Violência doméstica

Choro e orações marcam velório da 17ª vítima de feminicídio no DF

Emily Talita da Silva, de 20 anos, foi morta, no último sábado (24/6), pelo ex-companheiro com uma facada nas costas, no Sol Nascente. Velório e enterro ocorrem na manhã festa terça (27/6), no Cemitério de Taguatinga

Pedro Marra
postado em 27/06/2023 10:22 / atualizado em 27/06/2023 11:32
 (crédito: Ed Alves/ CB/ DAPress)
(crédito: Ed Alves/ CB/ DAPress)

Com choros, orações e roupas personalizadas em luto, o velório de Emily Talita da Silva, 20 anos, reuniu cerca de 60 amigos e familiares na capela 3 do Cemitério de Taguatinga, na manhã desta terça-feira (27/6). Morta a facadas pelo companheiro no Sol Nascente, ela foi a 17ª vítima de feminicídio no primeiro semestre de 2023 e igualou a quantidade de 2022 inteiro. O sepultamento está previsto para ocorrer às 11h30.

Amiga de Emily há sete anos, Ana Carolina Barros, 19, presenciou a cena do crime e indigna-se ao lembrar do acusado. "Quero justiça. Espero que ele possa pagar tudo que fez com ela", diz. Emocionada, ela contou as lembranças que tem da jovem durante a convivência. "Era uma pessoa companheira, muito gente boa, alegre e brincalhona", lembra.

Durante o velório, um trio de mulheres do Instituto Mulheres Feminicídio Não, criado em 2019, fez uma manifestação pacífica com cartazes escritos "feminicídio não!" e entoando gritos de parem de nos matar. "Fazemos a conscientização tanto para as mulheres quanto para os agressores. Levantamos essa bandeira para que haja mais mulheres engajadas a não perderem suas vidas e fortalecer uma à outra", explica a presidente do instituto, Lúcia Erineta, 55.

Membro do grupo, Tânia Lacerda, 56, foi vítima de agressões do ex-marido e conseguiu medida protetiva após denunciá-lo na Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (Deam 1), na época que se separou, em 2021. "Percebo que o medo é o que me prendia a ele. Mas nem isso evitou que ele pudesse me agredir ou me ameaçar com faca. Resolvi dar um basta e fui até a Deam 1. O medo te aprisiona ou te dá coragem para sair do relacionamento", analisa.

Manifestantes do Instituto Mulheres Feminicídio Não Francisca Rodrigues, 57, Lúcia Erineta, 55, e Tânia Lacerda, 56
Manifestantes do Instituto Mulheres Feminicídio Não Francisca Rodrigues, 57, Lúcia Erineta, 55, e Tânia Lacerda, 56 (foto: ED Alves/CB/DA PRess)

Emily foi morta, na manhã do último sábado (24/6), pelo ex-companheiro com uma facada nas costas na Chácara 64, no Sol Nascente. De acordo a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), o crime ocorreu por volta das 6h. A vítima, Emily Talita da Silva, tinha medida protetiva contra o suspeito, Jonas Costa, 29. A jovem deixa uma filha de 1 ano e meio.

Segundo a PMDF, os dois estavam bebendo em uma distribuidora, que fica em frente a uma madeireira. No entanto, ambos se desentenderam, até que o ex-companheiro a golpeou com uma facada nas costas. Emily não resistiu ao ferimento e o óbito foi declarado no local.

Em relato à polícia, uma amiga de Emily afirmou que ela estava comemorando seu aniversário com outra amiga na distribuidora. O ex-namorado, no mesmo lugar, queria levá-la embora com ele. Ao ter negado os insistentes pedidos, deu a facada em Emily e fugiu da cena do crime. A PMDF informa que o suspeito também tem passagens por roubo.

A família conseguiu realizar o velório e sepultamento de Emily graças a doações.

18ª vítima de feminicídio no DF

Emily não foi a última vítima de feminicídio no DF. Às 5h35 deste domingo (25/6), o DF registrou a 18ª morte de mulher por violência de gênero e ultrapassou o total de 2022. Identificada como Valdice Santana, uma vendedora autônoma de 47 anos foi morta pelo companheiro, Bruno Gomes de Oliveira, 27, por asfixia.

Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), ela tinha dois anos de relacionamento com o agressor, de 27 anos, com quem morava no bairro São Bartolomeu. O suspeito contou aos policiais que estava bebendo com a namorada desde as 18h de domingo, e que, às 22h, tinha ido dormir com ela. Nesta segunda-feira (26/6), por volta das 5h, de acordo com o relato de Bruno aos policiais, ele acordou e se surpreendeu ao perceber que a companheira estava gelada.

Bruno conta que, então, se dirigiu para o quartel do Corpo de Bombeiros (CBMDF), localizado próximo à residência, para pedir ajuda. Os socorristas foram ao local e constataram que Valdice estava morta, mas não identificaram sinais de violência no corpo da vendedora.

Ao registrar a ocorrência, a delegacia acionou a perícia, que achou indícios de asfixia por estrangulamento, suspeita confirmada pelo médico legista. O corpo da vítima foi removido ao Instituto de Medicina Legal (IML) e o laudo técnico acusou sinais claros de morte violenta por esganadura, além de sangue nas cavidades naturais e laceração do fígado.

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  • Choro e orações marcam partida de Emily, de 20 anos, a 17ª vítima de feminicídio no DF
    Choro e orações marcam partida de Emily, de 20 anos, a 17ª vítima de feminicídio no DF Foto: ED Alves/CB/DA PRess
  • Manifestantes do Instituto Mulheres Feminicídio Não Francisca Rodrigues, 57, Lúcia Erineta, 55, e Tânia Lacerda, 56
    Manifestantes do Instituto Mulheres Feminicídio Não Francisca Rodrigues, 57, Lúcia Erineta, 55, e Tânia Lacerda, 56 Foto: ED Alves/CB/DA PRess
  • Velório Emily Talita,
    Velório Emily Talita, Foto: ED Alves/CB/DA Press
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