“Quando um homem abandona uma mulher, ele também abandona toda a geração fruto desse relacionamento” é o que diz Fernanda Cristine Martins, 38 anos, ao relatar a respeito da busca que travou pelo seu pai biológico. Foi a partir do momento em que se tornou mãe, aos 30 anos, que ela sentiu mais necessidade de recuperar o elo paterno perdido, para assim evitar a ausência do avô no crescimento de seus filhos.
A procura
A busca pelo pai foi iniciada em 2015, quando Fernanda passou a questionar com afinco sua mãe, Neuraci, hoje com 62 anos, a respeito dos detalhes de seu nascimento. O relacionamento dos pais de Fernanda foi constituído por encontros casuais no Areal durante a década de 1980. Quando a gravidez ocorreu, Rômulo, o pai de Fernanda, se recusou a assumir a guarda da criança que viria a nascer e negou que seria seu pai.
Com as informações que recolheu da mãe, Fernanda partiu para uma investigação nas redes sociais. Ao acompanhar por vários dias uma página de Facebook que posta registros de épocas antigas do Areal, ela encontrou uma uma postagem com uma foto de quatro homens. “Embaixo da foto tinha os nomes das pessoas fotografadas. Um dos nomes era Rômulo”. Após contato, mais tarde, Fernanda viria a descobrir que a autora da postagem era sua tia.
Sem dinheiro para exames de DNA, Fernanda só pode confirmar o parentesco em 2021, quando recebeu um e-mail que divulgava um projeto da Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF) para reparar a falta de nome do pai em certidões de nascimento. Foi com esse projeto que todas as dúvidas sobre a família perdida de Fernanda sumiram, na sessão de coleta de material genético, ela mal pôde conter a ansiedade e necessitou de acalento da psicóloga que a acompanhava no momento.
“Sou grata a Deus e à Defensoria Pública por hoje poder dizer que sei quem é meu pai, apesar de não ter tido a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente”, conta Fernanda. Seu pai faleceu em 2015, mesmo ano que ela deu à luz aos seus filhos, “Mas conheci uma grande família que me recebeu super bem. Ganhei quatro irmãos e cinco sobrinhos.”
Ausência
A falta paterna marcou a vida de Fernanda desde a adolescência, quando alguns colegas eram impedidos de brincar com ela por não ter um pai e até mesmo preencher documentos era constrangedor, "às vezes me incomodava em ter que explicar porque não tinha o nome de pai nos documentos”, ela expõe.
Aos 9 anos a mãe de gêmeos soube que não tinha o mesmo pai que seus irmãos, na época que seu padrasto se ofereceu para assinar a lacuna da paternidade em sua certidão de nascimento, “perguntaram se eu teria interesse de acrescentar o nome. Na época eu falei que não, porque não queria mudar o meu” ela diz.
Apesar dos percalços, a relação de Fernanda e sua mãe nunca foi fragilizada. “Em algum momento ela se sentiu incomodada por eu mexer nessas feridas. Mas não alterou nada na nossa relação. Ela é extraordinária.”, expõe.
Nova Família
A professora conheceu os novos membros de sua família no encontro ocorrido em novembro do ano passado, realizado no município de Areado, em Minas Gerais. “Foram dias bem emocionantes, conhecer parte de uma família que foi tirada de mim, porque na época meu pai não quis assumir o compromisso de uma vida que ele havia contribuído para gerar”, reflete Fernanda.
*Estagiário sob supervisão de Suzano Almeida