Investigação

Costelas quebradas e lesões: laudo reforça morte de mulher por esganadura

Elaine Vieira de Jesus Dias tinha lesões aparentes pelo corpo e estava sem a unha do polegar direito. O namorado, apontado como o principal suspeito, disse à polícia que a mulher havia morrido ao se engasgar com carne

Darcianne Diogo
postado em 17/07/2023 20:24
Elaine Vieira de Jesus Dias pode ter sido vítima de feminicídio -  (crédito: Redes sociais/ reprodução)
Elaine Vieira de Jesus Dias pode ter sido vítima de feminicídio - (crédito: Redes sociais/ reprodução)

As provas colhidas pelos investigadores da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte) que ligam Marcus Renato de Sousa da Silveira, 44 anos, à morte da namorada, Elaine Vieira de Jesus Dias, 35, são robustas. A suspeita era de que a mulher havia morrido por engasgo com um pedaço de carne, mas o laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) apontou fortes indícios de óbito por esganadura. O técnico de informática foi preso temporariamente nesta segunda-feira (17/7) e pode ter a prisão preventiva decretada pela Justiça.

O Correio obteve acesso com exclusividade ao laudo produzido pelos médicos-legistas. As equipes identificaram lesões aparentes no pescoço de Elaine, no joelho, além de costelas quebradas e até a falta de uma unha no dedo polegar da mão esquerda, o que pode dá a entender que a vítima entrou em luta corporal com o companheiro.

Em um novo depoimento prestado à polícia, nesta segunda, Marcus continuou com a versão contada anteriormente e reforçou a hipótese da namorada ter morrido ao se engasgar com um pedaço de carne. Ele contou que estava na área, enquanto Elaine havia pegado um prato de comida e ido para o quarto. Ainda de acordo com o acusado, Elaine derrubou o prato e desfaleceu ao se engasgar.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado e, por telefone, orientou Marcus a realizar os procedimentos de primeiros socorros. A mulher chegou com vida ao Hospital Regional de Samambaia (HRS), mas morreu duas horas depois.

O documento do IML atestou que Elaine não tinha lesão no esôfago, o que é comum em casos de engasgo e concluíram que a vítima não tinha consumido nenhum alimento recentemente. Ao ser questionado sobre o pedaço de carne, Marcus afirmou que levou o alimento até à delegacia após o ocorrido e entregou para um agente. O fato está em investigação.

Outra linha que fez os investigadores desconfiarem de Marcus é o fato dele não ter comparecido ao velório da própria namorada e, depois da morte da companheira, foi à casa da mãe de Elaine para ameaçar a família. Conforme consta na denúncia, Marcus fingiu ser síndico para conseguir entrar no condomínio, danificou a porta do apartamento e fugiu ao ser confrontado pelos vizinhos.

A prisão temporária de Marcus é de 30 dias e foi deferida pelo juiz Fabrício Castagna. A Justiça autorizou ainda a busca e apreensão na casa do suspeito e a quebra de sigilo dos dados dos aparelhos eletrônicos. A reportagem falou com a defesa do homem, que preferiu não se manifestar.

Dinâmica

Elaine morreu entre na noite de 22 de março, dentro da casa de Renato. À polícia, o homem contou que, na manhã de 20 de março, teve um pequeno desentendimento com a mulher e ela saiu de casa e os dois não conversaram durante o dia. Segundo o acusado, a briga ocorreu por “motivos banais” e divergências relacionadas aos afazeres domésticos.

No começo da noite, Elaine saiu com um amigo e postou uma foto no Instagram em um bar do Guará. Marcus começou a ligar de forma insistente à mulher. No estabelecimento, Elaine e o amigo conversaram, mas ela passou mal e a vomitar. Por isso, decidiram ir embora e ir para a casa do colega, no Sudoeste.

Quando a mulher chegou na casa do amigo, o namorado continuou com as ligações e o próprio colega decidiu atender. Segundo Marcus, a conversa entre os dois ocorreu de forma “amistosa” e pediu para que ele colocasse Elaine em um transporte por aplicativo para voltar para a casa. Em outro momento, o técnico fez uma chamada de vídeo com Elaine e viu a mulher deitada no sofá com uma coberta.

Aos investigadores, o colega de Elaine negou que os dois tivessem mantido relações sexuais e explicou que a mulher estava deitada no sofá por estar passando mal. Em uma nova ligação feita pelo companheiro, Elaine atendeu e exigiu que ela voltasse para a casa. Na delegacia, o colega relatou que foi possível ouvir Marcus xingando a namorada. Desesperada, Elaine decidiu ir embora e pediu um Uber.

Marcus esperou pela chegada de Elaine do lado de fora de casa. Segundo ele, a mulher chegou embriagada, se arrastando pelo chão e caiu por três vezes no portão. Na versão contada à polícia, Marcus alegou que os dois conversaram e ele saiu para limpar a área, enquanto Elaine pegou um prato com comida e foi para o quarto comer. Ainda de acordo com o acusado, Elaine derrubou o prato e desfaleceu ao se engasgar com um pedaço de carne.

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