Câmara Legislativa

"Não fui conivente com invasão ao Palácio do Planalto", disse G. Dias

Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos, G. Dias se defendeu das acusações de que teria dado água para manifestantes na invasão ao Palácio do Planalto. O ex-chefe do GSI contou que queria reagir, mas que estava à paisana e desarmado

Pablo Giovanni
postado em 23/06/2023 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

O general do Exército e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias — conhecido como G. Dias — afirmou, ontem, que não foi conivente com a invasão ao Palácio do Planalto, no 8 de janeiro. Ele foi flagrado por câmeras de segurança dentro do palácio, transitando entre os manifestantes bolsonaristas durante os atos. O militar prestou depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa (CLDF).

 Acompanhado de advogado, G. Dias chegou à CLDF um pouco antes de 8h15, quando nenhum parlamentar estava presente na Casa. Aos distritais, o general disse que não recebeu nenhuma informação por WhatsApp sobre os atos no dia anterior, 7 de janeiro. Contou, ainda, que estava em casa no fatídico 8 de janeiro, e que era municiado de informações da subsecretária de Operações da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), com informes de que estava tudo "calmo".

"Por volta das 14h (de 8 de janeiro), inquieto e preocupado, pois assistia pela tevê de manifestações e elas não batiam com o clima de controle que me havia sido descrito (pela coronel Cíntia Queiroz), decidi ligar para o celular do general Penteado", disse. "Era o meu secretário-executivo no GSI, general Carlos José Assumpção Penteado, que havia ocupado o mesmo cargo na gestão do meu antecessor, o general Augusto Heleno. O general Penteado me disse que estava 'tudo normal', que estava 'tudo tranquilo', e que eu não precisava ir ao Palácio do Planalto. Porém, permaneci inquieto e decidi ir até o palácio", completou G. Dias.

Após se deslocar ao Planalto, G. Dias contou aos parlamentares que questionou Penteado por que os oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) não fizeram um bloqueio na frente do palácio. No entanto, o número 2 do GSI não respondeu.

"O general Penteado, que não deu resposta à minha pergunta, saiu para montar o bloqueio de proteção, porque dei-lhe a ordem (...) liguei então para o general (Gustavo Henrique) Dutra, que era o comandante do Planalto. Pedi a ele que mandasse de imediato para o Palácio do Planalto todo o reforço que tinha em mãos. Quando desliguei, olhei na direção da rodoviária e vi manifestantes começando a descer a pista do Ministério da Justiça. Assisti ao último bloqueio da PM ser rompido", ressaltou.

Os distritais, então, mostraram as imagens vazadas e posteriormente divulgadas pelo próprio GSI — no comando do ex-interventor Ricardo Cappelli —, com G. Dias transitando normalmente entre os manifestantes, sem manifestar qualquer reação contra bolsonaristas inconformados com o resultado das urnas em outubro do ano passado. O general respondeu que tinha vontade de reagir e confrontar os manifestantes, mas que estava à paisana e desarmado.

"Havia saído de casa sem saber que tipo de situação encontraria e jamais esperei encontrar aquela situação 'morrer se preciso; matar, nunca!'. Era o lema do Marechal Cândido Rondon, um dos patronos do Exército Brasileiro. É meu lema", contou. "Concentrei-me em retirar os vândalos do palácio o mais rápido possível. De preferência, claro, sem baixas e sem confrontos sangrentos. Só havia uma forma de fazer aquilo: de cima para baixo. Dei esta ordem aos oficiais que estavam no palácio. Era preciso alcançar o 4º andar do prédio, o último, e descer evacuando os manifestantes. Isso foi feito", explicou.

No entanto, confrontado novamente pelos distritais com a exibição do vídeo, o general enfatizou que as imagens vazadas de dentro do Planalto — o que motivou o pedido dele de demissão — foram "imprecisas" e "desconexas". Ele refutou as declarações de que deu água para manifestantes. "Existe uma narrativa de que eu facilitei, ou deixei por facilitar (a invasão no Planalto). Naquela imagem de um major servindo água, e eu do lado. A imagem foi gravada às 15h59, e a minha foi às 16h30. A defasagem foi de 30 minutos. Eu não estava junto dele. Eu não servi água. Eu não fui conivente com o que estava acontecendo", assegurou.

Planejamento

Às vésperas do 8 de janeiro, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) e outros órgãos responsáveis pela segurança, trânsito e limpeza da Esplanada dos Ministérios confeccionou o Protocolo de Ações Integradas (PAI). Conforme revelado pelo Correio dias após os atos, o GSI não esteve na reunião. À CPI, G. Dias foi além: afirmou que o convite da pasta da Segurança não chegou. "A SSP realizou uma reunião em 6 de janeiro, com diversos órgãos e setores encarregados da segurança e prevenção de distúrbios na Esplanada, e não convidou o GSI para se integrar. Isso é público e já foi dito e descrito em reportagens", revelou.

"Dia 6, portanto, já havia encaminhado para encerrar o expediente no Palácio do Planalto. Telefonei para o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha. Troquei ideias genéricas sobre a segurança palaciana. Não falamos de nenhum esquema especial sobre o dia 8, porque não havia nenhuma informação que nos indicasse que ocorreria o que ocorreu", completou o general.

O militar, por fim, disse que, se GSI estivesse na reunião do dia 6 de janeiro, tudo teria sido diferente. Ele criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por não ter agido para acabar com o acampamento em frente ao quartel general do Exército. "Entre os dias 2 e 6 de janeiro, alguns ministros tomaram posse em seus cargos, medidas provisórias foram enviadas ao Congresso Nacional, parlamentares, governadores, chefes de Estado e integrantes dos Três Poderes circularam normalmente por Brasília. Não houve um único conflito de segurança capaz de chamar a atenção do público", disse aos distritais.

"Permanecia, contudo, a situação embaraçosa dos acampamentos de partidários do ex-presidente (Jair Bolsonaro) diante do quartel general do Exército: algo que não deveria ter sido permitido, e o foi. O governo que assumiu, herdou a situação. Ela era incômoda, ilegal. Seja no governo, seja no comando das Forças Armadas e das forças federais de segurança, estávamos decididos a pôr fim àqueles acampamentos", completou o general.

Antes de os distritais ouvirem o ex-chefe do GSI, foi aprovado o requerimento, por unanimidade, o convite para o depoimento do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. O ex-governador do Maranhão deve ser ouvido somente após o recesso parlamentar.

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Frase

"Assisti ao último bloqueio da PM ser rompido"

"Eu não servi água. Eu não fui conivente com o que estava acontecendo"

"O governo que assumia herdou a situação (os acampamentos). Ela era incômoda (...) Estávamos decididos a pôr fim àqueles acampamentos"

 

Depoimento

» Dia 29/6: Alan Diego dos Santos e George Washigton de Oliveira Souza. Os dois são acusados de tentar tentar explodir um caminhão-tanque no Aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro do ano passado. Ambos teriam planejado o crime no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército. O plano foi frustrado porque o gatilho falhou ao ser acionado.

Além deles, o blogueiro Wellington Macedo de Souza, que já exerceu um cargo no Ministério da Mulher, da então ministra Damares Alves, participou do crime. No entanto, Wellington está foragido.

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