“Mudaram as estações / Nada mudou / Mas eu sei que alguma coisa aconteceu / Tá tudo assim / Tão diferente / Se lembra quando a gente / Chegou um dia a acreditar / Que tudo era pra sempre / Sem saber / Que o pra sempre, sempre acaba.”
Subverti e inverti a ordem natural das minhas crônicas para começar o texto acompanhada da poesia nossa de cada dia. Achei os versos de Renato Russo, que nos acostumamos a ouvir na potente voz de Cássia Eller, apropriados para o momento.
Chuva? Em junho? A quem São Pedro pretende driblar com esta artimanha raramente vista na história de Brasília? Quais mudanças climáticas devem estar em curso para permitir uma situação como esta? E não foi qualquer chuvisco, não. Céu nublado, nuvens acinzentadas e temporais atingiram partes da cidade modelo. Para não deixar os trocadilhos de lado, o que cargas d’água pode ter acontecido?
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Meteorologistas explicam que o inexplicável, na verdade, encontra motivo de ser devido à frente fria que, no Rio Grande do Sul, deixou triste rastro de estragos e de mortes.
Por aqui, o tempo de se surpreender deve chegar logo ao fim. Nesta semana, as coisas provavelmente voltarão aos padrões normais esperados para o meio do ano em Brasília.
Poderemos talvez planejar festas ao ar livre tendo como única preocupação o vento gelado que toma conta dos fins de tarde e o sereno da madrugada. A sintonia de “cofs, cofs”, nós sabemos, está bem ensaiada, em nossas gargantas e nas dos nossos filhos e netos. Essa não pula uma geração sequer. Está ali, companheira das noites frias e secas desse cerrado tão belo quanto implacável.
Sim. Estamos em junho. Mais do que a chuva fora de época, esta constatação do tempo passando acelerado causa espanto e certa angústia. Logo chegará o momento de começarmos a falar daquela lista de desejos e de prioridades para o novo ciclo, que traçamos nos idos de 2022, em meio a um ano também conturbado, de Copa do Mundo e de eleições.
A tempestade pode não ser boa conselheira. Aguardar o tempo firme, de céu aberto, quem sabe ajude a espairecer e a encontrar dentro de nós mesmos a inspiração para correr atrás das metas inalcançáveis ou ao menos dos sorrisos perdidos. Caminhe, inspire, respire e não se esqueça de admirar a beleza dos ipês pelo caminho. Para os apaixonados, já que junho é o mês deles também — do amor romântico ou fraternal — encerro com os últimos versos de Por enquanto.
“Mas nada vai / Conseguir mudar / O que ficou / Quando penso em alguém só penso em você / E aí então estamos bem / Mesmo com tantos motivos / Pra deixar tudo como está / Nem desistir / Nem tentar / Agora tanto faz / Estamos indo / De volta pra casa.”
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