonistas do documentário Da porta pra fora, de Thiago Foresti: cotidiano dos motoboys Foto: Fotos: Augusto Dauster/Divulgação
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Imagens dos protagonistas do documentário Da Porta pra Fora, de Thiago Foresti, representante de Brasília na mostra competitiva do Festival de Gramado desse ano. Foto: Augusto Dauster/Divulgação
