TEMPO

Crônica da cidade: Mudaram as estações

"Chuva? Em junho? A quem São Pedro pretende driblar com esta artimanha raramente vista na história de Brasília? Quais mudanças climáticas devem estar em curso para permitir uma situação como esta?"

Mariana Niederauer
postado em 24/06/2023 18:54
 (crédito: Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

“Mudaram as estações / Nada mudou / Mas eu sei que alguma coisa aconteceu / Tá tudo assim / Tão diferente / Se lembra quando a gente / Chegou um dia a acreditar / Que tudo era pra sempre / Sem saber / Que o pra sempre, sempre acaba.”

Subverti e inverti a ordem natural das minhas crônicas para começar o texto acompanhada da poesia nossa de cada dia. Achei os versos de Renato Russo, que nos acostumamos a ouvir na potente voz de Cássia Eller, apropriados para o momento.

Chuva? Em junho? A quem São Pedro pretende driblar com esta artimanha raramente vista na história de Brasília? Quais mudanças climáticas devem estar em curso para permitir uma situação como esta? E não foi qualquer chuvisco, não. Céu nublado, nuvens acinzentadas e temporais atingiram partes da cidade modelo. Para não deixar os trocadilhos de lado, o que cargas d’água pode ter acontecido?

Meteorologistas explicam que o inexplicável, na verdade, encontra motivo de ser devido à frente fria que, no Rio Grande do Sul, deixou triste rastro de estragos e de mortes.

Por aqui, o tempo de se surpreender deve chegar logo ao fim. Nesta semana, as coisas provavelmente voltarão aos padrões normais esperados para o meio do ano em Brasília.

Poderemos talvez planejar festas ao ar livre tendo como única preocupação o vento gelado que toma conta dos fins de tarde e o sereno da madrugada. A sintonia de “cofs, cofs”, nós sabemos, está bem ensaiada, em nossas gargantas e nas dos nossos filhos e netos. Essa não pula uma geração sequer. Está ali, companheira das noites frias e secas desse cerrado tão belo quanto implacável.

Sim. Estamos em junho. Mais do que a chuva fora de época, esta constatação do tempo passando acelerado causa espanto e certa angústia. Logo chegará o momento de começarmos a falar daquela lista de desejos e de prioridades para o novo ciclo, que traçamos nos idos de 2022, em meio a um ano também conturbado, de Copa do Mundo e de eleições.

A tempestade pode não ser boa conselheira. Aguardar o tempo firme, de céu aberto, quem sabe ajude a espairecer e a encontrar dentro de nós mesmos a inspiração para correr atrás das metas inalcançáveis ou ao menos dos sorrisos perdidos. Caminhe, inspire, respire e não se esqueça de admirar a beleza dos ipês pelo caminho. Para os apaixonados, já que junho é o mês deles também — do amor romântico ou fraternal — encerro com os últimos versos de Por enquanto.

“Mas nada vai / Conseguir mudar / O que ficou / Quando penso em alguém só penso em você / E aí então estamos bem / Mesmo com tantos motivos / Pra deixar tudo como está / Nem desistir / Nem tentar / Agora tanto faz / Estamos indo / De volta pra casa.”

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