PESQUISA

Pesquisadores catalogam 89 novas espécies na Chapada dos Veadeiros

Uma expedição para a Serra do Tombador, em Cavalcante, catalogou 55 novas espécies de répteis e 34 de anfíbios

Pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio) fizeram o registro de 55 novas espécies de répteis e 34 de anfíbios, na Serra do Tombador, Chapada dos Veadeiros (GO). Com as novas descobertas, foram acrescentadas 89 espécies inéditas, entre uma variedade de sapos, lagartos, serpentes e rãs.

O coordenador da pesquisa e professor do Departamento de Engenharia Florestal (EFL) da UnB, Reuber Brandão, ressaltou a importância da catalogação. "Embora possa parecer que o encontro de espécies novas seja um evento extremamente raro, o fato é que não é algo tão incomum. Isso ocorre porque nosso conhecimento sobre a magnitude da biodiversidade nacional é ainda bastante limitado, tanto pela ausência de recursos financeiros para a pesquisa, como pelo número ainda pequeno de pesquisadores e especialistas nas diferentes áreas.”

O processo de catalogação também não é rápido. “A primeira parte de todo estudo de diversidade é o levantamento das espécies que ocorrem em uma área e um levantamento bem feito é essencial para que a biodiversidade de uma região seja minimamente conhecida. Os especialistas em cada grupo precisam de um longo treinamento em taxonomia e ecologia do grupo que estudam, bem como entender os métodos usuais de amostragem de cada grupo, que envolvem, normalmente no caso de estudos com répteis e anfíbios, armadilhas de queda, buscas ativas em locais de abrigo e/ou reprodução e busca baseada no canto das espécies", diz Brandão.

"É a partir dos levantamentos locais que será possível avaliar se uma região tem elevada biodiversidade ou não, se as espécies que ali se encontram são endêmicas, raras ou ameaçadas, como as espécies utilizam os ambientes e, eventualmente, o registro de espécies não descritas", completa. 

O local da expedição, a Serra do Tombador, é localizada ao norte da Chapada dos Veadeiros, no município de Cavalcante. É a maior reserva particular do cerrado, da categoria Reserva Privada do Patrimônio Natural (RPPN), gerenciada e protegida pela Fundação Grupo O Boticário de Proteção à Natureza. Reuber enfatiza a importância da pesquisa no cerrado. “Temos realizado estudos na região focados no conhecimento da biodiversidade, onde já foram realizados estudos sobre aves, mamíferos terrestres, morcegos e peixes. Refinamos as informações sobre a herpetofauna local recentemente e estamos atualmente estudando o papel dos cupinzeiros como abrigo microclimático para o fogo e eventual papel para minimizar impactos de mudanças climáticas e também estamos estudando o papel do fogo em uma espécie ameaçada”

 

 

Reprodução Fundação Boticario/UnB - Pesquisadores catalogam 89 espécies na Chapada dos Veadeiros
Reprodução Fundação Boticario/UnB - Pesquisadores catalogam 89 espécies na Chapada dos Veadeiros

 

De acordo com Reuber, um dos maiores desafios para a catalogação das espécies é contar com a capacidade das pessoas observarem a natureza ao seu redor. “Os animais estão lá, mas muita gente simplesmente não consegue ver porque não está atenta. Embora a observação de aves tenha crescido nos últimos anos, a observação de animais como anfíbios e répteis ainda não é popular. Ainda há muito preconceito, ignorância e desinteresse por esses animais que são extremamente interessantes e que contam muito sobre a evolução do Cerrado e sua biodiversidade”, explica.

O grupo de pesquisa contava também com 40 pesquisadores e também inclui professores e estudantes da Universidade Federal do Acre (UFAC) e membros do Instituto Boitatá de Etnobiologia e Conservação da Fauna. Reuber explica que as descobertas mais perigosas são aquelas que colocam os animais em ameaça: “Existe um mercado ganancioso por animais silvestres e, muitas vezes, traficantes utilizam estudos feitos por pesquisadores para localizar os animais de interesse. Por isso, muitas vezes é necessário publicar registros gerais, sem muita precisão.”

O coordenador sinaliza sobre a importância da preservação e que animais silvestres não devem ser manipulados. No entanto, Reuber pontua que o contato com pessoas é mais perigoso para os animais que para as pessoas.

O professor da universidade relembra que os estudantes participam das expedições. "É a parte essencial da formação profissional deles e é sempre uma alegria poder ver os estudantes ainda bem jovens tendo contato com a natureza, os métodos, os animais e com o pensamento científico. Sem gerações bem formadas e com preparo, não há o que esperamos do futuro!”