Obituário

Jornalismo se despede do mestre Luiz Gonzaga Motta

Respeitado jornalista, professor da UnB e ex-secretário de Comunicação do GDF, Luiz Gonzaga Motta faleceu na manhã desta sexta-feira (9/6), aos 80 anos, de infarto fulminante

O jornalista, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e ex-secretário de Comunicação do GDF, Luiz Gonzaga Motta, faleceu, nesta sexta-feira (9/6), aos 80 anos. De acordo com familiares, Motta sofreu um infarto fulminante em casa, enquanto caminhava pelo jardim. Deixa a esposa, Rosana, três filhos — Max, Pedro e Joana — e netos.

Jornalista, Ph.D em comunicação pela University of Wisconsin, mestre em jornalismo pela Indiana University, além de professor emérito da UnB e ex-secretário na instituição, Luiz Gonzaga Motta, conhecido como Baga, comandou a Secretaria de Comunicação do Distrito Federal, entre 1995 e 1998, na gestão de Cristovam Buarque.

O ex-governador conheceu Motta na UnB, no início dos anos 1980. "Convivi com ele em atividades políticas durante as lutas pelas diretas e pela autonomia política do DF, e também para a eleição direta de reitor. Sobretudo, nossa convivência maior foi quando ele foi meu secretário de Comunicação durante o 'governo democrático e popular', entre 1995-1999. Devemos a ele ter levado a ideia da Bolsa Escola e dos outros programas do governo do DF para o Brasil e até mesmo para o mundo. Dificilmente a Bolsa Escola teria sido adotada pelo governo FHC, para todo o Brasil, se não fosse o trabalho competente de comunicação social do Luiz Gonzaga, nosso Baga. Por tudo isto, a morte dele é uma perda pessoal para mim e para todo o DF, especialmente para centenas de ex alunos que ele ajudou a formar. Estamos todos de luto", conta Cristovam. 

Na FAC-UnB, Motta foi docente, pesquisador, coordenador do Programa de Pós-Graduação e vice-diretor da faculdade, dentre outras funções e papéis relevantes. Ainda na UnB, idealizou e criou a revista Darcy, uma publicação que sedimentou o jornalismo científico da capital. Também na UnB atuou no Nemp (Núcleo de Estudos em Mídia e Política), espaço no qual formou gerações de pesquisadoras e pesquisadores, hoje presentes em diversas entidades, como a Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica).

O jornalista Paulo Fona lamentou a morte do professor. "Perdemos um dos melhores jornalistas da cidade". Segundo o ex-secretário de Comunicação do DF no governo de Rodrigo Rollemberg (PSB), Baga fez uma contribuição indispensável para o Departamento de Comunicação da UnB. "Os depoimentos de ex-alunos, nas redes sociais, revelam a sua excelência como educador. Uma perda!", destaca Fona.

Acervo pessoal - Motta idealizou e foi o editor da revista Darcy, da Universidade de Brasília (UnB)

Márcia Abrahão, reitora da universidade, afirma que o profissionalismo de Luiz Gonzaga sempre a inspirou.  "Conheci o professor Luiz Gonzaga Motta, em 2008, quando eu era decana de ensino de graduação, e ele, o secretário de Comunicação da UnB. Ele era também importante conselheiro do reitor Roberto Aguiar e, depois, do professor José Geraldo. Tornou-se meu amigo e conselheiro também. Sempre me inspirou e guiou os meus passos desde então. Sem dúvida, um dos grandes legados que o Baga deixa para a Universidade é a revista Darcy, de jornalismo científico e cultural, que ele ajudou a criar em 2009 e da qual foi editor e um entusiasta permanente. Desde que assumi a reitoria, fiz questão de manter a publicação da Darcy pela importância que essa iniciativa tem, tanto para a comunidade acadêmica quanto para a sociedade em geral. Motta deixa um exemplo de dedicação ao exercício do jornalismo e ao ensino da narrativa jornalística. E para nós, amigos do Baga, deixa um vazio imenso", lembra.

Na Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), Motta foi fundador, vice-presidente e coautor do Projeto Editorial da revista Brazilian Journalism Research (BJR), hoje referência dentre os periódicos da área.


Da mesma forma, Ijalmar Nogueira conheceu Motta primeiro como professor, ao estudar na Universidade de Brasília, e depois como colega de trabalho, quando lecionou na mesma instituição. Ijalmar reconhece o colega não apenas como tutor, mas também como uma referência de postura política na época de ditadura. "Era um professor muito ativo. Em um período que a resistência ao regime militar era algo quase existencial para a universidade", reflete.

