Atos golpistas

Coronel que alertou Torres sobre 8/1 assume chefia de comunicação da PMDF

Logo após deixar a Subsecretaria de Inteligência da SSP, coronel Jorge Henrique da Silva Pinto assumiu cargo estratégico no Departamento de Operações da PMDF. Ele foi responsável por relatório que apontava risco nas manifestações

Pablo Giovanni
postado em 16/06/2023 20:25 / atualizado em 19/06/2023 13:37
 (crédito: Rinaldo Morelli/CLDF)
(crédito: Rinaldo Morelli/CLDF)

O coronel Jorge Henrique da Silva Pinto, ex-coordenador da Subsecretaria de Inteligência, responsável por confeccionar um relatório que servia para assessorar o então secretário Anderson Torres, no qual apontava o potencial risco das manifestações de 8 de janeiro, na Praça dos Três Poderes, deixou o cargo estratégico no Departamento de Operações (DOP) e assumiu a chefia de comunicação da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).

Jorge Henrique depôs à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos em 30 de março. Na comissão, o oficial detalhou que enviou alertas, na véspera dos atos do 8 de janeiro, nos grupos de WhatsApp. Ele confrontou uma versão do depoimento de Torres à PF, quando o ex-secretário disse que a inteligência da pasta o municiava de informações estratégicas, mas que não foi informado dos movimentos para os atos.

"A princípio, ele estava no grupo Difusão. O alcance desse grupo era exatamente o secretário de Segurança Pública. Se ele não estava exercendo (o cargo), o destinatário dessas informações (da inteligência) seria o secretário-executivo", garantiu o coronel.

À CPI, o coronel esclareceu que a inteligência exerce duas funções: suporte ao secretário da pasta para tomada de decisões — no âmbito da inteligência — e assessoramento a todas as outras subsecretarias. Sem acompanhamento de um advogado, o policial pontuou que todos os monitoramentos foram repassados aos superiores. Na data, segundo o coronel, quem respondia pela SSP-DF era o então secretário-executivo Fernando de Sousa Oliveira, que, no início do mês, apontou Anderson Torres como responsável pelo órgão.

"Tivemos dois momentos de repasse de informações. O primeiro, quando foi elaborado um relatório de inteligência mais completo e, o segundo, depois da criação da cédula, quando foram estabelecidos os grupos (no WhatsApp). Todo o tipo de conhecimento, dado ou informação relativo aos eventos, foi repassado no grupo. Esse grupo permitiu que elaborássemos essas informações que chegaram ao secretário-executivo. Todas as informações que chegaram a ele (Fernando), também iam para s outros órgãos que faziam parte dos grupos", disse.

O coordenador de inteligência explicou que, dentro da SSP, não tinha o entendimento do que poderia ocorrer naquele fim de semana dos atos de 8 de janeiro, mesmo com as convocações de apoiadores de Jair Bolsonaro nas redes sociais, para a "tomada do Poder". Ele contou que, até sexta-feira (6/1), havia entre 250 a 300 pessoas e que esse quantitativo não seria suficiente para enquadrar a manifestação como "de risco".

"Não sei de que forma os tomadores de decisão entenderam os meus alertas. A inteligência produz conhecimento e ajuda no processo decisório. Quem decide não é a inteligência", esclareceu. "A inteligência se presta à obrigação de informar ao decisor. Se essa informação chega ao decisor, é o mais importante. No caso da SSP, chegou", finalizou.

O coronel deixou o cargo de coordenador da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) em 1 de março, e assumiu a função de subchefe de Operações, cargo estratégico dentro do Departamento de Operações (DOP) da PMDF — o mesmo setor apontado como crucial para os ataques do 8 de janeiro — em 14 de março. Agora, Silva Pinto assumiu a função de chefe do Centro de Comunicação Social da corporação. O oficial tomou posse ao lado de comandantes de outros departamentos da PMDF, na manhã desta sexta-feira (16/6).

Relatório

Relatório da Subsecretaria de Inteligência da SSP-DF emitido no dia 6 de janeiro — dias antes dos atos golpistas de 8 de janeiro —, apontou que a área da inteligência fez um alerta sobre a convocação dos atos. O documento alertou que Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs) queriam “sitiar Brasília”. O relatório, divulgado pelo Correio, foi emitido pela equipe do coronel no mesmo dia em que Anderson Torres viajou aos Estados Unidos.

No documento, elaborado pela Subsecretaria de Inteligência da SSP, responsável por assessorar o então secretário sobre possíveis tomadas de decisões, a área da pasta emitiu alertas sobre os atos do fim de semana de 8 de janeiro.

“Circula divulgação sobre a realização dos atos, em Brasília, entre os dias 6 e 8 de janeiro, com vinda de caravanas de outros estados, em oposição ao atual governo federal. Em desdobramento, a partir do dia 9 de janeiro, estaria prevista a realização de uma 'greve geral'. Entre as eventuais ações estariam invasão a órgãos públicos e bloqueio em refinarias e/ou distribuidoras e combustíveis”, citou o resumo do documento enviado pela inteligência.

A inteligência relatou que, em 5 de janeiro, verificou situações que dariam início ao potencial ataque às sedes dos Três Poderes, como estacionamento de terra com acesso bloqueado e com quatro tendas; recolhimento de material pelos militares em tendas desocupadas; e presença de cerca de 100 pessoas em frente do Quartel-General do Exército. Esses monitoramentos foram feitos por meio de drones. “Em que pese a mencionada desmobilização, nota-se convocação para novas mobilizações pelas redes sociais e previstas para ocorrer em Brasília contra o atual governo federal”, destacou o documento.

Os investigadores apontaram que ocorreriam manifestações de oposição contra o atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre os dias 6 e 8 de janeiro. A convocação, intitulada “Tomada de Poder pelo povo”, previa a invasão, inicialmente, do Congresso Nacional. Os organizadores, segundo o monitoramento da inteligência, eram autodenominados “patriotas”. Além deles, os integrantes do movimento também seriam ligados ao agronegócio e caminhoneiros.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação