Para combater a alta taxa de herpes zoster, doença que pode levar à surdez e à cegueira em seu estágio mais grave, é preciso prezar por um estilo de vida saudável e controlar o estresse. É o que orienta a infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e da Clínica Master Vitta Fabíola Setúbal. Em entrevista à jornalista Carmen Souza, no programa CB.Saúde, realizado em parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília, a médica também explicou a relação da doença com a infância do paciente e com os idosos.
O que é o herpes zoster? Imagino que não seja, por exemplo, aquela tradicional herpes labial.
Com certeza não é a mesma coisa, mas pertence à mesma família. O herpes zoster é um vírus que também é da família do herpes labial e da família do herpes genital. Todos da mesma família, com evoluções clínicas semelhantes. Porém, a preocupação maior com relação ao herpes zoster é a gravidade do quadro e as possíveis complicações que ele pode apresentar. Realmente, houve um aumento na incidência do diagnóstico dessa doença, o que desperta uma curiosidade maior entre a população que, com certeza, quer saber mais para poder se prevenir.
Um levantamento da Universidade Estadual de Montes Claros (MG), produzido com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), indicou um aumento de 35% dos casos da doença durante a pandemia. Existe alguma relação com o coronavírus?
Isso foi observado por todos os nossos colegas. Um momento bem importante no surgimento do herpes zoster. O coronavírus pode ter sido, sim, um fator importante nesse aumento, porque trouxe um adoecimento tanto físico quanto mental para a população. A gente sabe que o herpes zoster aparece quando o paciente está mais estressado, com uma diminuição da imunidade. Então, sim, essa é uma relação que existe.
O herpes zoster tem um mecanismo que vem de uma primeira infecção, geralmente na infância, um vírus adormecido que pode surgir por conta, inclusive, desses fatores, como estresse e envelhecimento. Qual é a relação da doença com os idosos e a infância?
O zoster não aparece sozinho. Ele precisa de uma infecção inicial que, geralmente, se dá na fase infantil, que é a catapora, também chamada de varicela. Quando nós temos varicela na infância, nós melhoramos das lesões cutâneas. Aí, o vírus da varicela fica adormecido nos nervos sensitivos. É o que a gente chama de estado de latência. Em algum momento na vida adulta, esse estado latente deixa de existir e pode causar a doença varicela zoster, também chamada de herpes zoster. Então, os principais motivos para essa reativação, essa perda da latência, é a queda da imunidade. Pode ser um adulto jovem que teve um diagnóstico recente de câncer, leucemia, que está em um tratamento que causa imunidade diminuída, ou mesmo o idoso, que é um acontecimento natural, com a idade a gente perde a capacidade imunológica. A partir dos 50 anos há maior risco dessa reativação.
Há casos de cegueira e perda de audição. Como essa infecção chega a complicações tão graves e com que frequência isso acontece?
O nome dessa tendência é neurotropismo. É um vírus que tem um tropismo, tem uma predileção pelos nervos sensitivos, e eles podem, sim, acometer qualquer nervo, inclusive o nervo oftalmológico e o nervo auditivo. Quando eles acometem, esses nervos fazem neurites e podem causar complicações bem graves, como perda da visão, encefalite e perda da audição.
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Recentemente, teve uma nova vacina disponível, infelizmente, só na rede privada, para evitar o herpes zoster. Como ela se difere da vacina anterior?
Nós tínhamos uma vacina anterior, que foi muito utilizada, inclusive, por pessoas que já tiveram episódios prévios. E, aí, elas se vacinavam para diminuir a possibilidade de terem novos episódios ou, em casos menos prováveis, não terem as complicações relacionadas à neuralgia. Existe uma restrição com relação à vacina anterior. Seriam as pessoas com imunidade prejudicada, quem a gente chama de pacientes imunocomprometidos. Essas pessoas estavam fora da lista desse tipo de vacina, porque ela era feita de vírus vivo — atenuado, porém, vivo. Essas pessoas com distúrbios imunológicos importantes, em quimioterapia ou com leucemia, não poderiam receber essa vacina, e são pessoas com maior risco de desenvolver varicela zoster. Então, a vacina que nós temos disponível hoje contempla esse grupo também. Ela é utilizada com vírus inativados, portanto, não tem risco para a população mais fragilizada. Pessoas que antes não poderiam se beneficiar pela vacina, agora podem.
Infelizmente, essas vacinas são muito caras. Pensando na realidade brasileira, como fazer?
Tentar seguir um estilo de vida o mais saudável possível. Tentar controlar a ansiedade. Tentar evitar todos os fatores de risco que levam ao surgimento da doença.
*Estagiário sob supervisão de Malcia Afonso
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