Tendo trabalhado na publicação universitária que foi fundada por Luiz, o jornal Campus da UnB, Ijalmar explica que o comando de Baga sobre o projeto contribuiu para uma renovação do jornalismo feito na universidade. O ex-aluno ainda destaca o espírito crítico que observou no seu professor. "Seu interesse sempre foi o jornalismo e a sociedade", avalia.

A escritora Ana Maria Lopes foi aluna de Motta nos anos 1970 na UnB, ficou amiga pessoal e esteve com o mestre no lançamento do último livro dele — Histórias de um bom comunista, em novembro de 2022. "Meu bom amigo, meu professor, minha pessoa humana do maior quilate se foi. Perplexa com a notícia de sua morte, encontro-me sem reação. Em Pirenópolis, celebramos o lançamento de seu livro Histórias de um bom Comunista e o Francisco, de Claudine Duarte. Nos reunimos no Montserrat, restaurante do querido Juan Pratginestos. Foi noite de celebrações. É assim que quero lembrar desse amigo querido", lembra Ana Maria.

Relação fraterna

O professor Murilo Ramos, da Faculdade de Comunicação da UnB (FAC-UnB), destacou a relação fraterna com Motta. "Quem primeiro me convidou para vir trabalhar em Brasília, professor Luiz Gonzaga Motta, morreu esta manhã. Era da geração que reconstruiu o curso de comunicação, depois de ele quase acabar nos anos 1960", ressalta.

"Baga, além de professor, também foi um colaborador atencioso do Jornal Movimento, onde trabalhei nos longínquos anos 1970. Saudades", declarou a jornalista e ex-aluna Maria da Paz Cintra. "Fiz saraus na casa dele ao piano! Querida pessoa! Deus o tenha e que as musas o guiem seu caminho cósmico! Ele adorava a música e as artes! Um grande homem! Viva Baga!", completa o também jornalista e ex-aluno Rênio Quintas.

"Convivi com o Baga, na vida pessoal pela proximidade das minhas filhas e o seu filho Max. Há pouco tempo me pediu um depoimento para o seu livro sobre José Oscar (Histórias de um bom comunista, sobre José Oscar Pelucio)! Lamento", pontua a médica e ex-deputada Maria José Maninha.

O jornalista Tito Matos também foi aluno de Motta no curso de jornalismo da UnB, na década de 1970. "Era um excelente professor. Ele gostava que os alunos participassem da aulas e fomentassem o debate", afirma Tito, lamentando a morte de Motta.  O também jornalista Antônio Carlos Queiroz relembra que trabalhou com Motta para tirar do papel a campanha publicitária de trânsito seguro e de respeito à faixa de pedestre. "Foi uma campanha que deu certo e muito bem avaliada pelo governo", ressalta Queiroz.

Presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Hélio Doyle se manifestou sobre a morte de Luiz Gonzaga Motta. "Fui aluno do Baga quando ele veio para a UnB, em 1970 ou 1971. Ficamos amigos. Hospedei-me na casa dele em Madison (EUA). Depois fomos colegas na FAC e trabalhei com ele na Ema Vídeo. Tivemos um leve estremecimento quando ele assumiu a Secom do Cristovam, quando Moa e eu fomos demitidos pelo governador, mas depois superamos isso. Dei entrevista a ele para o livro sobre o Zé Oscar e fui no lançamento. Lamento muito, estava ativo e produtivo", relatou Doyle.

UnB lamenta

A direção da Faculdade de Comunicação da UnB (FAC-UnB) divulgou uma nota de solidariedade à família, amigos e estudantes do professor Luiz Gonzaga. "A partir das palavras do professor Fernando Paulino, atual presidente da Alaic (Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação) e ex-diretor da FAC, relembramos o papel primordial do professor Motta na idealização e criação da Alaic nos anos 1980", destaca a nota.

"Motta também foi referência nacional e internacional nos estudos sobre narrativas jornalísticas, tendo formulado e implementado metodologias inovadoras a respeito. O professor Motta também se destacou na defesa do diploma de jornalismo para o exercício profissional e, por fim, está na memória de muitos como um intelectual que sempre e permanentemente viu, e defendeu, o lugar do jornalismo como construção da realidade, imbuindo nessa premissa todo o papel social do jornalismo na construção ética da história do presente", ressalta o documento.

O velório e a cremação do corpo de Luiz Gonzaga Motta ocorre neste domingo (11/6), em Valparaíso, no Entorno do DF, ainda sem horário definido.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

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