O empresário George Washington de Oliveira Sousa, de 55 anos, condenado por tentar explodir um caminhão-tanque no Aeroporto de Brasília, utilizou a mesma estratégia adotada na CPMI do 8 de janeiro, no Congresso Nacional, e optou por permanecer em silêncio na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa (CLDF).
George se manteve irredutível durante quase todas as perguntas dos distritais. No entanto, respondeu que não participou de reuniões no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, e disse que não forneceu nenhum armamento aos manifestantes, tampouco para Alan Diego dos Santos.
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O empresário contou que veio à Brasília para procurar um armeiro e resolver problema que tinha no armamento, como um fuzil. Inicialmente, George contou aos distritais que se deslocou para o QG porque as ideias ideológicas dos manifestantes eram compatíveis com a dele. No entanto, em um outro momento da oitiva, afirmou que veio à capital para depois ir passar o ano novo em Goiânia.
“Eu levei o fuzil, mas não me recordo a loja (...) a minha visão hoje é a seguinte: quando um político sobe e é eleito, no meu ponto de vista, é permissão de Deus. Se houve aquela situação toda no QG, (nós) agimos ou reagimos de forma errada”, ressaltou.
Logo em seguida, questionado se acredita que a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi uma permissão de Deus, George disse: “Sim”. Perguntado, então, se as pessoas que estavam no QG entendiam isso de uma maneira equivocada, o empresário disse que irá permanecer calado.
Os distritais utilizaram como estratégia, então, para embasar no relatório, o depoimento do próprio George à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), para que fosse anexado no depoimento dele à CLDF.
CPI ouve Alan Diego
Antes de George, o eletricista Alan Diego dos Santos foi ouvido pelos distritais. Durante o seu depoimento, Alan contou aos parlamentares que corre risco de morte se abrir a boca. O eletricista não quis apontar quem são essas pessoas que podem matá-lo, apenas afirmou que são da extrema-direita. A CPI vai propor um depoimento secreto, com a expectativa de conseguir que ele conte o que não foi respondido durante a oitiva. Conforme ressaltado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), os dois depoentes de hoje terão garantido o direito ao silêncio.
Os acusados tentaram explodir uma bomba no Aeroporto de Brasília e foram condenados pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) ao cumprimento de pena em regime fechado. George Washington de Oliveira e Alan Diego dos Santos Rodrigues estão presos no Complexo Penitenciário da Papuda desde janeiro, após as investigações conduzidas pela Polícia Civil (PCDF).
Envolvimento
Com base na sentença assinada pelo juiz Osvaldo Tovani, não há dúvidas quanto ao envolvimento de George e Alan no crime. Em depoimento, George confessou que recebeu o artefato explosivo em 23 de dezembro do ano passado e fez a montagem no mesmo dia. Depois, entregou a bomba a Alan. Ainda com base na sentença, George e Alan se conheceram em frente ao QG do Exército, local onde Alan recebeu o artefato em uma caixa de papelão. “O vínculo entre ambos é inegável, afinal, no interior da caminhonete de George foi encontrada impressão digital de Alan”, frisou o magistrado.
Alan também confessou o crime à polícia e confirmou ter recebido o artefato. Ele foi o responsável por colocar o explosivo no para-lama do caminhão-tanque, próximo ao Aeroporto de Brasília. As imagens colhidas pelos investigadores da PCDF mostraram a ação do extremista.
Depois de deixar a bomba no local, Alan acionou o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar, informando, numa das ligações, que tinha visto um artefato numa carreta de combustível em frente ao aeroporto. No segundo telefonema, disse ter visto uma moça correndo apavorada depois de ver uma bomba no automóvel.
Draco/Decor
George foi preso pelos investigadores da 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul) em 25 de dezembro. O caso passou a ser investigado pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado, vinculada ao Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Draco/Decor), que chegou ao encalço de Alan.
George foi condenado a 9 anos e 4 meses de reclusão em regime inicial fechado, além de 280 dias-multa. Alan recebeu uma pena de 5 anos e 4 meses e 160 dias-multa. "Os acusados se defenderam presos. Não há fato novo que justifique a revogação do decreto prisional. As circunstâncias dos fatos indicam periculosidade concreta, presente, ainda, a necessidade de preservar a ordem pública, mantenho a prisão preventiva de ambos os acusados", enfatizou o juiz.
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