Insegurança

Pesquisa aponta sensação de medo nas escolas públicas e particulares do DF

Pesquisa feita pelo Observa DF, da Universidade de Brasília (UnB), revela as diferenças de percepção de segurança da população em relação às instituições de ensino privadas e públicas. Notícias também podem influenciar entrevistados

Naum Giló
João Carlos Silva*
postado em 05/07/2023 06:00
 (crédito: João Carlos Silva/ CB/D.A.Press)
(crédito: João Carlos Silva/ CB/D.A.Press)

Episódios recentes de violência em escolas pelo Brasil têm tirado o sossego de pais e responsáveis de estudantes também no Distrito Federal. Uma pesquisa divulgada pelo Observatório de Políticas Públicas do DF (ObservaDF), vinculado ao Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), apontou que ao menos 75% dos entrevistados consideram as instituições públicas como "inseguras" ou "com pouca segurança". A análise faz parte da avaliação e percepção dos moradores do Distrito Federal sobre suas unidades de ensino.

O estudo foi feito durante o mês de maio deste ano, a partir da coleta de informações sobre amostra aleatória de 1.001 pessoas de todo o DF. Metade afirma residir com menores de 18 anos em idade escolar, e revela que a percepção de insegurança nas escolas é um fenômeno que atinge principalmente a rede pública, onde estudam 80% dos estudantes do Distrito Federal, segundo o Censo da Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Enquanto cerca de três quartos dos entrevistados classificam as escolas públicas como muito inseguras ou um pouco inseguras, esse percentual não chega a 30% dos questionados quando as instituições são privadas. Entre os que julgam as escolas muito seguras, apenas 5% se referem às unidades do Estado. Em relação às particulares, a proporção é de cerca de um terço dos entrevistados.

Outro critério avaliado pelo estudo foi a percepção de segurança dentro e no entorno da instituição, nos períodos diurno e noturno. Os dados coletados pelo Observa DF mostram que a maior percepção de insegurança ocorre nas áreas ao redor das escolas, não dentro delas, e durante a noite, como apontado por cerca de 55% dos respondentes, o que pode revelar que as unidades de ensino são focos de insegurança, por mais que a violência não ocorra dentro do perímetro da instituição.

Perigo

Analisando as respostas dos entrevistados de cada uma das RA's do DF, Fercal, São Sebastião, Lago Norte, Jardim Botânico e Taguatinga são as que reportaram os maiores níveis de insegurança. Mesmo sendo regiões de diferentes faixas de renda da capital sofrem com o perigo da violência em áreas escolares. "No entanto, é importante lembrar que é uma pesquisa de percepção, não é o que de fato ocorre nas escolas. Um evento violento recente interfere na hora do entrevistado responder ao questionário. De qualquer forma, ou a violência realmente não está correlacionada à renda ou os resultados podem ter sido afetados pelas limitações da amostra da pesquisa", explica Andrea Felippe Cabello, pesquisadora responsável pelo levantamento.

Também foi perguntado aos entrevistados sobre os tipos de eventos violentos mais comuns entre os estudantes da capital. Mais de um quarto dos respondentes — aproximadamente 25% —, residentes com menores de 18 anos que frequentam escolas públicas, reportaram que os menores sofreram ofensa verbal.

No âmbito das escolas privadas, o percentual é de 15%. A boa notícia é que os tipos de violência mais graves como ameaça com faca ou arma de fogo ou ainda esfaqueamento ou tiro são os menos comuns, tanto em escolas públicas quanto privadas. Entretanto, segundo Cabello, o estudo tem a limitação do que os estudantes chegam a informar aos pais, partícipes da pesquisa.

Ação

Segundo outro ponto da pesquisa, quase 70% dos respondentes não percebem mudanças na segurança promovidas pelo governo local. Entretanto, apoiam possíveis medidas para a coibir a violência no contexto escolar. Eles demonstraram grande apoio ao aumento de policiais no entorno das escolas e creches (88%), fomento à cultura da paz (87%), aumento da oferta de atividades de cultura e esporte na escola fora dos horários de aula (84%) e aumento da presença de policiais dentro de escolas e creches (82%). O aumento no número de escolas militarizadas é visto com alta importância por 63%.

Por outro lado, o fornecimento de armas e treinamento aos professoras para lidar com situações de violência nas escolas é visto com baixa importância por 66% dos entrevistados.

Mais segurança

"Não é normal, mas é comum", reflete Nanrery Mendonça, que aos 42 anos ainda se recorda de suas próprias experiências com bullying e acredita que o problema não é algo próprio das gerações atuais. "Quem nunca passou bullying na escola?", interroga. Hoje, ela percebe a violência em ambiente escolar como um problema que vem de casa. "Educação que (eles) recebem dos pais é a principal. Depois eles (as crianças) vão para a escola e aplicam o que aprenderam em casa", afirma.

A artesã e moradora de avenida 26 de Setembro é mãe de um garoto que apresenta transtorno do espectro autista, o que a levou a matriculá-lo em uma escola que promove a convivência entre alunos com quadro psiquiátrico clínico e crianças que não necessitam de acompanhamento especial. Segundo Nanrery, essa proposta de educação avança para um convívio mais inclusivo entre alunos.

No entanto, a mãe aponta a urgência de melhorias para garantir a segurança dos alunos, ela explica que a escola não consegue um porteiro, mesmo depois de contatar a Secretaria de Educação, "É um risco, né? Ainda mais por ele e outros alunos que pegam o ônibus escolar cedido pelo governo. Eles têm que esperar um tempo até o ônibus chegar para eles entrarem. Por não ter porteiro, algum professor, diretor ou coordenador tem que ficar com eles até o ônibus chegar", expõe. 

A operadora de caixa Kátia Maria de Souza também reitera a necessidade de instrução adequada para os mais jovens. O que foi preciso quando seu filho Alexandre, de 8 anos, sofreu recorrentes ataques de um colega de escola. "Eu conversei com a professora, eu não sei se ela chegou a conversar com outro aluno e tudo mais, mas eu alertei e vim observando para ver o que é que acontecia. Ele (Alexandre) falou que parou", detalha. "Observação e sempre estar conversando e perguntando. Querendo ou não, eles ficam umas cinco horas na escola. Às vezes o comportamento que eles têm na escola pode ser diferente do que a gente vê em casa", aconselha a mãe.

*Estagiário sob supervisão de Suzano Almeida

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Além da violência entre alunos, responsáveis temem a violência nos arredores da escola.
    Além da violência entre alunos, responsáveis temem a violência nos arredores da escola. Foto: João Carlos Silva/ CB/D.A.Press
  •  Alexandres, de 8 anos, é o único filho de Katia Maria de Souza.
    Alexandres, de 8 anos, é o único filho de Katia Maria de Souza. Foto: Katia Maria de Souza, 43, Taguatinga Norte, operadora de caixa
  • Taguatinga Norte esta entre as regiões administrativas em que responsáveis sentem maior insegurança
    Taguatinga Norte esta entre as regiões administrativas em que responsáveis sentem maior insegurança Foto: João Carlos Silva/ CB/D.A.Press
  • Katia Maria de Souza é mãe de Alexandres, de 8 anos.
    Katia Maria de Souza é mãe de Alexandres, de 8 anos. Foto: Katia Maria de Souza, 43, Taguatinga Norte, operadora de caixa
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação