MEMÓRIA

Palácio da Alvorada, início do sonho da construção de Brasília, faz 65 anos

O Palácio da Alvorada, de Oscar Niemeyer, foi a primeira obra de alvenaria e uma das mais importantes construções da capital federal. Prédio, com suas colunas e espelhos d'água, remete à brasilidade do país

Residência dos presidentes da República e sede de muitas reuniões históricas que mudaram o destino do país, o Palácio da Alvorada completa hoje 65 anos de existência. Projetado por Oscar Niemeyer, o local é uma das mais importantes construções do modernismo arquitetônico brasileiro e teve sua obra iniciada em 3 de abril de 1957. Inaugurado em 30 de junho de 1958, consiste no primeiro edifício de alvenaria da capital.

Conforme destacam historiadores, o Alvorada nasceu antes mesmo da criação de Brasília, por ter sido o primeiro prédio. Por isso, segundo o arquiteto Cláudio José Pinheiro Villar de Queiroz, que trabalhou com Niemeyer, seu projeto remete a toda a brasilidade da capital federal. Devido às suas curvas, a obra apresenta traços em outras construções da cidade que expressam o compromisso do arquiteto com a cultura do país. 

Flutuante

Zuleika de Souza/CB/D.A Press - Esculturas de artistas plásticos famosos e espelhos d'água também se destacam em meio à edificação
Zuleika de Souza/CB/D.A Press - Segundo arquitetos, foram os traços de Niemeyer no Alvorada que deram a feição do que é, hoje, Brasília
Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 13/11/2002. Credito: Zuleika de Souza/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Palacio da Alvorada.
Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 13/11/2002. Credito: Zuleika de Souza/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Palacio da Alvorada.
Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 13/11/2002. Credito: Zuleika de Souza/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Espelho d'agua e a fachada do Palacio da Alvorada.
Zuleika de Souza/CB/D.A Press - As colunas se apoiam no terreno por um de seus vértices, fazendo desaparecer a ideia de peso
Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 13/11/2002. Credito: Zuleika de Souza/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Escultura em frente ao Palacio da Alvorada.
Arquivo Público do Distrito Federal/Fundo Novacap - O prédio reflete, desde o início da sua construção, toda a brasilidade da capital federal
Arquivo Público do Distrito Federal/Rerpodução da internet - Crédito: Arquivo Público do Distrito Federal/Reprodução da internet. Imagens do Palácio da Alvorada em construção no Filme, As primeiras imagens de Brasília.

Localizado às margens do Lago Paranoá, revestido em mármore, vedado por cortinas de vidro e estrutura formada por pilares brancos, o Alvorada é a residência oficial do presidente da República do Brasil. As colunas que tanto chamam a atenção de turistas, apoiam-se no terreno por um de seus vértices fazendo desaparecer a ideia de peso. O formato diferenciado dos pilares externos do prédio dão origem ao símbolo da cidade, marcado no brasão do Distrito Federal. Design, inclusive, que é largamente copiado em construções populares país afora, o que o torna sinônimo de toda uma estética dos anos 50.

"A intenção do seu criador foi fazer com que as bases do Alvorada, assim como a Catedral de Brasília, aparentassem que suas colunas apenas tocam o chão, dando a impressão de que o edifício flutua no ar", enfatiza Queiroz.

Outro destaque do Palácio é o espelho d'água, que reflete a imagem do edifício, criando um espaço virtual infinito e complementado por esculturas. Algumas delas, como as Iaras, de Alfredo Ceschiatti, também parecem flutuar à superfície da água, em forma de materialidade. Fincada nos jardins junto à  piscina e à pérgola com churrasqueira, também chama a atenção para o prédio a escultura Rito do Ritmos, de Maria Martins, na ala leste.

As famosas colunas

"As colunas delgadas do Palácio da Alvorada representam Brasília, assim como as colunas rotundas marcam a Grécia antiga", destaca Queiroz. Segundo ele, reproduzido nas fachadas e varandas das casas populares Brasil, o losango de lados côncavos colados um ao outro por um dos vértices dá a impressão de  casas coloniais. "Olhar a cidade da janela de casa, avistar o Alvorada e admirar toda a beleza da arquitetura projetada em vários prédios e monumentos é compreender a importante história da capital federal", acrescenta.

Professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), o arquiteto lembra com satisfação a forma como a capital foi projetada e criada a partir do Palácio. Ele participou de várias obras de Niemeyer desde muito jovem, a quem considera "uma das pessoas mais sensíveis que já conheci na vida". 

"Projetar um prédio que deu a dimensão do que seria Brasília, antes mesmo da capital existir, foi de uma sensibilidade mais que genial. Foram os traços iniciados no Alvorada que deram a feição do que é uma capital federal, tanto que ela é tombada como patrimônio histórico mundial e remete à nossa cultura peculiar, já que somos um povo de culturas distintas, descendentes de vários povos. Essa projeção permite nos vermos em uma grande casa com vários monumentos que remontam a história de Brasília", afirma Cláudio Queiroz.

Trabalhadores

Para a escritora Leiliane Rebouças, autora do livro Vizinhos do Poder, as famosas colunas com perfil de casas coloniais são realmente uma marca do traço do arquiteto, mas também dos trabalhadores que ajudaram a erguer o Alvorada. A escritora relembra que, durante a construção, o presidente Juscelino Kubitschek chegava no local de madrugada para ver de perto como estavam os serviços e costumava tomar café com os trabalhadores.

"A data é mais do que propícia para reverenciar os pioneiros que trabalharam na construção do Palácio. A Vila Planalto surgiu porque a Novacap enviou 15 operários para montarem acampamento na Vila Rabelo, empresa contratada para erguer a residência oficial do presidente da República", conta Leiliane.

Em  função do aniversário, vários trabalhadores que participaram da construção do Alvorada também serão homenageados hoje, na Câmara dos Deputados. Entre eles, o senhor Gerônimo Peres, um dos armadores (profissionais responsáveis pela estrutura de ferro) da construção do Palácio.

Sem visitas

O dia é de comemorações, mas de poucas visitas no local, em função da segurança — reforçada depois dos atos de depredação do dia 8 de janeiro.

Os manifestantes não ameaçaram o prédio mas, por precaução, segundo a administração do Palácio, visitas do público estão suspensas e só serão retomadas depois que o acervo de mobiliário e arte — que também está sendo restaurado desde o início do ano, depois de denúncia feita pela primeira dama Janja da Silva de ter encontrado objetos deteriorados — for recomposto. Até lá, brasilienses e turistas, tanto de outros estados brasileiros como do mundo inteiro, podem admirar por fora toda imponência da edificação.

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