VIOLÊNCIA

"Muita gente ainda naturaliza os casos" , diz socióloga sobre feminicídios

Entrevistada do Podcast do Correio, a doutoranda em sociologia pela UnB, Camila Galetti, afirma que autores desses crimes tentam se justificar no Judiciário com argumentos sexistas e machistas sobre as vítimas

Mariana Saraiva
postado em 18/07/2023 06:00
 Camila Galetti, doutoranda em sociologia, é a convidada do Podcast do Correio na segunda-feira (17/7)-  mesa: Ana Maria Campos e Aline Brito -  (crédito:  Ana Dubeux)
Camila Galetti, doutoranda em sociologia, é a convidada do Podcast do Correio na segunda-feira (17/7)- mesa: Ana Maria Campos e Aline Brito - (crédito: Ana Dubeux)

Doutoranda em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), Camila Galetti, convidada de ontem do Podcast do Correio, abordou a questão do feminicidio sob um olhar social. Em entrevista às  jornalistas Ana Maria Campos e Aline Brito ela afirmou que, a seu ver, o Distrito Federal reflete uma sociedade "sexista e misógina". Camila, avalia que, infelizmente, os homens autores de feminicídios se sentem "confortáveis" com tais atitudes porque, na prática, "há uma insuficiência de políticas públicas que tratem com seriedade essa temática", destaca.

Conforme a opinião da socióloga, "é nítido que esses homens têm um sentimento de pertencimento, de propriedade, quando se diz respeito às companheiras". Segundo ela, antigamente esses crimes eram tratados como "crimes de honra". "E essa realidade ainda é presente, ainda se busca uma justificativa para casos que não têm como serem justificados", enfatiza.

Estágio

Ao ser lembrada sobre o fato de, muitas vezes, os advogados dos réus de feminicídios tentarem justificar o crime alegando que a vítima tinha relacionamentos extraconjugais a entrevistada foi taxativa. De acordo com ela "é preciso ter consciência que o feminicidio é o último estágio da violência. Antes dele vem a violência psicológica e física. E quando alguém tenta justificar isso é preocupante para nós, como sociedade. O DF chega em julho de 2023 com o correspondente ao número de feminicidios observado durante o ano inteiro de 2022" aponta. Segundo a socióloga, as pessoas vão "naturalizando" os casos e se questionando: "mas ela não tinha amante? Como ela era em privado?"

Empoderamento?

Embora saiba que nas redes sociais a pauta sobre empoderamento feminino e direito das mulheres seja constante, dados sobre violência mostram que nem tudo tratado sobre o tema tem surtido efeito. Para Camila, a questão é que ao mesmo tempo em que essas pautas aumentam e surtem seus devidos efeitos, também aumenta a reação para se manter uma estrutura patriarcal. Segundo ela, a estratégia de comunicação não está errada, mas a temática precisa ser debatida em todos os meios possíveis. "O problema é a tentativa grande que existe de se menosprezar a questão", frisa.

Patriarcado

O ódio que parte desses homens é outro tema abordado com a entrevistada. Galette considera uma questão estrutural o fato de se condicionar, desde cedo, como uma mulher e como um homem devem agir. "Vem de uma lógica muito patriarcal, é uma questão de criação, de como os homens são ensinados a lidar com as mulheres" , afirma.

Outro ponto abordado diz respeito ao fato da maioria dessas vítimas ter uma medida protetiva, ou seja, de já existir, antes do crime, uma dimensão de que algo poderia acontecer. "As mulheres estão morrendo pelo simples fato de serem mulheres e de não quererem mais uma relação. Elas encerram toda uma trajetória porque um homem se sentiu confortável em tirar suas vidas", reflete a doutoranda.

Quando perguntada sobre como vê o feminismo no DF, a socióloga diz que, tanto na  Câmara Legislativa quanto na federal existem figuras que adotam narrativas antifeministas. E deixa um questionamento: "Será que precisamos de mais mulheres na política ou mulheres mais comprometidas com pautas que nos perpassam?".

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