Praças são espaços públicos comuns às cidades do mundo todo. Entre outras funções, elas cumprem o papel de dar uma pausa na paisagem urbana, proporcionando locais de encontro aos moradores. O Correio percorreu alguns desses espaços públicos pelo Distrito Federal para descobrir o estado de conservação e as principais reivindicações dos frequentadores.
Palcos de manifestações populares da capital do país, as praças dos Três Poderes e do Buriti são o retrato do abandono. A primeira, inclusive, é importante elemento do conjunto urbano reconhecido como Patrimônio Mundial. "A principal função (delas) é receber a população em eventos importantes para a nação e o DF, solenidades públicas e manifestações", destaca o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil do Distrito Federal (IAB-DF), Luiz Eduardo Sarmento.
Ele destaca que, especialmente a Praça dos Três Poderes, tem sofrido não apenas com a ação do tempo, mas com a falta de zelo das autoridades públicas do GDF, instância responsável pelo espaço. "Está muito mal cuidada, suja, com as pedras portuguesas soltas. É um espaço importante e que carece de manutenção", completa o presidente do IAB-DF.
A polêmica sobre a responsabilidade de quem cuida do espaço não é nova. Recentemente, a Secretaria de Cultura do Distrito Federal e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) trocaram farpas publicamente. De acordo com o então secretário Bartolomeu Rodrigues, o Governo do Distrito Federal havia enviado ofícios ao Iphan pedindo que o órgão tomasse providências para a recuperação do local, mas que eles não haviam sido respondidos.
Em nota, o Iphan afirmou que "nos meses de junho e julho, ocorreram reuniões com representantes da Secretaria de Cultura, da Secretaria de Turismo e também do STF, com o objetivo de pensar na revitalização da Praça dos Três Poderes, levando em conta o enorme potencial de um patrimônio mundial tombado para o desenvolvimento econômico, a educação, a cultura e o turismo."
Pelo DF
Se o principal, o rossio da capital está assim, a realidade nos demais pontos de encontro não passa ao largo. Em Taguatinga Norte, a Praça do Bicalho reúne diversos estabelecimentos comerciais movimentados ao seu redor, mas é possível perceber a falta manutenção dos equipamentos e do mobiliário urbano. Gustavo Vinicius Balbino da Silva, 20 anos, mora nas proximidades da praça e frequenta o local diariamente. "Precisa melhorar as calçadas quebradas, ter bancos na sombra, cuidar mais da jardinagem e da limpeza. O sentimento é de descuido", enumera o chapeiro.
Fora os problemas elencados, Gustavo também relata que o sobrinho pequeno se machucou, recentemente, no parquinho da praça. A reportagem verificou que o equipamento está impróprio para uso. Faltam degraus para subir no playground, há partes enferrujadas e o cercado com partes pontiagudas, apresentando riscos para a segurança das crianças. A presença de pessoas em situação de rua também foi percebida pela reportagem, mesmo problema da Praça do DI, também em Taguatinga.
Já em Ceilândia, a praça situada ao lado da Feira Central é utilizada pelo tráfico de drogas. "Aqui, a insegurança é constante. O tráfico de drogas ocorre o dia inteiro", diz frequentadora que preferiu não se identificar. E não foi difícil atestar o que ela relata. A poucos metros de onde estava, havia um grupo usando drogas despreocupadamente, no meio da tarde. Sobre a iluminação noturna, ela relata que está em bom estado, mas que não é o suficiente para afugentar os usuários, que não se intimidam nem com a luz do dia.
O Correio também visitou o Guará, cidade que tem como marca as diversas pracinhas localizadas nas quadras. Entre a QE 4 e as QI's 6, 8 e 10 os problemas com sujeira se acumula em diversos pontos da praça. Boa parte dos bancos estão danificados. "A estrutura precisa de manutenção, de uma jardinagem mais ativa, revitalização e poda das árvores", aponta Francisco Caetano, 53 anos.
O policial militar aposentado conta que à noite a situação fica "crítica". "A praça fica muito escura. Tem gente que se reúne aqui para usar drogas, o que acaba trazendo outros problemas, como a violência. Furtos e roubos ocorrem com frequência na redondeza", conta Francisco, que aposta em mais eventos apoiados pela administração regional para trazer de volta às pessoas ao local.
Praças
Segundo o presidente do IAB-DF, Luiz Eduardo Sarmento, as praças são espaços de exceção no tecido urbano, com o objetivo de reunir pessoas, com predominância de espaços livres no lugar de edificações.
O arquiteto ainda explica que as praças são — ou deveriam ser — espaços convidativos para os cidadãos. "Isso nos permite, ao que talvez seja uma das principais vantagens de se viver em cidades, a possibilidade do encontro com uma diversidade de gente", analisa.
Luiz também aponta que a garantia de espaços públicos qualificados, com equipamentos, mobiliário, ajardinamento e arborização de qualidade são fundamentais para que a população tenha suporte para se conhecer. "Os espaços públicos convidativos e vivos são importantíssimos para a criação de comunidades resilientes. Quando bem arborizadas, as praças permitem até que existam microclimas específicos que garantem um maior conforto térmico do que no resto dos espaços da cidade. Podem ser como pequenos oásis", explica.
As desigualdades do Distrito Federal podem ser vistas nesses espaços, sobretudo no tratamento dado pelo governo às praças do Plano Piloto e de outras RA's. "Nas satélites, onde há uma maior necessidade desses espaços, são os lugares onde o poder público mais falha", alerta.
Resposta
Em nota, o GDF informou que as praças do DI e do Bicalho estão passando por reformas. A primeira foi requalificada e entregue à população no início do ano. Por seguinte, a outra será revitalizadas e logo será totalmente requalificada, de acordo com o governo.
Sobre as demais, até a publicação da matéria, ainda não tínhamos retorno.