A tradicional missa de Corpus Christi foi celebrada para os cerca de 70 mil fiéis que compareceram à Esplanada dos Ministérios, segundo os números fornecidos pela Cúria Metropolitana. Presidida pelo arcebispo de Brasília, cardeal Paulo Cezar Costa, a cerimônia contou ainda com 250 padres, 140 seminaristas e 100 diáconos. A violência contra a mulher foi um dos temas abordados pelo cardeal durante a homilia. "Eu convido a olharmos a realidade da violência, que não deveria fazer parte da nossa realidade, mas está na vida de tantas famílias, a questão dos feminicídios, que estão crescendo", sublinhou o sacerdote, que convocou os fiéis a lutar contra o crime e a fome, assim como fez a "defesa da vida, desde a concepção até a morte natural".
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Entre os milhares de fiéis, estava Maria de Lurdes Sousa, 65, comovida com o momento. "A importância dessa celebração é que temos o corpo e o sangue de Cristo aqui reunidos. A gente sente a presença de Deus aqui", emociona-se. Ela foi à Esplanada com o marido. Juntos, assistem à missa de Corpus Christi há mais de 40 anos. "A celebração, para mim, é um dos pontos altos da igreja. É uma das maiores missas que o mundo pode celebrar. Cristo é muito importante para todos nós brasileiros. Sempre venho pedir proteção para mim e para a minha família", diz o companheiro da dona de casa, o aposentado Nivaldo Soares da Costa, 73.
O assistente social Diego Barros, 36, frequenta a celebração religiosa há cinco anos. "É um momento importante para todos os católicos. É o ápice da fé", avalia Barros, que também é cerimonialista da Paróquia Santa Clara e São Francisco de Assis, no Jardim Botânico.
Ao fim da missa, já de noite, deu-se início à procissão que percorreu parte do Eixo Monumental, no quadrilátero em frente à Catedral Metropolitana. Cada um dos milhares dos fiéis levava uma vela na mão, entoando cânticos e dando vivas à Jesus Cristo, um espetáculo na noite da capital. À frente da multidão, a imagem do Santíssimo Sacramento — o pão e o vinho consagrados e transformados, na fé católica, no corpo e no sangue de Jesus — era transportado no papamóvel, mesmo veículo que foi usado pelo então Papa João Paulo II nas duas visitas que fez a Brasília, em 1980 e 1991.
Durante a procissão, foram concedidas três bênçãos: aos doentes, aos governantes e às famílias. Compareceram à celebração figuras importantes da política brasiliense, como a deputada federal Bia Kicis (PL) e o senador Izalci Lucas (PSDB). A esposa do governador Ibaneis Rocha (MDB), Mayara Noronha também marcou presença, junto ao filho do casal.
Preparação
Pela manhã, cerca de 700 pessoas, entre jovens e adultos, reuniram-se no gramado central da Esplanada dos Ministérios para a montagem dos tradicionais tapetes. Entre 100 desenhos, 25 foram selecionados pela Arquidiocese de Brasília para compor a arte deste ano. Os movimentos jovens das paróquias da capital foram até o local para confeccionar as imagens com serragem, sal colorido, areia, flores e até borra de café. Cada um com aproximadamente 5 metros de comprimento e 4 metros de largura.
Pároco da Catedral de Brasília, padre Agenor Vieira de Brito não disfarçava a felicidade pelo objetivo atingido da 45ª edição do evento de unir os jovens, evangelizar e colocar em prática a criatividade ao montar as obras no chão. "Nesta data, os fiéis são chamados a olhar um pouco para dentro de si e a reconciliar-se com Deus, com o outro e consigo", pontua o padre. As imagens dos tapetes são alusivas à festa do Corpo de Cristo e à fé católica como cálices, cruzes, Espírito Santo e hóstias.
O Frei Leonardo Tertuliano da Basílica Menor São Francisco de Assis, na Asa Norte, desenhou uma parte do tapete. O religioso participa da Arquidiocese de Brasília há dois anos e conta da paixão pela arte, que exerce desde os 12 anos. "Na minha inspiração, colocamos a mão de Deus Pai, porque o antigo testamento traz que Ele não pode ser representado como uma figura humana e uma forma de representá-lo é apenas com a mão sendo apontada para o filho, que é a hóstia no centro, e o filho envia o Espírito Santo, representado pela pomba", detalha.
Junto a ele, outros jovens que participam do movimento da basílica acordaram cedo e chegaram ao local antes das 7h para iniciar o trabalho de compor o desenho. "É uma tradição, não só aqui no Distrito Federal, para que a gente possa, em comunidade, se reunir e celebrar esse momento junto. Geralmente, as temáticas dos desenhos são símbolos que remetem a nossa experiência com a fé cristã", destaca.
Coordenadora da pastoral no Colégio CorJesu, na 615 Sul, a Irmã Kassia Renata também foi cedo para a Esplanada junto a alunos, ex-alunos e colaboradores para montar uma das peças. Este é o sexto ano que participa da celebração confeccionando um dos tapetes. "É um momento importante sobretudo porque nos convida à unidade. O nosso desenho traz justamente o que celebramos hoje. Temos o cálice, a hóstia que é a eucaristia, o coração de Jesus, porque partimos da espiritualidade e do ato do amor e da entrega d´Ele, e a coroa de espinho, que é esse sinal de que a doação de Cristo na cruz é a ação máxima do seu amor que vem nos fazer vivenciar esse momento", explica a freira.
Integrante do movimento da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, a estudante Bianca Silva, 15 anos, faz a montagem dos tapetes pela primeira vez e não esconde a empolgação em fazer parte do momento tão simbólico na celebração. "É muito bom ver tantos cristãos reunidos. Eu vim por conta da celebração, que é o maior sacrifício feito por Ele para a nossa salvação. O corpo e o sangue de Cristo são a nossa eucaristia e o nosso alimento espiritual. É o que me motiva a estar aqui e poder participar de alguma forma dessa festividade", destaca a jovem.
Atuante no movimento de Emaús desde os 18 anos, Vera Lúcia Machado, 60 anos, conta que já participou em outros anos da montagem dos tapetes e das celebrações na Esplanada dos Ministérios. "Realmente, é um trabalho que fazemos e reflete o que a gente acredita que é a presença real de Jesus Cristo na sagrada eucaristia. Então, todo o esforço que a gente fizer ainda vai ser pouco por toda a grandiosidade do amor que Ele teve por nós, quando deixou a eucaristia para alimentar a nossa fé e a graça de Deus em nós", pontua a moradora da Asa Norte.