Sobrevivente de uma aventura inesperada, José Arteiro Ribeiro, de 82 anos, passou oito dias perdido no meio da mata. Morador de Ceilândia, ele se perdeu na Vila Propício, município de Goiás a cerca de 160km de Brasília. Com as buscas já encerradas pelos órgãos de segurança do estado vizinho, Arteiro foi encontrado pelo filho André Ribeiro, que não desistiu de procurar pelo pai, mesmo em uma área desconhecida.
José Arteiro saiu de casa, na fazenda de um amigo, em 10 de junho para admirar a natureza, por volta das 5h, e não conseguiu encontrar o caminho de volta. Segundo a família, o homem havia dormido do lado de fora do abrigo em que estava, e, quando os amigos acordaram, não o encontraram no local. Eles avisaram ao filho de José sobre o desaparecimento do pai, que em seguida acionou os bombeiros. A corporação, fez buscas com auxílio de cães farejadores, drones e aplicativos de smartphones para o mapeamento da região, mas tudo sem sucesso.
Pai de 11 filhos incansáveis nas buscas, José Arteiro foi encontrado em 18 de junho por André. Com ajuda de moradores, ele foi até a região ainda na esperança de encontrar o genitor. Ao gritarem pelo desaparecido, ouviram um pedido baixo e sem forças de socorro, até que encontraram o homem. "Quando ele me viu, ele caiu no chão e começou a chorar", relembra. Seu José se emociona ao lembrar do momento que viu André andando em direção a ele. "Senti uma sensação muito forte de alegria e agradeci muito a Deus por ele ter me encontrado."
O idoso foi encontrado em uma região de difícil acesso, há aproximadamente 5km da fazenda onde estava hospedado. A equipe do corpo de bombeiros foi chamada por André até o local, e, ao entrarem na mata, se depararam com um morador da região carregando José em um cavalo. Segundo a corporação, ele estava consciente, porém bastante debilitado, desidratado e com várias picadas de insetos pelo corpo.
De acordo com a filha, Katia Ribeiro, o pai relatou que quanto mais ele entrava na mata mais ele achava a imensidade da natureza bonita. "Ele foi andando até que em um momento ele se deu conta que já tinha ido longe demais e não conseguiu encontrar o caminho de volta", conta. Desde o começo do desaparecimento, a família do morador da Ceilândia sempre manteve a esperança de que ele seria reencontrado.
Fome e sede
Katia se emociona com a força do pai e com tudo que José viveu durante os oito dias perdido em Goiás. "Meu pai disse que sofreu muito, passou sede, fome ao ponto de precisar beber a própria urina e comer cupins para sobreviver." Ainda segundo a filha, José chegou a cair de uma ribanceira, momento onde machucou a boca, mas agradeceu a Deus por não ter quebrado nenhuma parte do corpo e poder continuar procurando o caminho de volta.
Depois do resgate, Arteiro precisou ficar internado por 24 horas, fazendo reposição de vitaminas e minerais, no Hospital de Barro Alto de Goiás, perto de onde ele se perdeu. Agora a família tem se desdobrado para cuidar da saúde de José, que tem sofrido com as consequências da falta de alimentação e água potável.
Cuidados
Os médicos o orientaram a consultar um nefrologista, especialista em rim, órgão que apresentou maior alteração. José teve também três Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) — anterior ao ocorrido — e ainda tem pressão alta e, mesmo passando todos os dias sem o remédio que faz uso constante, ele não apresentou complicações.
"Meu pai está com os pés inchados e com suspeita de problemas nos rins." A família conta que o ocorrido ainda é uma questão delicada e que José chora muito quando lembra de toda a situação que viveu durante os oito dias perdido. Amanhã, a família fará um churrasco para celebrar a nova vida de José e seu retorno para casa.
José Arteiro tinha apenas 18 anos quando chegou a Brasília. Ele veio em um pau-de-arara do Ceará para ajudar a construir a nova capital e aqui consolidou a família que tanto o ama.
Saiba Mais
O que fazer se eu me perder?
O major Fábio Bohle do Corpo de Bombeiros do DF (CBMDF) aponta orientações da corporação para aqueles que porventura se percam em áreas como matas e florestas
- A primeira orientação é nunca sair sozinho e de preferência com um guia que conheça bem a região; nunca se desvincular do grupo. Evitar fazer trilhas à noite, usar vestimentas e calçados adequados para a região. Antes de ir pro passeio estudar sobre a região para ter uma noção do terreno. Levar água, alimentos leves para se houver imprevistos e uma reserva de alimentos.
- Caso se perca, a pessoa deve procurar um lugar seguro, longe das margens de rios, cachoeiras e lago, evitando trombas d'água e as fortes correntezas. Também é importante evitar locais com pedras escorregadias.
- Outra dica é procurar lugares altos, com boa visibilidade para se ter noção de onde se estar, com o intuito de orientar a chegada do socorro, caso tenha a possibilidade de se comunicar por celular. Se for necessário passar a noite, buscar lugares limpos para fogueira, onde não haja a propagação das chamas, em caso de forte ventania.